Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história

Marcha da insensatez

Os custos das pressões de estados e municípios sobre a União

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 4 jun 2024, 14h03 - Publicado em 29 jan 2021, 06h00

Em países com desigualdades regionais de renda, a repartição de receitas entre esferas de governo permite suprir as regiões menos desenvolvidas do mínimo de recursos para exercer suas funções e aproximá-las da situação das mais prósperas. Aqui, o processo iniciou-se na Constituição de 1946, que criou o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A Constituição de 1967 estendeu a medida aos estados e ao Distrito Federal (DF).

A partir dos anos 1970, começaram as pressões para expandir as transferências. Em 1975, os dois fundos — o dos municípios e o dos estados e DF — eram abastecidos por 10% da arrecadação do imposto de renda (IR) e do IPI, metade para cada um. Em 1976, no governo de Ernesto Geisel, o porcentual foi elevado para 18%, com a mesma proporção, acrescentando-se 2% para um fundo especial em favor das mesmas unidades da Federação.

Nos estertores do regime militar, os governos subnacionais conseguiram elevar a participação para 24% (1980) e 30% (1983). No segundo caso, criou-se uma diferença: 14% para os estados e o DF, e 16% para os municípios. Na Constituição de 1988, a participação saltou para 44%, sendo 21,5% para os estados e 22,5% para os municípios. Também foram instituídos fundos de desenvolvimento regional com 3% da mesma base.

“Com o fundo, multiplicaram-se as cidades, muitas sem escala para ofertar serviços públicos”

Nos anos de 2007 e 2014, os municípios obtiveram novo aumento, para 24,5%. Em menos de quarenta anos, pois, as transferências quase quintuplicaram, de 10% para 49% da arrecadação daqueles impostos. Recentemente, o Senado aprovou nova elevação de 1 ponto porcentual, em favor dos municípios. Agora, pressiona-se a Câmara para seguir o caminho.

Continua após a publicidade

As justificativas para as transferências são as de que “o cidadão mora no município” e o fim do “pires na mão” de prefeitos e governadores à cata de recursos. Nada disso. À União cabem responsabilidades maiores em justiça, defesa, previdência, educação, saúde, infraestrutura e programas sociais de cunho nacional, que consomem mais de 90% de seus recursos disponíveis. A romaria a Brasília não acabou.

Com o FPM engordado, multiplicaram-se os municípios, muitos sem escala para ofertar serviços públicos. Para o economista Marcos Mendes, os recursos acabaram financiando despesas de pessoal. Em 11% dos municípios o gasto com funções administrativa e legislativa é maior do que com saúde; em 7% supera o da educação.

Essa marcha da insensatez contribuiu para a piora da qualidade das finanças públicas. Com as perdas no IR e no IPI, e dado o aumento de gastos determinados pela Constituição de 1988, a União foi obrigada a criar ou elevar tributos não partilháveis — as contribuições —, que hoje representam mais de 40% da arrecadação e bagunçaram o sistema tributário. A excessiva repartição de receitas deteriorou a alocação de recursos na economia, limitando os ganhos de produtividade e o potencial de crescimento do país.

Continua após a publicidade

É preciso dar um basta nesse processo suicida e em seus efeitos na economia. A União não dispõe de recursos ilimitados.

Publicado em VEJA de 3 de fevereiro de 2021, edição nº 2723

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.