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“Os Últimos Jedi”: um “Star Wars” que demora para engrenar

Troca de diretor tirou algo da inspiração da saga. (A boa notícia é que J.J. Abrams volta para o Episódio IX)

Por Isabela Boscov Atualizado em 15 dez 2017, 21h52 - Publicado em 15 dez 2017, 10h00

É um doce problema, mas vá lá : O Despertar da Força, que reinaugurou Star Wars há dois anos, era um filme tão próximo da perfeição que sua continuação sempre teria pela frente um duplo desafio – colocar-se na mesma altura que seu antecessor e ao mesmo tempo cumprir as exigências nem sempre confortáveis dos “filmes do meio”, que não podem contar nem com o fator-surpresa de um primeiro capítulo, nem com a satisfação emocional de uma conclusão. Mas vamos convir também que J.J. Abrams, o diretor de Despertar, deixou seu colega Rian Johnson com a faca e o queijo na mão para esta sequência. Aquela cena final ultra-impactante do primeiro filme, com Rey (Daisy Ridley) e Luke Skywalker (Mark Hamill) frente a frente, era um gancho tão bom, mas tão bom, que bastava escolher a mais simples de todas as alternativas: retomar a história exatamente ali, daquela imagem. Não vou entregar nada; vou apenas dizer que Rian Johnson, que é também autor do roteiro, decide ir por outro caminho. E que esse caminho é longo, é tortuoso e pode causar alguns desapontamentos – porque vou arriscar que boa parte do público (ou até a maior parte dele) não só queria como precisava urgentemente saber como aquela cena entre Rey e Luke ia continuar.

Star Wars: Os Últimos Jedi
(Disney/Divulgação)

Se há uma coisa que não precisa ser explicada na primeira e terceira trilogias de Star Wars, é que há uma Resistência, à qual pertencem os heróis da saga; e há um império maligno e tirânico (neste caso, a Primeira Ordem) que está sempre prestes a aniquilar a Resistência e estabelecer seu domínio absoluto – não fosse o fato de a Resistência merecer o nome que tem e resistir bravamente, sempre. Rian Johnson, porém, explica. E explica, e explica. Em detalhes. E demora muito na explicação de coisas cujas minúcias são irrelevantes. Por exemplo, o passo a passo dos planos do stormtrooper renegado Finn (John Boyega) e sua nova amiga, a mecânica Rose (Kelly Marie Tran), para desativar um certo rastreador. Ou as infindáveis batidas de cabeça entre o piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) e uma vice-almirante a quem ele se vê subordinado (Laura Dern, que parece tão incomodada quanto eu com a peruca sintética lilás que colocaram nela). Enquanto isso, a galáxia está pegando fogo – e nós aqui, tentando entender como funciona um rastreador. É uma “barriga” que avança por mais de uma hora e meia. Há certa altura, porém, há uma melhora drástica: no terço final, Os Últimos Jedi repentinamente entra em alta voltagem, com uma série ininterrupta de combates. Alguns são íntimos e pessoais, e vêm com grandes surpresas. Outros são épicos, como a cena climática num deserto que parece branco mas que, a cada passo que alguém dá nele, se vai revelando vermelho-sangue. Mas, caramba, só no terço final? E isso em um filme de duas horas e meia?

Star Wars: Os Últimos Jedi
(Disney/Divulgação)

Esta nova trilogia tem um patrimônio incomparável. Tem atores queridos, como Carrie Fisher – que morreu logo após concluir a gravação das suas cenas – e Mark Hamill, em desempenhos carregados de tristeza, porque sabe-se que em algum momento virá a despedida deles. Tem um elenco jovem excelente e preparado para levar a saga adiante, com destaque para John Boyega, Daisy Ridley e Adam Driver como o tormentoso Kylo Ren – o pivô deste capítulo. Tem um argumento que não só é empolgante, como é também coeso e enxuto. Acima de tudo, a parte realmente desafiadora do trabalho foi executada com sucesso: começou-se muito bem. O Despertar da Força ao mesmo tempo homenageou a trilogia original e se afirmou por direito próprio; depurou a linguagem visual da saga com brilhantismo, deixando-a prontinha para os episódios seguintes; e fez tudo isso com uma energia e uma emoção que, numa série cinematográfica, são um capital de altíssimo valor. Era só pegar o bastão e continuar corrida. Os desvios de Rian Johnson infelizmente dispersam muito dessa energia antes de conseguir concentrá-la de novo. Vem como ótima notícia, portanto, a decisão de que, depois de demitir Colin Trevorrow (de Jurassic World) do cargo de diretor do Episódio IX, a LucasFilm novamente entregou o posto a J.J. Abrams. Com certas coisas, é melhor não trocar o certo pelo duvidoso.

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STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI
(Star Wars: The Last Jedi)
Estados Unidos, 2017
Direção: Rian Johnson
Com Daisy Ridley, Adam Driver, John Boyega, Mark Hamill, Carrie Fisher, Oscar Isaac, Laura Dern, Kelly Marie Tran, Benicio Del Toro, Domnhall Gleeson, Justin Theroux, Gwendoline Christie, Andy Serkis, Anthony Daniels
Distribuição: Disney

 

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