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Chefe de um palácio tomado pelo vírus, Bolsonaro não deveria estar na rua

Com 22 auxiliares já diagnosticados com a doença, Bolsonaro desfila com seu staff por cidades do DF

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 mar 2020, 13h49 - Publicado em 29 mar 2020, 12h51

Não faz muito tempo, Jair Bolsonaro chegou ao Brasil de um giro pelos Estados Unidos. Trazia no voo, pelo o que foi tornado público até agora, 22 infectados pelo coronavírus. Dois ministros de Estado, o general Augusto Heleno e o almirante Bento Albuquerque, pegaram a doença. Outros assessores e apoiadores presentes no voo também foram obrigados a se isolarem. O presidente fez dois testes e anunciou que ambos haviam dado negativo.

Na semana passada, um motorista de Jair Bolsonaro deu entrada num hospital de Brasília com quadro grave de saúde provocado pelo coronavírus. O Palácio do Planalto é, como o Radar já mostrou em diferentes publicações, um foco de coronavírus em Brasília. Nada disso impediu que o presidente da República pegasse nesta manhã de domingo seu gigantesco comboio de seguranças, motoristas e assessores e fosse dar um giro por cidades satélites de Brasília.

Uma aglomeração ambulante, o staff presidencial reuniu ainda mais pessoas por onde passou, em sua maioria gente simples, que se pegar o coronavírus de algum integrante da equipe presidencial, não terá hospital particular para recorrer. Acabará nas estruturas já debilitadas de saúde do SUS, ameaçando propagar ainda mais o vírus em regiões de baixa assistência pública e renda.

O risco de Bolsonaro ter saído espalhando o vírus só é equiparado em gravidade à mensagem passada por ele, ao estimular seus milhões de seguidores nas redes sociais a fazerem o mesmo em suas cidades. O presidente, que deveria dar o exemplo, como disse o governador João Doria, segue brincando com o perigo.

Como o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM) bem explicou, o momento é de isolamento social para evitar que uma onda de contaminados pelo vírus chegue ao SUS como um tsunami. Com muito mais doentes do que vagas nos hospitais, os médicos terão de escolher quem vive e quem morre, raciocinou o prefeito.

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Bolsonaro não entende nada disso. Ao ouvir de um ambulante que “a morte tá aí, mas seja o que Deus quiser — se não morrer da doença, vai morrer de fome”, ele esboçou sorriso. Se o ambulante pegar o vírus, não terá o conforto da suíte presidencial no Hospital das Forças Armadas. Tentará a sorte no SUS.

O presidente foi eleito em uma eleição legítima. Deve governar, portanto. Fazer o que lhe der na telha, no entanto, é atitude que coloca em risco todo o futuro do país.

Em tempo, o ministro da Saúde divulgou novos dados sobre a pandemia do coronavírus no Brasil, na tarde deste sábado. Segundo o pronunciamento feito à imprensa, e divulgado nas redes sociais do ministério, o Brasil tinha ontem 3.904 casos confirmados e 114 mortes. São Paulo tem o maior número de casos, são 1.406, e o Rio, em seguida, tem 558. Dez estados apresentaram óbitos. Até o momento, são 569 pessoas internadas com teste positivo para a Covid-19: não estão contabilizados os casos suspeitos.

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Mandetta contrariou o posicionamento de Bolsonaro sobre o retorno de boa parte das atividades do país. O ministro afirmou que deve ser necessária uma ampliação da quarentena, com padrões parecidos, em todo o território brasileiro.

“Nós estamos falando de vida. Vamos nos pautar pela ciência, nós vamos adotar medidas por critérios científicos e vamos fazer planejamento. Agora, temos que ter calma e frieza. O nosso sistema de saúde tem estruturas fortes”, disse Mandetta.

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