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Crise no leite? Calor extremo ameaça derrubar produção global, alertam pesquisadores

Com o avanço das mudanças climáticas, vacas produzem menos leite, e o problema pode se agravar até 2050

Por Ernesto Neves Atualizado em 7 jul 2025, 15h12 - Publicado em 7 jul 2025, 15h02

A produção mundial de leite pode sofrer uma queda significativa nas próximas décadas devido ao aumento da frequência e intensidade das ondas de calor, segundo um novo estudo publicado na revista Science Advances.

Com base em dados coletados ao longo de 12 anos e envolvendo mais de 130 000 vacas leiteiras, os pesquisadores constataram que o calor extremo reduz a capacidade de produção de leite em até 10%.

Apenas uma hora de exposição a uma “temperatura de bulbo úmido”, índice que combina calor e umidade, acima de 26 °C já é suficiente para diminuir em 0,5% a produção diária de leite de uma vaca.

Os efeitos do estresse térmico não se limitam aos dias mais quentes: a produção continua abaixo do normal por até dez dias após o pico de calor, indicam os cientistas das universidades de Jerusalém, Tel Aviv e Chicago.

Com projeções climáticas para 2050, o estudo aponta que, até meados do século, a produção global média de leite poderá cair cerca de 4% devido ao agravamento do estresse térmico.

Essa redução deve impactar especialmente os 150 milhões de lares em todo o mundo que dependem diretamente da pecuária leiteira para subsistência.

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Sul da Ásia será epicentro da crise

A queda na produção deve ser particularmente severa no sul da Ásia, região que deverá responder por mais da metade do crescimento da produção mundial de leite nos próximos dez anos.

À medida que a queima de combustíveis fósseis acelera o aquecimento global, os países da região se tornarão cada vez mais vulneráveis a ondas de calor devastadoras, aprofundando a crise.

Além de serem afetadas pelo calor, as vacas também são parte do problema climático: o gado é responsável por cerca de um terço das emissões humanas de metano, um gás de efeito estufa potente, que acelera o aquecimento global de forma ainda mais agressiva que o dióxido de carbono.

Medidas de adaptação ainda são insuficientes

Em alguns países, como Israel, já estão sendo adotadas estratégias para mitigar os efeitos do calor nas fazendas leiteiras, como sombreamento, ventilação e uso de aspersores para resfriar os animais.

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Apesar disso, os pesquisadores identificaram que, em dias com temperaturas acima de 24 °C, essas técnicas só conseguem reduzir cerca de 40% dos impactos do estresse térmico na produção.

O alerta reforça a necessidade de ações coordenadas que envolvam adaptação tecnológica, bem-estar animal e, sobretudo, o enfrentamento da crise climática, sem o qual até mesmo alimentos básicos, como o leite, poderão se tornar escassos.

Cesta básica em risco

Além do leite, outros alimentos fundamentais para a dieta global estão sob risco crescente devido ao aquecimento do planeta. O café, por exemplo, é uma das culturas mais sensíveis às alterações climáticas.

Espécies como o arábica, responsável por cerca de 60% do café consumido mundialmente, exigem temperaturas estáveis e altitudes elevadas.

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Com o aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas, muitas regiões tradicionais produtoras, como o Brasil e a Colômbia, já enfrentam quedas na produtividade, surtos de pragas e a necessidade de migrar plantações para áreas mais altas e úmidas, o que encarece e dificulta o cultivo.

O cacau, base do chocolate, também corre risco. A maior parte da produção global vem de países da África Ocidental, como Costa do Marfim e Gana, onde as plantações enfrentam o estresse combinado de altas temperaturas, baixa umidade do solo e degradação ambiental.

Segundo estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), áreas adequadas para o cultivo de cacau poderão ser reduzidas drasticamente até 2050, pressionando ainda mais pequenos produtores e elevando os custos do produto final.

Mesmo frutas aparentemente resistentes, como a banana, vêm sendo impactadas. A fruta mais consumida do mundo está sob risco crescente devido ao avanço de doenças como o Mal-do-Panamá, um fungo que prospera em solos quentes e úmidos, cujas condições vêm se tornando mais comuns com o aquecimento global.

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Além disso, eventos extremos, como secas prolongadas e enchentes, têm prejudicado lavouras em países chave como Equador, Filipinas e Índia, comprometendo a oferta global.

Esses exemplos reforçam um alerta central: o impacto das mudanças climáticas no sistema alimentar global não se limita a escassez de alimentos, mas também à perda de diversidade agrícola, à insegurança alimentar e ao aumento de preços para o consumidor final.

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