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COP30 multiplica mais o discurso verde (do que a prática)

Educadora corporativa enfatiza que evento é uma grande vitrine e muitas empresas pegam carona no marketing sem alinhamento com a realidade

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 ago 2025, 16h45 - Publicado em 5 ago 2025, 14h55

Para se adequar as novas normas ESG, sigla em inglês que representa compromissos com sustentabilidade, responsabilidade e éticas, as empresas que não nasceram prontas para esse mundo corporativo estão se adequando. Algumas investem em formações e treinamento de pessoal para se alinharem. Muitas, no entanto, mudaram apenas o discurso, mas sem adotar de fato novas práticas. Com a aproximação da COP30, fica ainda mais evidente as diferenças. “O evento é uma grande vitrine e muitas empresas aproveitam para fazer marketing”, disse à Veja Mariana Achutti, referência em educação corporativa e CEO da Newnew, empresa que tem foco em aprendizagem. Entre os clientes que ajudou na transformação de cultura estão marcas modernas e conhecidas como Google, Facebook, Globo, O Boticário e Ambev.

A crise climática, que preocupa o mundo, virou um dos assuntos abordados por Mariana dentro das empresas. Mais do que nunca, a sociedade como um todo sabe que tem responsabilidade sobre o meio ambiente. Segundo ela, o aquecimento global não é mais “um tema externo às organizações”. Mas em um ano em que a COP será no Brasil, o evento dá ainda mais relevância às questões do meio ambiente. Abaixo, Mariana conta como tem sido a abordagem nas empresas e como as empresas ESG estão preparando seus líderes e funcionários.

Como a crise climática entra no cotidiano dos funcionários? A crise climática não é um tema “externo” às organizações. Ela já está no micro: na ansiedade com o futuro, na insegurança alimentar nas comunidades de onde vêm nossos colaboradores, no impacto direto sobre modelos de negócios e formas de trabalho. Quando falamos em crise climática, estamos falando sobre o custo humano da inação. É preciso reconhecer que muitos funcionários vivem em territórios vulneráveis, enfrentam extremos climáticos e veem no colapso ambiental não uma manchete, mas um medo cotidiano. Ignorar isso é desumanizar o ambiente de trabalho.

Quais as principais diretrizes de um líder para mostrar que sustentabilidade não é apenas discurso da empresa? Liderar com coerência. A principal diretriz é a integridade entre o que se diz e o que se faz. Um líder que fala de ESG e continua premiando apenas metas financeiras, deslegitima qualquer discurso. É preciso incorporar a sustentabilidade nas métricas de desempenho, na escolha de fornecedores, na política de diversidade e no desenho de produtos. ESG não é PowerPoint, é prioridade estratégica. Liderar com impacto exige coragem de transformar, inclusive, aquilo que parecia intocável.

Ser ESG tem consequências práticas nas escolhas da empresa no que se refere à cadeia de fornecedores, política de RH e consumidor final?Tem — e precisa ter. ESG não é um departamento: é um critério transversal. Na cadeia de fornecedores, isso significa garantir rastreabilidade, condições dignas de trabalho e práticas regenerativas. No RH, significa não apenas cumprir cotas, mas criar sistemas de permanência, pertencimento e desenvolvimento de grupos minorizados. No consumidor final, é reconhecer que ele está mais crítico e atento: 77% dos consumidores esperam que marcas se posicionem ativamente frente às crises sociais e ambientais, segundo dados da Edelman Trust Barometer, de 2023.

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Neste ano de COP, as políticas sustentáveis ganharam mais ênfase no mercado e nas empresas? Sim, mas com uma ressalva: mais ênfase no discurso do que na prática. A COP tem efeito de vitrine, e muitas empresas aproveitam para fazer marketing verde. Mas o que o mercado precisa é de coerência e continuidade. A nova geração de profissionais já reconhece o greenwashing e está atenta às contradições. ESG virou fator de retenção e engajamento — especialmente entre a Geração Z, que prioriza propósito mais do que salário. A pressão está vindo de todos os lados, e é bem-vinda.

Existe uma política de conscientização interna nas empresas? Isso é importante? Se sim, por quê? Em muitas, ainda não. E isso é uma falha crítica. O ESG só ganha corpo se for traduzido em cultura, linguagem e ações internas. A política de conscientização é o que transforma uma diretriz em comportamento. E isso começa pela educação — não só técnica, mas ética e emocional. Treinar é pouco. Precisamos criar ambientes que despertem consciência, responsabilidade e protagonismo. Como eu sempre digo: o futuro do trabalho exige que toda empresa se torne, também, uma escola.

Qual a dica para os líderes nessa época? Assumam sua bússola ética. O tempo do “líder neutro” acabou. A liderança que se omite diante da crise, consente com ela. Liderar hoje é mais do que bater meta — é sustentar coerência, abrir espaços de escuta e influenciar com responsabilidade. E mais: é estar disposto a aprender com humildade, a rever privilégios e a construir futuro com intenção. Como escrevi no meu artigo: coragem, hoje, é continuar caminhando mesmo sem garantias.

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Como as empresas podem preparar seus líderes para um cenário desafiador? Investindo em desenvolvimento humano real. Não adianta mais formar líderes apenas para a performance. É preciso formar para a complexidade. Isso passa por promover curadorias profundas de conteúdo, fomentar práticas de autoconhecimento, oferecer mentoria reversa, estimular leitura crítica de cenário. O líder do futuro precisa saber navegar incertezas com empatia, pensamento sistêmico e compromisso com o coletivo. Formação contínua, conectada ao contexto e às dores do mundo, é o único caminho.

Quais as principais características/habilidades de um líder para tempos de crise? Sete pilares que venho mapeando com profundidade: leitura de cenário com responsabilidade social; agilidade com propósito; senso crítico de priorização; clareza radical (inclusive sobre incertezas); autogestão emocional; escuta ativa para aprendizado contínuo; e coragem de agir com ética, mesmo no chão movediço. Um líder que transforma o mundo de dentro para fora sabe que o impacto começa no seu entorno mais imediato — e reverbera muito além das paredes da empresa.

Leia:

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+https://beta-develop.veja.abril.com.br/economia/as-estrategias-das-grandes-empresas-para-construir-marca-e-responder-as-demandas-esg/

+https://beta-develop.veja.abril.com.br/coluna/veja-gente/autor-explica-desafios-de-esg-em-negocios-empresas-maquiam-as-praticas/

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