Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

A realidade é suja: por que cresce a procura por geradores movidos a combustível fóssil

As sucessivas crises energéticas estão por trás da tendência, em afronta ao zelo com a limpeza e o futuro do planeta

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 out 2024, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Saúde e segurança sempre foram temas centrais de eleições, principalmente quando a gestão de metrópoles está em jogo. Na reta final da campanha à prefeitura, contudo, a disputa em São Paulo foi monopolizada por uma questão que nunca havia sido tão iluminada: o fornecimento de energia elétrica. Faltando pouco mais de quinze dias para o segundo turno, uma chuvarada deixou 3 milhões de moradias no escuro, como se a capital fosse a Havana dos apagões.

    arte geradores

    Nem todos os paulistanos, porém, que explodiram em desconforto contra a Enel, a operadora local, e a inépcia das autoridades, que resultou em árvores caídas a cortar a fiação, viveram o apagão da mesma maneira. Nos condomínios de luxo, mesmo com a interrupção do fornecimento, a luz foi sustentada por geradores movidos a combustível fóssil — solução que em passado recente era comum apenas para manter serviços essenciais, como hospitais e farmácias.

     

    Não há estatística do atual crescimento no uso de geradores particulares, mas alguns dados revelam a expansão do negócio. Segundo a Neotrust, companhia de estudos de varejo digital, a procura pelos barulhentos aparelhos cresceu nove vezes entre os dias 12 e 16 de outubro. A maior parte dos geradores adquiridos (72,2%) funcionava a gasolina, enquanto 23% eram alimentados por diesel. No ano passado, em todo o país, as vendas cresceram 150%.

    ESSENCIAL - Força extra na Santa Casa, em São Paulo: garantia de atendimento
    ESSENCIAL - Força extra na Santa Casa, em São Paulo: garantia de atendimento (Rovena Rosa/Agência Brasil)
    Continua após a publicidade

    Existe uma relação direta, por óbvio, entre o tempo que as empresas demoram para restabelecer o funcionamento do sistema elétrico e o consumo de geradores. Em São Paulo, 100 000 clientes permaneciam sem energia depois de cinco dias da tempestade. Neste ano, a capital paulista teve seis apagões, sendo dois de grande escala. As interrupções na entrega de energia explodiram também no Norte e no Nordeste. Eventos climáticos extremos, como as altas temperaturas, causaram elevação tamanha na demanda do uso de aparelhos de ar-condicionado, entre outros eletrodomésticos, que o fornecimento colapsou algumas vezes. As queimadas, tempestades e chuvas intensas também contribuíram para os episódios de queda de energia.

    O problema é crônico e preocupante, visto que as capitais brasileiras estão cada vez mais adensadas. Em 2023, por exemplo, o brasileiro ficou em média nove horas e 36 minutos no escuro, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica — os dados de 2024 estão sendo compilados. É problema antigo, desdenhado com insistência. Lembre-se que, em 2000, foram dezoito horas e 46 minutos sem luz. O que fazer, se as soluções não chegam? O jeitinho brasileiro, ainda que resulte em evidente passo atrás no necessário cuidado ambiental (veja a comparação de três modelos de geradores no quadro).

    arte geradores

    Continua após a publicidade

    Foi o caso de um conjunto de seis prédios no bairro exclusivíssimo de Vila Nova Conceição, próximo ao Parque Ibirapuera, região conhecida por ter o metro quadrado mais valorizado da cidade. “Nele, ninguém admite ficar sem ar condicionado”, diz a síndica profissional Camila Indes, responsável pelo bom funcionamento dos edifícios. A empresa na qual Indes trabalha zela por outros seis conjuntos residenciais nas redondezas, todos salvos pelos motores. Conselheiro de um edifício construído em 1970, na Vila Mariana, o médico Antônio Júlio da Costa, de 71 anos, expandiu a energia produzida pelo gerador do prédio nas áreas comuns para os apartamentos. A administração do edifício chamou um engenheiro especializado para checar se sobrava energia. De fato, havia estoque suficiente para abastecer os 24 apartamentos, com 180 metros quadrados cada um. O problema foi resolvido com uma obra de infraestrutura, que custou 2 500 reais por proprietário. Hoje, quando a luz acaba, a vida ali continua igual. “Os moradores até esquecem que estão pagando o diesel”, diz Costa. Prédios autossuficientes como esse, que ficaram três dias sem luz, gastam até 10 000 reais de combustível. Mas até mesmo o cheiro típico de escape de caminhão vira detalhe diante do conforto.

    HISTÓRIA - Carvão foi peça-chave na Revolução Industrial: sujeira no ar
    HISTÓRIA - Carvão foi peça-chave na Revolução Industrial: sujeira no ar (SSPL/Getty Images)

    Responder à crise energética com soluções ambientais nocivas não é prerrogativa do Brasil. A Alemanha, por exemplo, que chegou a 60% de fontes energéticas renováveis, foi obrigada a reabrir as usinas de carvão para compensar o corte do fornecimento do gás natural russo, depois do início dos ataques de Putin contra a Ucrânia. Outros países da União Europeia também voltaram temporariamente ao combustível fóssil mais nocivo. O carvão foi peça-chave para a Revolução Industrial decolar na Inglaterra, no século XIX, mas em um mundo que precisa urgentemente limitar o aquecimento em 1,5 grau, seria mais útil que ficasse enterrado no passado. A realidade é suja.

    Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.