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Informação e análise

Credit Suisse: concentração de renda no Brasil é recorde

Em 2000, o grupo dos brasileiros mais ricos (2,1 milhões de pessoas ou 1% da população) detinha 44,2% de toda a renda nacional. Agora é dono de 49,6%

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 jun 2021, 09h30

É provável que se passem alguns anos antes que seja possível dimensionar com clareza o impacto da pandemia  de Covid-19 na renda dos mais pobres, advertem os pesquisadores Anthony Shorrocks, James Davies e Rodrigo Lluberas, do Instituto Credit Suisse. Mas já se vislumbram alguns efeitos, eles constataram ao preparara a versão 2021 do relatório anual sobre a riqueza global (clique aqui para a íntegra, em inglês).

No Brasil, por exemplo, se agravou a concentração da riqueza. É um dos lugares no planeta com maior nível de desigualdade de renda, superado por apenas meia dúzia numa lista de 127 países, quando se usa a “régua” criada pelo matemático italiano Conrado Gini para aferir a diferença de rendimentos entre os mais pobres e os mais ricos.

No início do século passado, ele criou um modelo de cálculo que passou a ser usado para medir o nível de concentração da renda em determinado grupo: varia de zero a cem. O valor zero indica situação de igualdade, onde todos têm renda igual. O oposto é cem, onde uma única pessoa possui toda a riqueza. Índice de Gini, como ficou conhecido, habitualmente comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos de um país.

Reprodução
(Credit Suisse Global Wealth Databook 2021/VEJA)

O trio de pesquisadores do Credit Suisse considera esse instrumento a “medida mais ampla de desigualdade que captura as mudanças em ambas as extremidades do espectro de riqueza”.  Ao analisar o caso brasileiro no ano passado, se surpreenderam. Já era muito ruim antes da pandemia. Ficou pior.

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O Brasil registrou um recorde no ano passado: o mais elevado grau de concentração de renda nos últimos 20 anos — na escala Gini, virou o milênio no patamar de 84,7 (em cem), encerrou o primeiro ano da pandemia em 89,0.

A tradução do quadro é essa, segundo os pesquisadores: em 2000, o grupo dos brasileiros mais ricos (2,1 milhões de pessoas ou 1% da população) detinha 44,2% de toda a renda, agora é dono de quase metade da riqueza nacional, ou seja, 49,6%. Já eram ricos e ficaram ainda mais ricos (5,4 pontos percentuais) nas últimas duas décadas.

É o oposto do que ocorreu, por exemplo, no Chile e no México, que junto com o Brasil compõem o trio econômico mais dinâmico da América Latina.  Caiu a concentração de renda no grupo dos mais ricos (1% da população) nesses países:

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* No Chile, em 2000, os ricos eram donos de 40,1% da riqueza. Agora detêm 33,6%.

* No México possuíam 42,8%, agora têm 31%.

* A desigualdade, no entanto, aumentou entre a maioria (90%) pobre dos dois países.

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Reprodução
(Credit Suisse Global Wealth Databook 2021/VEJA)

Por qualquer ângulo, a desigualdade é elevada em todos os lugares. Mas é excepcionalmente alta no Brasil. Observando efeitos da pandemia, os pesquisadores do Credit Suisse encontraram evidências sobre um considerável número de países onde houve aumento da desigualdade de renda em 2020.

Eles sugerem que análises sobre esse fato peculiar do ano pandêmico deveriam considerar não somente a pandemia e seus efeitos diretos na economia, mas também as consequências das ações realizadas para mitigar o impacto econômico da Covid-19, “principalmente taxas de juros mais baixas”.

Os juros baixos para sustentar a economia abalada, acham, talvez tenham tido papel preponderante no impulso à concentração da renda no ano passado — inesperado e, também, perverso.

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