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Primeiro-ministro do Canadá é acusado de ‘traição climática’ após acordo para novo oleoduto

Ao apoiar expansão fóssil em meio a tensões comerciais com os EUA, Carney enfrenta críticas por abandonar políticas verdes do antecessor

Por Ernesto Neves Atualizado em 2 dez 2025, 10h36 - Publicado em 2 dez 2025, 10h00

Em uma guinada que já provoca tensões internas e amplo debate público, o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anunciou no fim de novembro de 2025 um acordo com a província de Alberta para impulsionar a produção e a exportação de petróleo, incluindo o apoio federal a um projeto de oleoduto privado rumo à costa do Pacífico.

O memorando de entendimento prevê, entre outras medidas, a facilitação da construção de um porto de grande profundidade e a possibilidade de ajuste da atual proibição de petroleiros na costa da Colúmbia Britânica, uma mudança que, se concretizada, abriria caminho para exportações diretas a mercados asiáticos e representa um esforço explícito do governo para reduzir a dependência do mercado estadunidense.

A decisão de Carney ocorre num contexto político e económico que o próprio primeiro-ministro descreve como de “pressionamento” sobre a economia canadense, citando, nas palavras oficiais, os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos e a necessidade de diversificar mercados e fortalecer a soberania econômica.

No comunicado do gabinete do primeiro-ministro, o acordo foi apresentado como uma parceria destinada a “libertar recursos naturais”, criar capacidade de exportação e ao mesmo tempo financiar medidas de mitigação de emissões, aposta que combina incentivos à indústria fóssil com instrumentos de precificação e projetos de captura de carbono.

A envergadura política da mudança ficou clara na fria reação dentro do próprio gabinete.

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Steven Guilbeault, ex-ministro do Meio Ambiente no governo de Justin Trudeau e figura-chave nas políticas climáticas anteriores, renunciou ao cargo horas depois da assinatura do acordo, justificando o gesto como uma resposta ao que definiu como “desmonte” de políticas verdes e à insuficiência de consulta a povos indígenas e comunidades costeiras.

A saída de Guilbeault sinaliza não apenas um racha técnico-político, mas também a emergência de um dilema que atravessa partidos, ativistas e setores econômicos sobre até onde o Canadá deve ir para proteger empregos e renda num curto prazo sem comprometer metas climáticas de longo prazo.

Analistas e veículos especializados rapidamente mapearam as medidas concretas previstas no memorando: a revogação ou adiamento de limites de emissões projetados para o setor de petróleo e gás, a dispensa temporária de algumas regras de eletrificação limpa e o compromisso de Alberta em aceitar um regime de preços industriais sobre carbono mais severo.

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Em troca, o governo federal deu sinal verde político para acelerar aprovações e apoiar a viabilidade regulatória do oleoduto. Organizações ambientalistas e publicações independentes classificaram as propostas como um retrocesso significativo na ambição climática do Canadá, observando que o apelo à captura e ao armazenamento de carbono (CCS) é controverso e que grandes projetos de infraestrutura petrolífera continuam a enfrentar resistência jurídica, financeira e social.

Do lado econômico, vozes ligadas à indústria petrolífera defendem o acordo como pragmático e necessário. Representantes do setor apontam que, após anos de projetos cancelados e investimentos adiados, ampliar a capacidade de exportação é crucial para recuperar crescimento e proteger empregos em províncias cuja receita depende fortemente do óleo e do gás.

Para esses atores, a abertura de rotas para mercados asiáticos reduz a vulnerabilidade a políticas protecionistas dos EUA e pode atrair capital privado — condição explícita no memorando, que exige financiamento majoritariamente privado para a construção do oleoduto e do porto. 

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Além do debate econômico, a iniciativa reacende um terreno jurídico e de direitos indígenas que pode ser decisivo para o seu destino.

Líderes e nações indígenas disseram não ter sido adequadamente consultados e expressaram preocupação com o risco de derramamentos, impacto em ecossistemas frágeis e a ameaça à subsistência.

A falta de consenso com as províncias limítrofes, especialmente com o governo da Colúmbia Britânica, e o potencial custo político de alterar a lei que limita o tráfego de petroleiros criam um conjunto de obstáculos que podem tornar o projeto difícil de executar na prática.

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Por fim, o episódio traça um deslocamento ideológico nítido em relação à década de políticas associadas a Justin Trudeau.

Ao mesmo tempo em que Carney tenta conciliar pragmatismo econômico e compromissos de neutralidade de carbono até 2050, críticos dizem que a manobra corre o risco de entregar à tecnologia de captura de carbono e a regimes de impostos industriais a responsabilidade de compensar um aumento potencial das emissões.

Uma aposta que, para muitos cientistas e ativistas, não substitui a necessidade de reduzir a produção fóssil.

A disputa promete moldar a agenda política canadense nos próximos meses, expondo a tensão entre curto prazo socioeconômico e metas climáticas de longo prazo, e colocando o novo governo de Carney sob escrutínio intenso tanto doméstico quanto internacional.

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