Aquecimento global pode atingir limite crítico de 2 °C até 2030, diz agência da ONU
Aquecimento acima de 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais deve se tornar cada vez mais comum

A humanidade está cada vez mais próxima de cruzar um novo limiar do aquecimento global.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), existe a possibilidade de que, entre 2025 e 2029, a média anual de temperatura do planeta chegue pela primeira vez a quase 2 °C acima dos níveis pré-industriais, um marco preocupante que pode provocar efeitos em cascata em escala global.
A projeção indica que a média global entre 2025 e 2029 deve variar entre 1,2 °C e 1,9 °C acima da referência histórica de 1850 a 1900, com grande chance de ultrapassar o limite de 1,5 °C, considerado crítico pelo Acordo de Paris.
Embora essa possível ultrapassagem seja pontual, já que a meta do tratado climático considera médias ao longo de pelo menos duas décadas, especialistas alertam que a frequência desses episódios tende a se tornar comum.
“Ano passado ultrapassamos os 1,5 °C pela primeira vez. Agora, isso já está se tornando corriqueiro”, afirmou Adam Scaife, do Centro Hadley, ligado ao Met Office britânico. “A simples possibilidade de um ano alcançar os 2 °C era impensável até pouco tempo atrás”, completou.
Um planeta em transformação
O avanço acelerado do aquecimento global se dá num momento em que os níveis de CO₂ atmosférico atingem a maior concentração em pelo menos 800 mil anos.
Os modelos climáticos da OMM, desenvolvidos com dados de instituições como o Barcelona Supercomputing Center, o Centro Canadense de Modelagem Climática e o Serviço Meteorológico Alemão, indicam que a maior parte do planeta enfrentará temperaturas superiores à média de 1991–2020 nos próximos cinco anos.
Além disso, a previsão inclui aumento nas chuvas em regiões de altas latitudes do hemisfério norte, como norte da Europa, Sibéria e Alasca, e condições mais secas em partes da América do Sul, incluindo a Amazônia, o que pode agravar a perda de biodiversidade e o risco de incêndios florestais.
O aquecimento no Ártico, por sua vez, segue acelerado, com tendência de atingir até 2,4 °C acima da média recente, mais do que o dobro do aquecimento médio global.
Calor extremo e impacto humano
Com temperaturas em elevação, os efeitos para a população mundial são crescentes.
Um estudo paralelo conduzido pelas organizações World Weather Attribution, Climate Central e Cruz Vermelha aponta que o aquecimento global já acrescentou, no último ano, um mês inteiro de calor extremo para 4 bilhões de pessoas.
Em comparação com um mundo sem mudanças climáticas, o número de dias perigosamente quentes mais que dobrou.
As nações mais afetadas por essas ondas de calor são, em sua maioria, pequenos Estados insulares e países em desenvolvimento, que também são os que menos contribuíram para a crise climática.
Caso ocorra um pico de temperatura acima dos 2 °C em algum ano até 2029, possibilidade que a OMM estima em cerca de 1%, isso poderá estar ligado a um episódio intenso de El Niño, o fenômeno natural de aquecimento das águas do Pacífico.
Até o momento, porém, não há sinal claro da ocorrência nem de El Niño nem de sua contraparte, a La Niña.
“Existe uma pequena chance de que nos próximos anos o aquecimento acelere de forma muito rápida. Não é o que ninguém deseja, mas é o que a ciência está nos mostrando”, alertou Leon Hermanson, pesquisador sênior do Met Office.
Brasil no centro das discussões
Esse cenário de alta probabilidade de que a meta de 1,5 °C seja superada, mesmo que temporariamente, deve colocar ainda mais pressão sobre a COP30, conferência climática da ONU que será realizada em 2025 em Belém, no Pará.
O evento será crucial para os países apresentarem suas metas intermediárias de redução de emissões até 2035.
Além disso, a COP discutirá mecanismos de financiamento climático para países em desenvolvimento, adaptação às mudanças já em curso, proteção de florestas tropicais e transição energética justa, temas particularmente urgentes diante da previsão de mais calor, menos chuvas em regiões-chave e aumento da vulnerabilidade social e ambiental.
A vice-secretária-geral da OMM, Ko Barrett, reforça que a década mais quente já registrada não deve ser um pico isolado.
“Não há sinais de trégua nos próximos anos. Isso significa que os impactos negativos sobre nossa economia, nossa saúde, nossos ecossistemas e nosso planeta vão se intensificar.”