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Restrição calórica e jejum intermitente funcionam, afinal?

Estratégias alimentares que pregam a redução da quantidade de calorias consumidas têm sido associadas ao aumento da longevidade

Por Paulo Zogaib
Atualizado em 13 out 2017, 12h00 - Publicado em 13 out 2017, 12h00

Em 1962 o professor Christian de Duve (prêmio Nobel), identificou um processo denominado autofagia (do grego auto = próprio e phagein = comer). Em 1990, o professor Yoshinori Ohsumi iniciou seus estudos sobre a autofagia e ao longo do tempo elucidou seus mecanismos em leveduras e mostrou que uma maquinaria sofisticada do mesmo tipo é usada pelas células do corpo humano, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2016.

Autofagia e apoptose: a auto-limpeza do organismo

De forma simplificada, a autofagia consiste num processo de limpeza que o próprio organismo faz, eliminando estruturas celulares velhas ou defeituosas. As nossas células estão em constante modificação. Somente de proteínas, durante um dia, precisamos reciclar de 200 a 300 gramas. É claro que não ingerimos essa quantidade e é graças a autofagia que podemos reutilizar algumas de nossas próprias proteínas.

Em 1972 os cientistas Kerr, Wyllie e Curie apresentaram a apoptose (do grego apoptosis, apo = de, desde e ptosis = queda), numa referência à queda das folhas das árvores no outono. A apoptose é um tipo de morte celular programada, evitando que a célula se torne velha e doente, e estimulando a renovação celular.

Portanto, o organismo pode eliminar somente as estruturas celulares ruins (autofagia) ou mesmo a célula inteira (apoptose), mantendo a saúde celular e evitando o aparecimento de doenças e o próprio envelhecimento.

Falhas no processo

Infelizmente esses processos não funcionam perfeitamente e por isso adoecemos e envelhecemos. Sabemos que hábitos saudáveis, como uma dieta equilibrada, exercícios físicos, diminuição do stress, evitar o fumo, a poluição e manter o bem estar e a felicidade são fundamentais. Mas, além disso, muitos estudos têm sido feitos na busca de outras estratégias que possam melhorar a eficiência desses mecanismos.

O papel da restrição calórica

Uma dessas estratégias é a restrição calórica. Em 1935 McCay e seus colegas descobriram que, em ratazanas, uma diminuição da ingestão alimentar em 40% levava a um aumento da longevidade. Essa restrição alimentar diminui o stress oxidativo sobre as mitocôndrias (unidades celulares responsáveis pela produção de energia), mantendo-as mais saudáveis e estimulando a sua renovação.

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Os estudos em humanos não são absolutamente consistentes, talvez porque seja tênue a diferença entre restrição calórica ou subnutrição e desnutrição. Um fato que pode falar a favor é que a grande maioria, se não a totalidade, dos indivíduos longevos são magros ou ligeiramente abaixo do peso.

A desnutrição parece ser um dos fatores que contribui para a morte em idosos pela sarcopenia (perda de massa muscular), condição que dificulta as atividades diárias e piora a qualidade de vida. Além disso, a restrição calórica não pode levar à deficiência de vitaminas e minerais e deve respeitar as condições individuais.

O jejum intermitente

A outra estratégia, corroborada pelo estudo do professor Ohsumi é o jejum. Ele estimula a autofagia e a produção do hormônio do crescimento, ou seja, promove a limpeza do “lixo” celular (autofagia) e a renovação das estruturas (hormônio do crescimento).

Ainda não se estabeleceu perfeitamente a duração desse jejum e é evidente que o exagero pode ser prejudicial. Os esquemas variam de 12 a 24 horas chegando mesmo ao extremo de 36 horas. Mesmo sem comprovação científica, o esquema mais adotado é o de 16 horas de jejum e 8 horas se alimentando. Isso parece contribuir para a somatória de efeitos da restrição calórica e da autofagia.

Importante lembrar que apesar de reconhecidos os mecanismos em seres humanos, inclusive relacionando-os à doenças como Mal de Parkinson, diabetes e câncer, esses estudos não foram realizados em humanos e sabemos que cada indivíduo necessita e reage de forma particular.

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Deve-se levar em consideração os medicamentos utilizados, as condições de saúde, o tipo de atividade profissional, as doenças pré existentes e até mesmo o tipo e nível de atividade física executada.

O bom senso deve imperar

As notícias são muito otimistas. Nos dão esperança e uma enorme vontade de que tudo isso seja verdade e funcione perfeitamente, mas o bom e velho “bom senso” continua sendo um grande aliado. Nos dias de hoje qualquer texto lançado na rede facilmente se torna “verdade” (inclusive o meu!).

É preciso usar a ciência com critério e ética para o benefício da humanidade.

 

Paulo Zogaib

 

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Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
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Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista

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