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Meghan e Harry: o que é verdade garantida e o que não dá para cravar

O filhinho Archie perdeu o título de príncipe por ser mestiço? Isso é falso, o que levanta dúvidas sobre outros trechos da entrevista explosiva

Por Vilma Gryzinski 9 mar 2021, 07h38

O que aconteceu com toda certeza e foi confirmado, em termos indiretos:  Thomas Markle, o pai de Meghan, recebeu dinheiro de um tabloide para ser fotografado como se fosse um flagrante roubado.

Esta é a traição à própria filha mencionada por Meghan, em tom compreensivamente magoado. Já era um fato conhecido e foi esmiuçado num processo que ela abriu contra o Daily Mail por ter publicado uma carta dela ao pai, queixando-se exatamente de suas atitudes.

Meghan ganhou o processo, agora em trânsito para a segunda instância, mas está mais difícil ganhar a opinião pública no reino que ela convenceu o marido, Harry, a abandonar, para ir morar na Califórnia e fazer carreira no show business.

A dramática entrevista a Oprah Winfrey, na qual se coloca como vítima tão hostilizada que chegou a pensar em suicídio, tem trechos pouco convincentes ou sujeitos a contestação. Entre os mais relevantes:

– O filhinho do casal, Archie, foi rejeitado como príncipe, um título a que teria direito como neto do futuro rei Charles e que lhe garantiria segurança bancada pelo Estado. 

Meghan mais do que insinuou que foi por racismo que seu filho foi “o primeiro membro de cor dessa família a não receber o tratamento igual ao que outros netos teriam”.

E, ainda por cima, houve “preocupações e conversas sobre o quanto sua pele seria escura”.

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Na primeira questão, não está correto. Na segunda, só Harry, a quem as tais “preocupações” foram manifestadas, poderá dizer – e, eventualmente, enfrentar o contraditório, o que dificilmente aconteceria.

Atrás das câmaras, ele disse a Oprah que ação racista não partiu de sua avó, a rainha, Elizabeth nem de seu avô, o príncipe Philip.

Isso deixa um vasto campo aberto. Por que Harry não incluiria  na isenção o próprio pai, Charles? Denunciar erros e até crimes, como o racismo, sem nomear os autores permite especulações infindáveis – um dos tropeços éticos do anonimato.

Sobre o título de príncipe negado a Archie, existe uma regra de mais de cem anos: data de 1917 a carta-patente do rei George V estabelecendo que filho e netos de um monarca têm direito ao tratamento de príncipe ou princesa.

Exceção: o neto mais velho do príncipe de Gales, o título do primeiro na linha de sucessão.

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Como Archie é bisneto, ele só ganharia o “príncipe” diante de seu nome quando Elizabeth morrer – ou abdicar, até agora fora de questão – e seu avô, Charles, subir ao trono.

Em 2012, a rainha Elizabeth assinou outra carta-patente estabelecendo que a menininha a caminho para William e Kate seria princesa. Se não fosse isso, Charlotte não teria o título nem seria tratada como sua alteza real, ao contrário do irmão, George.

Talvez esteja aí a origem da rivalidade: Harry e Meghan podem achar que os filhos de William, futuro rei, depois do pai, são tratados com mais privilégios. Mas não é possível dizer que ele foi deliberadamente discriminado.

Meghan insinuou várias vezes na entrevista a Oprah que a “tradição” de dar o tratamento de príncipe seria mudada por motivos raciais.

– Funcionários da família real encarregados da relação com a imprensa sempre defendiam Kate, mas deixaram Meghan na mão quando ela era atacada injustamente.

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Um exemplo, dado por Meghan: o desentendimento entre as duquesas quando foi feita a prova de roupa das daminhas de honra, incluindo Charlotte, aconteceu de forma inversamente à plantada na imprensa por “fontes”.

Quem saiu chorando foi Meghan, afirma a própria. Sentir-se desprotegida, sem poder ter sua própria voz, foi um dos motivos de sua angústia.

“Foi só depois que casamos e tudo começou a realmente piorar que entendi que não apenas não estava sendo protegida, mas eles estavam dispostos a mentir para proteger outros membros da família”, espetou Meghan, nada sutilmente.

Vários jornalistas que cobrem a família real dizem que aconteceu exatamente o oposto: integrantes da equipe de imprensa sempre tentavam, com grande esforço, desmentir o que poderia ser negativo para Meghan e ressaltar os fatos positivos.

Um exemplo: o caso das três funcionárias que se queixaram de ter sofrido assédio moral por parte de Meghan foi completamente abafado. Só aflorou agora, pouco antes da entrevista a Oprah, como uma forma meio apelativa de apresentar um retrato mais negativo dela.

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Teoricamente, as queixas deveriam ter sido investigadas na época..

“A instituição protegia Meghan o tempo todo”, disse uma fonte desse meio ao Telegraph. “Todos os homens de terno cinza que ela odeia não fizeram nada para proteger (as autoras das reclamações)”.

– Também pegou mal Harry, que odeia a imprensa, compreensivelmente, considerando-se que sua mãe morreu cercada por paparazzi, dizer que existe um “tratado invisível” entre a família real e os repórteres.

Para ser bem tratados, membros da família real dão “festas” para os repórteres durante viagens, uma alegação totalmente desmentida.

O que acontece, como no mundo da política, é que os assessores de imprensa da família real estabelecem relações de confiança com repórteres – e são cobrados por eles para dar informações que procuram apresentar sempre de forma favorável a seus representados.

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Durante viagens oficiais, muitas vezes é o embaixador britânico no país visitado que dá uma recepção à imprensa. Todo mundo sabe seu papel e não está envolvida nenhuma troca ilegítima, embora as partes sempre contem que uma cobertura mais favorável vá manter as portas abertas. Quando é desfavorável, como inevitavelmente acontece, faz parte do jogo não fechá-las.

Quem aprendeu a entender como a coisa funciona foi a mãe de Harry. Diana captou as trocas envolvidas e se tornou mestra em plantar as versões que a interessavam, principalmente as que prejudicavam Charles, o marido infiel. 

Durante anos, manteve em sigilo que foi ela quem deu as principais informações para a biografia escrita pelo jornalista Andrew Morton.

– Harry e Meghan se casaram em segredo, só os dois, três dias antes da cerimônia oficial?

Isso deixaria o arcebispo da Cantuária, máxima autoridade eclesiástica, em posição altamente incômoda. Pelos regulamentos da Igreja Anglicana, são necessárias duas testemunhas para a celebração do sacramento, que só pode acontecer numa igreja ou num espaço consagrado.

– Meghan não fazia a menor ideia de como era a família real, seus protocolos e suas exigências, como afirmou a Oprah?

Amigas de adolescência dizem que ela sempre foi fascinada pela família real, tinha a biografia de Diana na estante e sonhava ser a “princesa Diana 2.0”, segundo uma delas, Ninaki Priddy.

Assistiu, em prantos, as cerimônias fúnebres para a princesa morta e queria passar uns tempos em Londres.

Meghan teria enfeitado um pouco – ou talvez mais do que isso – os dois anos que passou como membro em tempo integral da família real? Seu sofrimento foi tão profundo que pensou em suicídio? Sofreu discriminação até em relação ao filho que levava no ventre?

Agora que expôs tudo, ou o que pensa ser tudo, o público vai julgar.

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