Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

#12 O PETRÓLEO: O caso do ouro negro

Vilão ecológico, o combustível fóssil deixará de ser o mais precioso recurso econômico. Antes disso, o Brasil tem uma última janela de oportunidade

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 17h08 - Publicado em 21 set 2018, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Ocaso do ouro negro
    TEMPESTADE NO DESERTO - Vazamento em poços no Kuwait, em 1991: o óleo como arma de guerra e paz (Per-Anders Pettersson/Getty Images)

    Entre o fim da II Guerra e o início dos anos 1970, a abundância de petróleo ajudou a criar a ideia de que viveríamos uma era de progresso ilimitado. Dos foguetes que levaram o homem à Lua à aviação a jato, o planeta enxergava nessa indústria uma fonte infinita de riquezas. A festa foi abruptamente interrompida em 1973, quando os países árabes responsáveis pela produção de petróleo aumentaram o preço do barril em 400%. Além do pandemônio provocado pela súbita escassez do produto, o cenário fez ruir a ideia de que a commodity bancaria nossos avanços civilizatórios eternamente. Atordoados com a encrenca econômica e social, cientistas e políticos passaram a repetir o mantra de que a humanidade encontraria novas fontes de energia. E que, em no máximo cinquenta anos, nossa dependência seria eliminada. O prazo foi postergado, década após década. Agora, pela primeira vez, a profecia está prestes a se materializar.

    Os motivos, na verdade, são completamente distintos dos cogitados no passado. Ao longo do século XX, analistas de risco previam que a cadeia fornecedora poderia colapsar como resultado de um conflito armado. Foi o que esteve próximo de acontecer durante a Revolução Iraniana, que em 1979 provocou um segundo choque nos preços. E na Guerra do Golfo Pérsico, em 1990, quando o Iraque invadiu o Kuwait e dali foi expulso por forças americanas. Apostava-se também no esgotamento dos estoques na natureza em decorrência de novos mercados consumidores, como a China e a Índia.

    A derrocada do petróleo, no entanto, não virá pela falta do produto em si. Há estoques para os próximos 48 anos. Além disso, foram abertas outras rotas de produção (incluídos aí o pré-sal brasileiro e as areias betuminosas do Canadá). A mudança inédita está sendo imposta pelas condições climáticas. A subida inequívoca dos termômetros desatou uma corrida tecnológica por novas fontes. E ela vem se acelerando. Principalmente após nações firmarem acordos climáticos internacionais, como o de Paris, em 2015. Nele, 195 países, à exceção dos Estados Unidos, comprometeram-se a conter o aquecimento global para, no máximo, 2 graus. Pelo entendimento, o consumo mundial de óleo deverá cair drasticamente já a partir de 2020. A resposta da iniciativa privada tem sido lenta, mas progressiva. Montadoras famosas por produzir carros beberrões, como a Chevrolet, iniciaram a venda de automóveis elétricos.

    A cesta de matérias-primas utilizadas para mover a produção econômica também mudou. Em 1973, ano em que o cartel árabe fez com que o preço do barril disparasse, o petróleo respondia por 46% da demanda mundial de energia. Quatro décadas depois, a participação havia caído para 31%. O gás natural, bem menos poluente, saiu de um uso risível e já supre 21%. E as fontes renováveis, como eólica e solar, que antes nem sequer existiam, alcançam hoje 1% e devem ter crescimento vertiginoso nos próximos anos.

    Continua após a publicidade

    O sobe e desce do preço do petróleo nos últimos cinquenta anos afetou profundamente o Brasil. Seu encarecimento fez a dívida externa saltar de 17,2 bilhões de dólares, em 1974, para 43,5 bilhões de dólares, quatro anos depois. Com a economia corroída pela estagflação, os generais da ditadura militar decretaram moratória da dívida em 1982 — e deixaram Brasília pela porta dos fundos. Por outro lado, o país investiu em tecnologias inovadoras, que possibilitaram a prospecção submarina pela Petrobras. As reservas encontradas no litoral tornaram a estatal um colosso avaliado em 230 bilhões de reais. Em 2006, pesquisadores localizaram reservas nas profundezas abissais do Oceano Atlântico, chamadas de pré-sal. Com potencial de gerar lucros estimados em 10 trilhões de dólares, o pré-sal teve sua exploração adiada durante os governos de Lula e Dilma Rousseff. A isso, somou-se uma série de desvios financeiros, que minaram a capacidade de inves­timentos da Petrobras. Agora, a reconstrução da estatal e a quebra do monopólio no setor podem alterar esse cenário. “O pré-sal vai acontecer. Teremos, no entanto, de fomentar outras fontes. O petróleo pode se tornar um produto obsoleto antes do que se imagina”, alerta David Zylbersztajn, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo. Para não perdermos esta que pode ser a última janela de oportunidade, seria bom correr logo com isso.

    Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

    a partir de 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.