Pantanal alagou menos na cheia do que na seca anterior
Estudo inédito do WWF aponta que o bioma passa pelo período mais seco das últimas quatro décadas e deve enfrentar crise hídrica.
As queimadas não são o único problema do Pantanal. A região vive a pior seca já registrada. Como não houve o período de cheias, espera-se uma crise hídrica, justamente na maior extensão alagada de todo o planeta. Nos primeiros quatro meses do ano, quando deveria ocorrer o ápice das inundações, a média de área coberta por água foi menor que a do período de seca do ano passado. A conclusão faz parte do estudo inédito encomendado pelo WWF a empresa especializada ArcPlan, que alerta para possível crise hídrica neste ano.
O diferencial em relação a outras análises é o uso de dados do satélite Planet, que possui uma sensibilidade maior. Isso permitiu o mapeamento das áreas cobertas pelas águas quando os rios transbordam. Foram incluídos dados do MapBiomas, obtidos por meio do satélite LandSat, que apesar de ter menor resolução, possui dados desde 1985; e da régua de Ladário, com o acervo das medidas mais antigas do nível do Rio Paraguai, onde está o Pantanal.
“Ao analisar os dados, observamos que esperado transbordamento das cheias, tão importante para a manutenção do sistema pantaneiro, não ocorreu em 2024”, disse Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil. Isso quer dizer que o bioma tende a secar mais ainda, pelo menos até outubro, quando devem chegar as chuvas. O estudo reforça a necessidade urgente de medidas de prevenção e adaptação à seca e para a possibilidade de grandes incêndios.
Regime de chuvas
Em condições normais do clima, a estação chuvosa ocorre entre os meses de outubro e abril, e a estação seca, entre maio e setembro. De acordo com o estudo, entre janeiro e abril de 2024, a média da área coberta por água foi de apenas 400 mil hectares, em pleno período de cheias, abaixo da média de 440 mil hectares registrada na estação seca de 2023.
Década de 1980 teve cheia recorde
Na década de 80, o Pantanal teve um período mais cheio, com áreas maiores ficando alagadas por
mais tempo. “O que estamos observando agora é que a área alaga, da nas cheias é cada vez menor. Entãotemos mais áreas ficando secas, com as áreas alagadas ficam úmidas por menos tempo. Tudo isso gera instabilidades no ecossistema”, comenta Mariana Dias, analista de geoprocessamento na ArcPlan.
Corumbá registra a maior perda de água
Região mais afetada pelas queimadas, Corumbá se destaca pelos registros da maior perda de água do Pantanal. No período analisado pelo novo estudo, a partir de 2021, o ano com as maiores cheias foi 2023, quando foram registrados cerca de 660 mil hectares de superfície de água. Já os anos 2021 e 2022 tiveram superfície máxima de água de pouco mais de 520 mil hectares durante a estação cheia. Em 2024, a superfície máxima de água foi de apenas 430 mil hectares.