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Para militares, foco do país deve ser o combate ao vírus, não Bolsonaro

‘Tem que parar de dar atenção a isso e focar no que realmente interessa’, diz uma fonte da caserna sobre a retórica do presidente

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 abr 2020, 08h10 - Publicado em 20 abr 2020, 07h33

Com quase 40.000 brasileiros infectados pelo coronavírus e uma lista de cerca de 2.500 mortes na pandemia, o país deve concentrar todas as suas energias no combate ao verdadeiro inimigo.

No Exército, onde mais de 25.000 homens já arriscam as próprias vidas em defesa dos brasileiros nessa emergência global, os generais não estão fazendo contas para saber quantos tanques são necessários para fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. O foco é o vírus.

“Estamos na linha de frente, apoiando o governo federal, os governos estaduais e os municípios no combate a uma das maiores crises vividas pelo Brasil nos últimos tempos”, diz o comandante Edson Pujol, em sua “Ordem do Dia” no Dia do Exército, fazendo questão de lembrar as atividades de sua tropa no momento:

“A construção de hospitais de campanha, a desinfecção de instalações públicas, a produção de medicamentos e de materiais de proteção individual, a distribuição de alimentos e a participação em campanhas de conscientização, vacinação e doação de sangue, além de muitas outras ações, já empregam, diariamente, mais de 25.000 militares do Exército em todas as regiões do país”.

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Daí o motivo de a discussão golpista alimentada por Jair Bolsonaro ser tratada com enfado e silêncio pelos militares. “Bolsonaro fala, mas o que faz de concreto? Tem que ver o que tem de concreto. Nada! Até porque o Braga Netto e os generais estão nesse governo para fazer gestão. Deixa o presidente falar aos malucos sozinho”, diz um interlocutor do comando do Exército, diante do espetáculo golpista de domingo na frente do Quartel General do Exército.

Na visão do militar, o que interessa é o resultado da gestão de Bolsonaro. Sem tanques nem tropa para levar adiante um suposto golpe, o presidente tenta criar uma camuflagem ao seu despreparo como governante. Aí é que moram as questões importantes. “São malucos (os que foram aglomerar na frente do QG do Exército). Tem que ignorar. Quem diz que isso (o golpe militar) é passado continua remoendo o passado. Tem que parar de dar atenção a isso e focar no que realmente interessa”, argumenta um militar.

Na caserna há, sim, gente fazendo contas, mas não as que os “malucos” de Bolsonaro gostariam de fazer. Para um interlocutor do comando do Exército, há um roteiro desenhado, que passa pelo suposto abuso de poder presidencial.

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Para os militares, Bolsonaro, em sua parceria com a Procuradoria Geral da República, pode partir com tudo para cima de Rodrigo Maia, usando investigações da Lava-Jato para abrir processos de modo a intimidar o chefe da Câmara, inimigo número um do bolsonarismo.

No roteiro dos militares, Maia, diante da visível manobra, não teria outra saída a não ser autorizar a abertura de impeachment contra Bolsonaro. “Bolsonaro cairia e teríamos Mourão”, diz um militar.

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Vem desse raciocínio a constatação de que o país não deve perder tempo com os atos temerários de fim de semana do presidente da República. É fato que a postura de Bolsonaro, ao flertar com o que flertou, merece ser observada e registrada pela imprensa, mas as energias do país não devem estar focadas nisso, avaliam os militares. No mundo real, a guerra é contra esse vírus que promete matar muitos brasileiros.

Ante o despreparo presidencial, as instituições – Forças Armadas, Congresso e Supremo Tribunal Federal à frente — garantirão o funcionamento do Estado, como diz o comandante do Exército, em sua carta divulgada neste domingo: “Nação brasileira, nossa razão de ser e existir, conte sempre com o Braço Forte e a Mão Amiga do seu Exército.”

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