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Informação e análise

Ministro levou as Forças Armadas ao palanque

Com 30 palavras, o ministro da Defesa Braga Netto apresentou as Forças Armadas como tema de discurso eleitoral no palanque do chefe, o presidente-candidato

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 Maio 2021, 09h00

O comício de Jair Bolsonaro coloriu o sábado ensolarado em Brasília. Foi um ato de campanha eleitoral, organizado em detalhes durante os últimos dois meses.

O patrocínio e a mobilização da plateia desde o alvorecer ficou por conta de algumas entidades sindicais do agronegócio e de igrejas evangélicas de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e do Distrito Federal. Militantes dos núcleos do bolsonarismo na capital cumpriram o roteiro habitual de agitação e propaganda.

A limitada adesão do sindicalismo rural acabou expondo divisões no campo em relação a Bolsonaro. Há resistência ao embarque numa candidatura de reeleição presidencial a 18 meses da eleição, em meio às incertezas de uma crise pandêmica.

Desfilaram reluzentes caminhões, recém-adquiridos, símbolos da conjuntura benéfica das commodities valorizadas que irrigam os lucros nas fazendas.

Agricultores e pecuaristas do Mato Grosso do Sul, com familiares, formaram visível maioria na multidão concentrada no gramado em frente ao Congresso. Quase todos vestiam verde-amarelo, e camisetas com o retrato do presidente-candidato.

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Em outras cores se destacavam empreendedores informais de pipoca, churrasco, água e refrigerante. De camisa cinza e jeans, um jovem passeava seu apelo num enorme cartaz: “Ajude-me por favor a comprar uma bicicleta para fazer entregas.”

Muitos exibiam dificuldade de compreensão sobre o objetivo da reunião, além de aplaudir Bolsonaro,  devido ao confuso cardápio de protestos — contra o Senado e o Supremo; apoio ao voto impresso; contra o isolamento social na pandemia, que já matou mais de 434 mil pessoas.

O problema aumentava quando do palanque se provocava a repetição de slogans criados pela máquina de propaganda presidencial. O principal era: “Eu autorizo”. Não foram poucas as vezes que se escutou alguém perguntando ao vizinho no gramado do Congresso: “Mas, eu autorizo o quê?”

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Todos entendiam, porém, quando um locutor puxava o coro de insultos ao senador Renan Calheiros, relator da CPI da Pandemia, a quem a família Bolsonaro escolheu como novo inimigo público.

Bolsonaro e ministros apareceram a cavalo numa das pistas, ladeados por carros de som alugados — o número e a disposição deles no asfalto da esplanada deu briga entre os organizadores do evento, na noite de quinta-feira, testemunhada por oficiais da Polícia Militar.

Um desses veículos servia ao agrupamento Patriota, que apresentou uma novidade. Em eventos anteriores, militantes desse núcleo de agitação do bolsonarismo apelavam à “intervenção militar”. No sábado exibiam uma faixa diferente. Clamavam por “intervenção divina”.

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Antes de se apresentar, Bolsonaro exigiu esvaziamento do palanque lotado. Surgiu quando a boca-de-cena era somente dele e do apresentador, locutor de rodeios que propagandeava um banco público, a Caixa Econômica Federal. Ministros, parlamentares e assessores ficaram no fundo do palco, à espera do chamado presidencial.

“Vamos ver e ouvir aqui uma coisa rara”, anunciou Bolsonaro. E puxou pelo braço o ministro da Defesa, Walter Braga Netto. O ministro sorriu, acenou para a multidão e fez aquele que, talvez, tenha sido o mais curto discurso da sua vida profissional. Falou por 40 segundos.

Reverenciou o chefe e acrescentou: “O agro é a força desse país. As Forças Armadas estão [prontas] para proteger os senhores, para que possam produzir com tranquilidade. A liberdade é o nosso bem maior e fundamental.”

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Braga Netto passou quatro décadas no Exército e se recolheu à reserva 13 meses atrás. Por decisão governamental, a partir deste mês —como outros ministros — poderá acumular remunerações acima de R$ 60 mil mensais, sem precisar se preocupar com limites do chamado teto constitucional para servidores públicos (R$ 39,2 mil).

Na tarde de sábado, com apenas 30 palavras, o ministro da Defesa introduziu as Forças Armadas como tema de discurso de palanque, em benefício eleitoral do chefe, presidente e candidato à reeleição.

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