Churrasco de Bolsonaro virou uma “ode ao vírus” e pode custar R$ 2 milhões
Era um almoço de campanha em Presidente Prudente, virou churrasco de 1,3 mil pessoas e 48 horas depois já tinha 2 mil convidados. A multa é de R$ 2 milhões
São 700 mil eleitores espalhados em 56 pequenos municípios ao redor de Presidente Prudente, no Oeste paulista. Ali, em 2018, o candidato Jair Bolsonaro obteve sete de cada dez votos válidos. E ninguém contestou o resultado: o vencedor levou 71,28% na apuração das urnas eletrônicas, acima do que alcançou no Estado de São Paulo (67,97%) e muito além do total nacional (55%).
Presidente Prudente era destino certo no mapa da campanha de reeleição. Bolsonaro marcou a visita para o próximo sábado.
O pretexto da viagem presidencial é o anúncio da vinculação ao Sistema Única de Saúde do antigo Hospital do Câncer, rebatizado como Hospital da Esperança.
É a justificativa para uma jornada eleitoral entremeada com discursos, desfile com motociclistas e um almoço com os donos de dois milhões de cabeças de gado — o maior rebanho paulista (20% do total).
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Os produtores de carne estão eufóricos, e têm bons motivos: estão encerrando o mês de julho com preços médios acima de US$ 5,08 por quilo de carne exportada, próximo do recorde de US$ 5,13 registrado em setembro de 2011, época marcada pela alta valorização das commodities.
Bolsonaro e um assessor, Luiz Antonio Nabhan Garcia, resolveram aproveitar o clima para promover um grande comício de campanha.
O evento é para Nabhan Garcia, produtor e pré-candidato a deputado federal. Líder regional de uma facção ruralista, carrega a fama de violento e não esconde a nostalgia da ditadura militar. O radicalismo o levou à Secretaria de Assuntos Fundiários, mas, também, provocou divisão entre empresários paulistas do agronegócio, que consideram o “agrotrogloditismo”, como definem, um sinônimo de prejuízo líquido.
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Entusiasmado, ele combinou com Bolsonaro um churrasco para milhares de pessoas. O prefeito Edson Tomazini, do PSB, partido de oposição, decretou a liberação do parque de exposições. Primeiro, para 1,3 mil pessoas. Dois dias depois, aumentou em 66%, para 2 mil.
Presidente, assessor e prefeito nem lembraram da pandemia e da legislação estatual restritiva, numa cidade de 230 mil habitantes com mais de 830 mortes que, nesta semana, tem 70% dos leitos de UTI ocupados.
Um promotor local, Marcelo Creste, levou o caso ao fórum. “É irresponsabilidade sanitária, uma ode ao vírus”, argumentou. “Como fazer respeitar o máximo de 2 mil pessoas? Como controlar essas pessoas no local? Serão testadas? Serão acompanhadas depois? Estão todas vacinadas? Como controlar o uso de máscaras no local? Como controlar o distanciamento social no local? É convidar o vírus para dançar e zombar das mais de 550 mil pessoas mortas e do luto de seus familiares, em especial dos 830 prudentinos mortos”
O churrasco-comício de Bolsonaro acabou proibido pelo juiz Darci Lopes Beraldo, ontem. A insistência poderá resultar em multa de R$ 2 milhões, conta pesada para um almoço de campanha.