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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

O que ACM Neto tem a ganhar indo tão à direita na Bahia

Dois dos mais importantes cientistas políticos analisam o movimento do presidente do DEM na eleição da Câmara. Tiro no pé ou sobrevivência regional?

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 fev 2021, 10h41 - Publicado em 10 fev 2021, 08h16

No mundo da política, os inimigos de ontem podem caminhar de mãos dadas amanhã. Basta que os interesses se justifiquem para a formação de novas alianças. Olhando mais de perto para a disputa da presidência da Câmara e o apoio do presidente nacional do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, a Arthur Lira (PP-PR), candidato de Jair Bolsonaro, uma dúvida fica no ar. O que Neto tem a ganhar apoiando a extrema-direita, tendo em vista que seu reduto eleitoral é a Bahia, onde os movimentos de centro-direita e de esquerda fizeram uma boa gestão na pandemia, ao contrário de Bolsonaro? Por que fortalecer o Palácio do Planalto, provocando um racha no DEM?

Aproximação de ACM Neto

 

O cientista político Jairo Nicolau acredita que ele jogou fora o capital político que havia conseguido com a eleição municipal. A cientista política Daniela Campello acha que ele fez uma jogada calculada. Terá recursos governamentais no presente, e depois, conforme for a conjuntura política de 2022, ele dirá que o governo não mudou e persistiu no erro. Seja como for, esse movimento de implosão do próprio partido está intrigando especialistas.

A garantia de recursos pode ser mesmo uma forte razão, como avalia Daniela Campello, que é doutora em Ciência Política pela Universidade da Califórnia e professora da Fundação Getúlio Vargas. Segundo ela, seu apoio a Bolsonaro não passa pela questão político-ideológica, mas sim pelo interesse nos recursos prometidos por Bolsonaro para cooptar votos e se fortalecer na Câmara. Aliás, na visão de Daniele Campello, justamente por ter uma mobilidade ideológica maior é que ACM Neto teria conseguido se articular desta forma, ao contrário de Rodrigo Maia, o grande derrotado desta eleição no legislativo.

“Ele [ACM Neto] maximizou a quantidade de recursos à mão, hoje, para distribuir e se fortalecer em relação a outras lideranças. Esses recursos vão deixá-lo em uma posição muito mais forte em 2022 para fazer o que quiser. Ele está, de certa forma, livre para apoiar Bolsonaro se ele estiver forte, ou, o que acho mais provável, apoiar quem ele quiser, tipo [Luciano] Huck”.

Portanto, apesar do apoio de ACM Neto neste momento, o ex-prefeito agiu de maneira a manter seu poder político, mesmo sem mandato, mas não deixou amarras no próximo pleito, na visão da cientista política. “O que ele fez hoje não o amarra de forma alguma para 2022. Como ele mesmo disse, ele não ‘concorda com o que o governo fez até hoje’, deixou um espaço para apoiar ‘se o governo mudar de direção, já sabendo que isso muito provavelmente não acontecerá. Mas teve seu quinhão dos bilhões distribuídos por aí. E não deve ter sido pouco”, destacou.

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Quanto ao racha no DEM, com o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) disparando ofensas e críticas a Neto, a cientista política avalia que Maia tentou organizar uma oposição a Bolsonaro, mas acabou enfraquecido.

“Maia parece que está preocupado com políticas, com realmente organizar a oposição a Bolsonaro. Mas ficou de mãos abanando e em uma posição bem mais frágil nos próximos dois anos. Acho que se a eleição [para presidência da Câmara] tivesse sido mais próxima, apesar das mãos abanando ele seria uma liderança forte para aglutinar a oposição. No final, acho que acabou ficando sem um e sem o outro”, afirmou. 

Para o cientista político Jairo Nicolau, que tem pós doutorado na universidade de Oxford, ACM Neto foi, na verdade muito inábil ao se aproximar tanto do governo Bolsonaro. “Em menos de 3 meses jogou o capital político do DEM no lixo. Mais uma evidência de que as eleições municipais não servem para análises prospectivas. O DEM foi o grande vitorioso”, diz Nicolau, que também é professor da FGV.

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