A estratégia de Osmar Terra para tentar provar que epidemia está no fim
Conselheiro de Bolsonaro no tema, ex-ministro usa redução do contágio em países que vivem momentos distintos com o coronavírus, que chegou depois ao Brasil
O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania e uma espécie de conselheiro do presidente Jair Bolsonaro na questão do combate ao coronavírus, tem usado gráficos que apontam o recuo de casos confirmados em outros países para defender que o pico de transmissão da doença já passou e, assim, sustentar a sua tese de que é preciso decretar o fim da quarentena nos estados.
A ideia é contrapor o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem previsto para maio e junho os piores meses da pandemia no Brasil. Desde o agravamento da crise no Brasil, o presidente e outros bolsonaristas têm usado os argumentos de Osmar Terra – que é médico como o ministro – para defender o fim das políticas de distanciamento social adotadas na maioria dos estados.
Nos bastidores, Osmar Terra é tido como candidato à sucessão de Mandetta caso o atual ministro caia, o que já esteve bem perto de ocorrer na semana passada – a hipótese, não só ainda não foi descartada, como ganhou força depois da entrevista de Mandetta ao Fantástico, da TV Globo, no domingo 12, na qual ele voltou a contraditar Bolsonaro na questão da necessidade ou não da quarentena.
Terra tem liderado o movimento contra Mandetta e distribuído os gráficos que mostram a redução do ritmo de contaminação em países como Estados Unidos, Espanha, Itália, Alemanha, França e Reino Unido para sustentar que o fim do pico de transmissão está próximo também no Brasil. Para ele, o fim da disseminação do coronavírus no país será em até 30 dias.
Nos gráficos, obtidos com base nos dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o ex-ministro fez um recorte entre os meses de fevereiro e abril. Em alguns casos, como nos Estados Unidos, os picos de casos confirmados ocorreram nos dias 6 e 11 de abril, com 33.500 e 35.300 novos registros de infectados. Nos dias posteriores, os registros caíram para pouco mais de 30.000, o que ainda representa uma situação de pandemia.
Situação semelhante é retratada nos gráficos referentes a outros países que lideram os números de mortes causadas pelo coronavírus. Na Itália, o pico foi em 21 de março com 6.500 casos confirmados. Na última segunda-feira, 13, o país registrou 3.100 novos casos.
A questão é que o ex-ministro usa dados de países que vivem momentos diferentes da epidemia, que chegou mais tarde no Brasil, onde os casos começaram a ser confirmados cerca de duas semanas após o início da pandemia na Europa e mais de um mês após a China, onde tudo começou. É natural, portanto, que a queda da curva de atingidos pela doença ocorra primeiro nesses países.