Governo cria megafundo que promete transformar áreas verdes em ativos financeiros
A poucos meses da Conferência do Clima, a intenção é atrair bilhões de dólares em investimentos
Faltando apenas quatro meses para a Conferência do Clima, a COP30, que será realizada em Belém (PA), o governo brasileiro corre para tirar do papel o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). Apresentado em 2023, na COP28, em Dubai, o mecanismo busca captar 125 bilhões de dólares até 2030 para reverter a destruição de matas tropicais nos países em desenvolvimento. A lógica é simples: cada nação recebe um pagamento fixo por hectare de floresta conservada, garantindo um financiamento estável e previsível. Dada a sua importância, o fundo mobiliza uma força-tarefa para articular apoios políticos e privados e, assim, consolidar o modelo até novembro. Na Cúpula do Brics, no início do mês, no Rio, a China anunciou que vai injetar recursos no projeto. “O TFFF representa uma virada no financiamento ambiental, ampliando de forma expressiva o dinheiro para a conservação”, diz André Aquino, assessor especial do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e responsável por negociar a criação do fundo. “Ele será essencial para o cumprimento das metas climáticas.”
O TFFF pode ser resumido como uma mesada para quem comprovar que preserva a floresta. Países detentores de grandes matas tropicais vão receber 4 dólares por hectare preservado por ano. Parece pouco, mas a cifra faz a diferença em se tratando de áreas grandes. Será preciso comprovar com dados de satélite e auditoria externa que as matas sob proteção estão sendo, de fato, conservadas. Há também punições para quem não cumprir o acordado, como a dedução de 400 dólares por hectare destruído. Espera-se que 20% do fundo venha de doações de governos, enquanto os outros 80% serão captados no mercado financeiro por meio da emissão de títulos verdes. Esses papéis vão pagar juros aos investidores, oferecendo um retorno financeiro estável e seguro, similar a outros títulos de dívida — além do ganho de imagem pela decisão de aplicar recursos em um portfólio que vai ajudar o meio ambiente. O Brasil poderá receber cerca de 5 bilhões de reais por ano para preservar suas florestas, o equivalente a três vezes o orçamento do MMA. “Atrair capital privado é uma estratégia promissora que, somada a instrumentos como os créditos de carbono, pode transformar o cenário econômico e ambiental da Amazônia”, afirma o climatologista Carlos Nobre.
O governo brasileiro já conseguiu o apoio de Alemanha, China, Emirados Árabes Unidos, Noruega e Reino Unido, além do engajamento de outros países tropicais como Indonésia, Congo e Papua-Nova Guiné, para o lançamento do fundo. Ainda não há consenso, porém, sobre como o TFFF vai ser administrado. Além disso, detalhes sobre a emissão dos títulos e o sistema de medição ainda estão sendo desenvolvidos. “Temos capacidade técnica para monitorar a floresta em tempo quase real, com alta resolução”, diz Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, dedicado à agenda climática. “O desafio não é tecnológico, mas político: garantir que os dados usados sejam transparentes, auditáveis e aceitos internacionalmente.”
Nos últimos anos, os instrumentos financeiros para o clima vêm se multiplicando no mundo todo. O mais conhecido é o Fundo Amazônia, que já movimentou 3 bilhões de reais desde a sua criação. Em nível internacional, o Fundo Verde para o Clima, criado pela ONU, enfrenta críticas por ser lento, burocrático e distante das realidades locais. Já o Global Environment Facility (GEF) continua sendo uma das maiores fontes multilaterais para financiamento ambiental, mas opera majoritariamente com projetos de médio e longo prazo.
Em 2024, o estado de São Paulo lançou o Finaclima. Estruturado para captar recursos de doadores internacionais e empresas, tem foco na restauração ecológica, adaptação climática e promoção da bioeconomia. A meta é revitalizar 1,5 milhão de hectares até 2050, o equivalente a 6% do território paulista. “A gestão foi delegada ao Funbio, a mesma instituição que administra o Fundo Amazônia, e o modelo de governança inclui um conselho paritário com representantes do governo, sociedade civil e setor privado”, afirma Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo. Se conseguirem alinhar governança robusta, vontade política e interesse do mercado, os fundos podem inaugurar uma nova era, em que preservar florestas não será mais um custo, mas um investimento estratégico.
Publicado em VEJA de 25 de julho de 2025, edição nº 2954
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