Referência na vigilância dos principais biomas do país, o MapBiomas apresentou nesta terça-feira, 28, o relatório anual do desmatamento. A boa notícia é que a devastação da Amazônia caiu 62,2%, nos últimos cinco anos. A tendência de elevação foi invertida de fato no ano passado, quando a área suprimida caiu para um terço. Em 2022 o desmatamento era de 1,2 milhões hectares – que corresponde a área de meio estado de Sergipe – e foi para 454 271, em 2023. O registro confirma que os esforços do atual Governo de aumentar a fiscalização e vigilância surtiram efeito na região.
Em contrapartida, agora a má notícia: nos últimos cinco anos o desmatamento do Cerrado subiu 67,7% e no Pantanal, 59,2%. É a primeira vez, desde o início da monitoração do MapBiomas, que houve predomínio de supressão de formações savânicas (54,8%), seguida das florestais (38,5%). De acordo com as análises dos especialistas da entidade, isso se deve principalmente à pressão do crescimento do agronegócio, em especial em Matopiba, região predominantemente de cerrado formada pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, estados fortes na pecuária e agricultura, desde a década de 1980. Ali, o desmatamento cresceu 59% apenas no último ano. “Diferentemente da Amazônia, o desmatamento é autorizado”, explica o pesquisador Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. O controle fica mais fácil nos casos de supressão ilegal.
Isso se deve à regulação do Cerrado, que exige que apenas 20% da vegetação seja conservada. Na Amazônia, 80% das terras de uma propriedade são intocáveis. Dos quatro estados de Matopiba, Piauí foi o único com redução nas áreas devastadas, enquanto Maranhão disparou na devastação, com uma perda de 95,1% de vegetação nativa nos últimos cinco anos, transformando-se no estado com o maior desmatamento do Brasil. No ano passado, estava em quinta posição. O grande salto ocorreu em 2023, quando a área perdida praticamente dobrou se comparada com a de 2022. “Não existe resolução simplista no Cerrado, porque é onde o agronegócio reivindica a expansão”, disse Rosa, à VEJA. Uma das saídas, que poderia ser a mudança de leis, implicaria em um preço muito alto para o bioma.
“Quando começa a discussão de mudança de legislação, há uma imediata aceleração no desmatamento”. Funciona como uma grande corrida pelo ouro, onde cada um quer garantir o seu pedaço, antes que a reserva esgote. Para o especialista, o mais acertado seria criar corredores de comunicação contínuos para garantir a sobrevivência dos animais nativos. Uma alternativa que dá o jogo como vencido, onde os sobreviventes embarcam em uma espécie de arca de Noé para garantir a proliferação das espécies. Nada de errado em lutar por corredores, mas dá para exigir mais dos governos e mesmo dos senhores do agronegócio, principalmente quando a questão também é aquecimento global. Enfim, a atual tragédia do Rio Grande do Sul com as enchentes está aí para lembrar que sem equilíbrio natural, não há cultura agrícola que fique de pé.