Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

“Não temos medo, não temos medo, não temos medo”, dizem cubanos

Regime corta luz, desativa internet e coloca sua tropa na rua, mas a barreira do medo foi vencida nas incríveis manifestações de domingo

Por Vilma Gryzinski 14 jul 2021, 08h10

Está tudo calmo em Cuba. Sem manifestações, sem gritos, sem protestos, sem o som do rap e do reggaeton cantados pelos músicos populares que estão na linha de frente da rebelião pacifica.

Tecnicamente, o regime venceu a batalha, depois de tirar velhos revolucionários como Raúl Castro da aposentadoria para jogar seu peso político contra os manifestantes. E também convocar policiais regulares e os comitês de defesa da revolução para combater a “estratégia de guerra não convencional”, velho chavão ressuscitado pelo presidente Miguel Díaz-Canel para blindar o regime.

Mesmo com as vozes digitais cassadas, as cenas que foram filmadas e deixaram o país contam uma história completamente diferente. Ao contrário dos pequenos e valorosos grupos de dissidentes, muitas vezes encabeçados por artistas, dessa vez foram cubanos comuns que tomaram coragem e saíram protestando em mais de 60 pontos de diversas cidades cubanas.

De todos os gritos que entoaram, dois ocuparam posições especiais. “Pátria e vida”, definitivamente virou o slogan dos dissidentes, uma resposta direta e emocionante ao “Pátria ou Morte” consagrado por Fidel Castro.

O outro é mais impressionante ainda: “Não temos medo, não temos medo, não temos medo”. Quando um povo reprimido deixa de ter medo – ou acha que pode deixar – , está na hora dos repressores sentirem o estômago embrulhado.

Continua após a publicidade

Romper a barreira do medo é um dos atos mais sem volta da história das insurreições.

O regime continua a dispor de um vasto leque de organismos repressivos, treinados para infernizar a vida dos pequenos grupos dissidentes e atacar cirurgicamente os “escolhidos” para ir para a cadeia. Mas muita gente importante na estrutura do poder deve ter passado noites intranquilas diante da espontaneidade, da rapidez e das dimensões sem precedentes das recentes manifestações.

E da facilidade com que músicos populares sintetizam o sentimento das ruas. “Expliquem este comunismo, estas eleições, estes carros, estes iates, estas mansões”, desafia o rapper Aldo Rodríguez.

Continua após a publicidade

Com a facilidade de quem faz rimas não exatamente elaboradas, mas também não vacila em dizer o que deve ser feito, ele avisa: “Se luta com amor e o medo não é opção, é hora de derrubar esta revolução, muita violência e roubo, muito ódio e repressão”.

“Não vamos permitir que nenhum contrarrevolucionário, mercenário, vendido ao império estadounidense, vá provocar desestabilização”, esgoelou-se Díaz-Canel, usando o mesmo discurso de sessenta anos atrás Os músicos chamados de traidores respondem de maneira muito mais cantante.

“Já se acabou”, diz um dos refrãos.

Continua após a publicidade

A súbita escalada dos protestos em Cuba acontece num momento em que os Estados Unidos têm que por panos quentes em vários pontos da região, com a possibilidade de migração em massa de haitianos assustados com a alta instabilidade provocada pelo assassinato do presidente, de nicaraguenses infernizados pelo esquerdismo xamânico-delirante do casal Daniel Ortega e Rosario Murillo e, claro, os próprios cubanos, sempre desesperados para fugir do paraíso socialista.

Se os protestos se repetirem e a repressão for mais violenta, a fuga em massa para Miami se torna praticamente inevitável.

Muito da adesão aos protestos se deve ao desespero puro e simples com a falta de energia, que provoca apagões constantes, as filas para a comida racionada, a quase inexistência de remédios e a repressão ao pequeno comércio de rua, por causa da pandemia. 

É nesses horas que fica mais fácil – e mais perigoso para o regime – dizer: “Já não temos medo”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.