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Na onda do surfe

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Informações, comentários e curiosidades sobre surfe – a modalidade que tem o Brasil como novo protagonista – e outros esportes praticados no mar.

Belas (ou não), destemidas e do mar

Vamos falar sobre mulheres e ondas gigantes?

Por Renata Lucchesi
Atualizado em 5 jun 2024, 03h01 - Publicado em 2 Maio 2016, 19h29
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A havaiana Keala Kennelly e o tubo da temporada, em Teahupoo, no Taiti. (Foto: Tim McKenna/WSL)

Vamos falar sobre mulheres e ondas gigantes?

Todo mundo que acompanha o blog com certeza já ouviu falar de Maya Gabeira, a brasileira casca-grossa que há dois anos e meio sofreu um grave acidente em Nazaré, Portugal. Mas quantas outras big riders – ou seja, mulheres destemidas que enfrentam as maiores ondas do mundo – você conhece?

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No último dia 23, rolou o Big Wave Awards e, entre tantos homens premiados (inclusive o brasileiro Yuri Soledade, que ganhou na categoria de maior onda), duas mulheres fizeram por merecer o cheque de 10.000 dólares.

A primeira é Andrea Moller. A brasileira radicada na ilha de Maui, no Havaí, levou o prêmio de melhor performance feminina, por seu desempenho na temporada.

A segunda é Keala Kennelly. A havaiana de 37 anos entrou para a história como a primeira mulher a vencer uma categoria aberta para ambos os sexos: melhor tubo do ano. Com uma belíssima – e enorme – onda em Teahupoo, no Taiti, em 22 de julho do ano passado, Kennelly deixou para trás os outros quatro concorrentes. Todos homens.

Finalmente parece que as mulheres começaram a receber o merecido reconhecimento no mundo das ondas grandes. Mas ainda não é o suficiente. Mais do que prêmios, o que elas querem é competir.

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Até hoje, todos os principais eventos de ondas grandes do mundo contaram apenas com homens. Não é uma regra, mas os homens que decidem quem serão os competidores justificam que não há, ainda, mulheres à altura.

Na edição de 2016 do Titans of Mavericks, um único nome feminino destoava na lista de alternates – os reservas, caso algum dos 24 surfistas escalados não possa comparecer. A californiana Savannah Shaughnessy foi a sétima dos dez alternates e a segunda mulher convidada para o campeonato desde sua criação, em 1999. A primeira foi Sarah Gerhardt, em 2000. Nenhuma das duas chegou, de fato, a competir em Mavericks, apesar de terem crescido surfando essa onda e conhecerem-na como poucos homens.

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Andrea Moller levou o prêmio de melhor performance feminina. (Foto: Fred Pompermayer/WSL)

A reinvidicação das principais big riders do mundo é exatamente essa: não basta convidar uma mulher como suplente para um evento masculino a cada quinze anos. O que elas querem é um – ou dois, ou três, ou quatro – torneio feminino. Em um texto publicado no site The Inertia, Keala Kennelly, a dona do melhor tubo da temporada, explicou o porquê. “Homens competem contra mulheres no boxe, golfe, tênis ou basquete? A resposta é não. Como em todas as outras competições, as mulheres precisam do seu próprio espaço”.

O principal espaço dos surfistas de ondas grandes é o Big Wave Tour, realizado pela World Surf League, que, nesta temporada, deve ter oito eventos masculinos. A WSL também anunciou no mês passado que pretende realizar o primeiro campeonato feminino, entre 15 de outubro de 2016 e 28 de fevereiro de 2017, com duas paradas: Pe’ahi, no Havaí (sim, a famosa onda de Jaws) e Todos os Santos, no México.

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Um grande avanço, considerando que nunca houve um evento apenas para mulheres. O mais próximo disso foram as duas baterias femininas de exibição disputadas em Nelscott Reef, no Oregon, Estados Unidos. Uma em 2010 e outra em 2014.

Outro ponto levantado pelas big riders é a falta de patrocínio. A havaiana Paige Alms entrou para a história ao ser a primeira mulher fotografada entubando em Jaws, em janeiro de 2015. Para o The Guardian, ela disse que “os homens atualmente podem viver bem com o surfe de ondas grandes, mas para as mulheres não há praticamente nenhum pagamento”.

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No surfe em geral, por muitos anos os atletas homens foram aplaudidos por seus feitos dentro da água. As mulheres, por sua beleza fora dela – especialmente em campanhas publicitárias. “Todas as surfistas profissionais mais bem pagas são lindas e atletas incríveis, mas comercializadas como modelos ou vendidas como símbolos sexuais em propagandas”, criticou Alms.

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A duas vezes vice-campeã mundial Silvana Lima já denunciou esse preconceito em inúmeras entrevistas. Para a cearense, que até 2014, ano do título mundial de Gabriel Medina, era dona da melhor marca do Brasil no circuito, a falta de patrocínio principal que a assombra desde 2011 tem um motivo: ela não é a Barbie surfista – linda, loira, de olhos azuis -, peça central do imaginário dos homens que movimentam a indústria do esporte.

As declarações de Silvana, é claro, foram contestadas por muitos homens incapazes de admitir que o surfe, assim como tantas outras áreas da sociedade, é machista. Usemos, então, as palavras de Pedro Falcão, diretor executivo da Abrasp, a Associação Brasileira de Surf Profissional, em uma entrevista à revista TPM no fim do ano passado: “O surfe feminino precisa de um personagem, uma linda surfista, que além de surfar seja modelo, que ela tenha o poder de levar o surfe para a massa da população e não só atingir o nicho que já existe e consome o esporte”. Precisa de algo mais?

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