Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Aquecimento global derrete solo do Ártico e traz à tona lixo tóxico

Altamente perigosos, materiais estavam soterrados há anos

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h38 - Publicado em 14 Maio 2023, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Por volta de 320 a.C., o geógrafo grego Píteas foi teoricamente o primeiro homem a chegar ao Ártico. Embora se trate de um registro distante e incerto, ele representa o caráter da relação que os humanos estabeleceram com o círculo polar — Píteas, afinal, estava em busca de minas de estanho. Durante o século XX, a corrida de ouro voltou os olhos do mundo para a região e, mais tarde, a descoberta de enormes reservas de minerais, petróleo e gás natural promoveu a invasão de terras que, até aquele momento, eram habitadas apenas por populações indígenas. Desde então, Canadá, Estados Unidos e Rússia exploram ostensivamente o local. O solo gelado garantiu uma fonte abundante de energia, mas trouxe um problema de iguais proporções. Descartar corretamente o lixo industrial exigiria grandes viagens e uma quantidade generosa de dinheiro. Numa região pouco populosa e sem fiscalização, a solução pareceu óbvia: simplesmente enterrar os rejeitos, que ficariam congelados para sempre. Com o ritmo acelerado do aquecimento global, a facilidade se transformou em uma bomba que está prestes a explodir. E que ninguém até agora sabe como desativar.

    GELEIRA - Paraíso ameaçado: temperatura da região aumenta rapidamente
    GELEIRA - Paraíso ameaçado: temperatura da região aumenta rapidamente (HenriVdl/iStock/Getty Images)

    Um grupo de cientistas do instituto alemão Alfred Wegener passou os últimos anos investigando o tamanho da enrascada. O que descobriram foi estarrecedor: entre 13 000 e 20 000 polos de contaminação estão espalhados pelo Ártico e pelo menos 3 500 deles permanecem soterrados em regiões do permafrost — um tipo de solo local — que se tornarão progressivamente mais instáveis com o passar dos anos. Isso ocorre porque, se nos continentes mais populosos a emergência climática acende um sinal de alerta, no Ártico o perigo é ainda maior. À medida que o gelo derrete, quantidades imensuráveis de gás carbônico são liberadas na atmos­fera, enquanto a energia solar, antes refletida pelo branco intenso, aquece as águas escuras do oceano. O fenômeno físico gera um ciclo que faz com que a temperatura na região aumente num ritmo quatro vezes maior que no restante do mundo. Como resultado, o permafrost, antes intransponível, se torna mais permeável, e o lixo escondido nele, cada vez menos protegido.

    RISCO - Permafrost: o perigo permaneceu oculto debaixo do solo durante anos
    RISCO - Permafrost: o perigo permaneceu oculto debaixo do solo durante anos (Alexander Grir/AFP)

    Os combustíveis representam quase a metade dos resíduos escondidos, mas estão longe de ser o maior problema. A outra porção é distribuída em componentes que ninguém gostaria de encontrar no quintal de casa, como arsênico, mercúrio e rejeitos radioativos. O maior perigo, contudo, é o que há de desconhecido. Pelo menos 10% de todos os resíduos são classificados como incertos e podem carregar, literalmente, qualquer coisa. “Se você não sabe o que é, pode ser algo inócuo ou um supertóxico”, afirmou a VEJA Moritz Langer, professor associado da Universidade Livre de Amsterdã e membro do instituto alemão que fez o levantamento.

    Continua após a publicidade

    arte Ártico

    Os danos ambientais seriam, de fato, incalculáveis. Segundo especialistas, derivados de petróleo se infiltrariam de maneira permanente no ecossistema, metais pesados contaminariam peixes e o lixo radioativo seria transportado para bem longe pelos rios e oceanos. Os problemas não param por aí. Apesar dos números assustadores de polos contaminados, eles podem estar consideravelmente subestimados, porque os registros não são atualizados pelos governos e a fiscalização é quase inexistente. Além disso, até agora ninguém se mobilizou para remover o lixo tóxico do Ártico, um trabalho que se tornará mais difícil à medida que o solo gelado fica mais frágil e menos capaz de suportar grandes maquinários. “O problema do derretimento do permafrost é subestimado”, afirmou Luigi Jovane, doutor em geofísica e geologia e professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. A questão não é se, mas quando a bomba explodirá. Se isso ocorrer, o planeta inteiro ficará seriamente ameaçado.

    Publicado em VEJA de 17 de maio de 2023, edição nº 2841

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.