No início de junho, pesquisadores da Universidade de Canterbury, da Nova Zelândia, reveleram que partículas de microplásticos haviam sido encontradas pela primeira vez em neve fresca em regiões da Antártica. O estudo foi publicado no periódico The Cryosphere e mostrou como o continente mais inóspito do planeta está vulnerável às ações da humanidade.
Os microplásticos são partículas de plástico com até cinco milímetros de comprimento. Eles podem ser fabricados neste tamanho, para a composição de roupas ou de cosméticos, ou podem surgir a partir da deterioração de plásticos maiores, como embalagens e sacolas descartáveis.
De acordo com os cientistas, a presença do microplástico na Antártica é preocupante porque o material interfere nas características ecológicas locais, como limitar o crescimento, a reprodução e as funções gerais de organismos, e contribui com problemas globais, pois o microplástico no ar tem o potencial de influenciar a mudança do clima ao acelerar o derretimento de neve e de gelo.
Com o aumento da temperatura do planeta, geleiras e calotas de gelo estão derretendo de forma acelerada. O aumento do nível do mar é uma consequência do derretimento, mas a redução da superfície de neve e gelo no planeta acelera o aquecimento da Terra porque essas áreas refletem a luz solar. Os microplásticos podem fazer com que a luz solar seja absorvida, o que aumenta a temperatura local.
Ainda há poucos estudos sobre os efeitos do microplástico em humanos, mas partículas já foram encontradas na corrente sanguínea e no pulmão de pessoas.
A coleta de amostras foi feita em 2019 pela aluna de pós-doutorado Alex Aves em locais remotos, como na Plataforma de gelo Ross, e em locais com presença humana, como nos arredores da estrada que passa pela estação de pesquisa Scott e pela estação de McMurdo.
“É incrivelmente triste, mas encontrar microplásticos na neve fresca da Antártica destaca a extensão da poluição plástica nas regiões mais remotas do mundo”, disse Alves. “Coletamos amostras de neve de 19 locais na região da Ilha Ross, na Antártica, e encontramos microplásticos em todos eles”.
O estudo encontrou uma média de 29 partículas de microplástico por litro de neve derretida, o que é um índice mais alto do que as concentrações marinhas relatadas anteriormente no Mar de Ross e no gelo marinho da Antártica.
Os microplásticos nos oceanos são uma das principais causas de poluição e de ameaça à biodiversidade marinha.
Para entender como o material foi encontrado em um local tão remoto, os pesquisadores analisaram as possíveis fontes de contaminação. Uma modelagem atmosférica sugeriu que os microplásticos podem ter viajado milhares de quilômetros pelo ar, mas também é provável que a presença de humanos na Antártica tenha estabelecido uma “pegada” microplástica.