Dossiês começaram na atual gestão, dizem ex-assessores de Moro
Monitoramento de funcionários antifascistas teria passado a ser feito após a mudança no Ministério da Justiça
Integrantes do gabinete do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro têm garantido, em conversas reservadas, que nunca houve a produção de dossiê contra funcionários públicos na gestão do ex-juiz federal, entre janeiro de 2019 e abril de 2020. Sob o comando de André Mendonça, em junho deste ano, a pasta confeccionou relatório sobre 579 agentes de segurança pública do “Movimento Policiais Antifascismo”, além de quatro acadêmicos, todos considerados opositores do governo.
A existência desse dossiê foi revelada por Rubens Valente na semana passada. Em sua coluna no UOL, o jornalista mostrou que o relatório foi elaborado por uma unidade pouco conhecida do Ministério da Justiça, a Seopi (Secretaria de Operações Integradas) e distribuído a diversos órgãos da Esplanada dos Ministérios. Nesse documento, a Seopi lista nomes e, em alguns casos, acrescenta fotografias e endereços de redes sociais das pessoas monitoradas.
O Ministério Publico Federal pediu informações ao governo sobre a possível instrumentalização do ministério contra opositores, numa perseguição que remonta aos piores anos da ditadura militar (1964-1985). Diante da revelação, esses antigos assessores de Moro têm se mostrado perplexos com a linha adotada pela secretaria na gestão de André Mendonça. À época de Moro na pasta, eles explicam, o Seopi funcionava em outra esfera, a de fazer análises sobre pedofilia, crimes nas regiões de fronteira e transferência de presos parar presídios federais, por exemplo.
Os antigos assessores de Moro lembram que, na desastrosa reunião ministerial de abril, o presidente Jair Bolsonaro reclamou que não obtinha informações da Polícia Federal, e aproveitou para jogar a culpa no Ministério da Justiça. Naquela ocasião, o presidente avaliou que o seu “sistema particular” de informações funcionava, mas criticou o oficial que, sob Moro, segundo ele, desinformava. Coincidência ou não, a produção de dossiê, que copia a política persecutória do regime militar, é mais um lamentável episódio da intervenção ideológica bolsonarista em órgãos de estado.