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Cartão-postal na selva: o exemplo de sustentabilidade da Ilha do Combu

Chocolate orgânico e turismo fazem do local uma vitrine das possibilidades de uma economia sustentável dentro da Floresta Amazônica

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 ago 2025, 08h00

Centro das atenções do governo, desde que foi escolhida como sede da COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Belém recebeu quase 90 milhões de reais para arrumar a casa e impressionar bem os convidados internacionais. Apesar dos esforços direcionados à recuperação e preservação das edificações históricas, um dos maiores atrativos turísticos e culturais da segunda capital mais populosa do Norte do país está na sua porção insular. A dez minutos do continente, a Ilha do Combu é a vitrine de uma vida ribeirinha próspera e economicamente sustentável no meio da floresta.

Ao sair da costa, o turista ganha o passaporte para uma experiência única, muito distante dos resorts de luxo construídos na selva, perto de Manaus. Combu permite a imersão em uma cultura ribeirinha simples e autêntica. As casas ficam no alto das palafitas de madeira, que possuem grandes alpendres e redes penduradas. Com o tamanho da cidade de Fortaleza, o território é ocupado quase que essencialmente pela Floresta Amazônica, ainda intocada. As casas e os sítios ficam ao longo das bordas, onde trinta estabelecimentos comerciais, entre bares, restaurantes e hotéis, foram surgindo ao longo do tempo.

DEGUSTAÇÃO - Macron, Lula e Raoni: passeio pelas fábricas de chocolate
DEGUSTAÇÃO - Macron, Lula e Raoni: passeio pelas fábricas de chocolate (Ricardo Stuckert/PR)

Desde 1997, a ilha virou Área de Proteção Ambiental e abriga pelo menos 600 famílias, que sobrevivem da pesca e, mais recentemente, do cacau e do turismo. “Quem vem pela primeira vez fica impressionado, porque só entende que Belém faz parte da Amazônia quando chega aqui”, diz Prazeres Quaresma dos Santos, dona do restaurante sustentável Saldosa Maloca (assim mesmo, com “l”).

Localizado na esquina do encontro de dois rios, o Guamá e o Combu, do alpendre do restaurante os clientes enxergam, de um lado, o horizonte com um amontoado de arranha-céus da capital e, de outro, a mata verde, recortada pelas águas tomadas de canoas coloridas — que fazem parte do sistema de transporte, exclusivamente fluvial. Ouve-se apenas o barulho de passarinhos, araras e tucanos. A Amazônia tem mais de 1 300 espécies de aves catalogadas. Ali, fica claro que Belém é de fato a porta de entrada para o pulmão do mundo.

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Apesar de ser um tesouro natural, a ilha ganhou fama no ano passado, quando o presidente francês, Emmanuel Macron, esteve na capital paraense para ver os preparativos da COP30. A convite do presidente Lula, deu uma esticada até Combu, em companhia do cacique Raoni, a fim de conhecer a produção de chocolates, feita a partir das sementes do cacau nativo, desenvolvido com técnicas agroflorestais orgânicas — ou seja, sem defensivos e devastação de área verde. “Trabalhamos com cacau puro e açúcar orgânico, sem adição de conservantes e corantes”, diz Izete Costa, mais conhecida como Dona Nena, até mesmo entre chefs estrelados da gastronomia nacional. Alex Atala, Rodrigo Oliveira e Roberta Sudbrack estão na lista de clientes da Filha do Combu, nome da fábrica que Nena montou na ilha e já tem loja no centro de Belém.

mapinha Combu

Macron saiu de lá com uma cesta cheia de iguarias com sabores exóticos, como brigadeiros da floresta e bombons pé de moleque, de cappuccino e de cupuaçu. Independentemente do sabor, o gosto do cacau é intenso, com porcentagem mínima de 50% de concentração, uma qualidade apreciada pelos franceses, acostumados com o chocolate gourmet intenso. A Filha do Combu funciona também como um empório. Reúne produtos regionais de outros parceiros, como licores e doces caseiros de frutas típicas amazônicas, como o já internacional açaí, o bacuri (com sabor agridoce) e o taperebá (também chamado de cajá). No início dos anos 2000, a região abrigava três fábricas de chocolates. Agora tem setenta.

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Mas até o paraíso sofre com problemas. A ilha não tem saneamento básico e o crescimento do turismo aumentou o desafio. Todos os dejetos vão parar nos rios, sem tratamento. A comunidade local procura divulgar boas práticas, nem sempre respeitadas por turistas e novos investidores. Muitas vezes, ignoram orientações de compostagem do lixo e a lei do defeso, período de restrição da pesca. O local precisa de mais fiscalização e infraestrutura, para que o crescimento continue sustentável e não ameace o brilho do tesouro de Belém.

Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2025, edição nº 2958

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