Dilma só precisou de 2min30 para assassinar outro idioma
O trecho da conversa com uma jornalista chilena amplia o legado linguístico da mulher que fala dilmês
Publicado em 5 de setembro
Na abertura do vídeo, a jornalista chilena quer saber por que a entrevistada, em fevereiro deste ano, fez uma visita relâmpago a Santiago. O olhar avisa que Dilma Rousseff se surpreendeu com a pergunta. Sentado à sua esquerda, com as mãos entrelaçadas, José Eduardo Cardozo capricha na pose de Primeiro Conselheiro do Reino. Terminada a conversa de hospício, vale a pena tornar a ouvir o falatório de olhos postos em Cardozo, cuja movimentação coreografa o besteirol. Conforme a partitura, ele descruza os dedos, volta a entrelaçar as mãos, sorri amarelo, tamborila sobre a mesa, promove um duelo de polegares, coça a cabeça com a mão direita enquanto esconde a esquerda, contempla o teto, segura o queixo, esfrega os olhos, cobre o rosto ou junta as mãos como quem vai rezar.
Não foi fácil testemunhar o parto do dilmenhol, informa já na primeira linha a primeira resposta:
“Ah!, purque la Bas… Barcena, la presidente de Cepal, me invitó para… para fazer una conferência… E yo queria… y ocê não acredita… yo no conocía Cepal, no tinha ido personalmente. Soy un… de una geracion em que Cepal fue muy importante para el pensamiento de la… de la economia latino-americana. Entonces, para mi foi importante ha… hacer una discusión a respeito do que acontecia en Brasil. Cepal es un centro de formaçon de pensamento latino-americano. Isso es una cosa. La otra cosa es que considero que Bachelet es una de las mas importantes lideranças de Latino América. Non só purque … por toda su trajetória mas por sus posiciones que combinam la firmeza e la capacidad de diálogo. Por isso é, sempre que pudo, em várias circunstâncias, no necessariamente solo en Chile pero em otras circunstâncias, yo siempre hablé com Bachelet. No só yo pero lideranças latino-americanas e internacionales”.
A jornalista aproveita a pausa para introduzir outro assunto. Quer saber o que Dilma tem a dizer à presidente Michelle Bachelet, às voltas com histórias muito mal contadas envolvendo a empreiteira OAS, que opera também no Chile e andou financiando campanhas de candidatos esquerdistas. Não por acaso, alguns deles contrataram os serviços do marqueteiro João Santana. A entrevistada passa ao largo do que interessa e, de novo, faz de conta que enxerga uma crise mundial no brasileiríssimo desastre econômico que produziu em parceria com o padrinho Lula. E ensina aos chilenos como se deve lidar com desastres econômicos :
“Diria que usted enfrentam la mesma crisis que nosotros…e que, em la fases de ascensión del ciclo… econômico, las personas tienem una tolerância maior. En la fases de descienso del siglo… del ciclo, o que qui tá en questión? Quien, quien serão las personas que pagarán por la crisis.. E… e… no hay demagog… no hay demagogia… se paga siempre. En la crise hay que pagar algunos… alguna cosa. Todos los países, no solo…”
E então irrompe na tela, empoleirada na tribuna do Senado, a figura de Kátia Abreu discursando na sessão que encerrou o governo de sua melhor amiga. A senadora do PMDB do Tocantins garante que o mundo não vê a hora de demonstrar a admiração que sente por Dilma Rousseff: “É uma pessoa que com toda a certeza será convidada para dar aulas em universidades”, vaticina.
Não depois desse vídeo. Não depois da invenção do dilmenhol. Nem aqui nem na China. Nem em Cuba.