Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Raphael Montes

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

A força dos livros

Por que eles são tão potentes? E, para alguns, tão ameaçadores?

Por Raphael Montes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h35 - Publicado em 6 mar 2020, 06h00

Minha vida é cercada de livros — os que li, os que escrevi, os que ainda quero escrever. Acho mágica a relação que nasce no instante em que o leitor abre a primeira página e mergulha em personagens, dramas, mundos novos. Aos poucos, os dois — leitor e escritor — constroem uma intimidade rara, silenciosa, quase secreta, de ritmo próprio. Não é à toa que costumam dizer que o livro é melhor do que o filme. Afinal, ler um livro pressupõe cumplicidade, o leitor cria junto, imagina o rosto da personagem, a entonação da fala, o calor do beijo.

Só presenteio meus amigos com livros. Livros nos preparam para a vida, nos levam a lugares desconhecidos, nos oferecem bagagem emocional para lidar com uma gama de situações. Graças a eles, conhecemos o perigo corrosivo da dúvida em uma traição, ou da culpa de um crime banal, visitamos dores inéditas, conquistamos batalhas que não são nossas, vivemos aventuras épicas, intrigas internacionais, arrebatamentos amorosos e desejos inconfessáveis. Brincam até que livro deveria ser adjetivo. Você é tão livro, a gente diria a quem nos abre horizontes, nos aconchega, provoca e faz pensar.

“Cada um de nós é uma obra. Quanto mais você lê, mais livre, criativo e dono de si você se torna”

Livros criam pontes. Na adolescência, frequentei um clube de leitura. Desde que publico, meus leitores são como amigos e me levam a muitos lugares. No lançamento de meu romance de estreia, Suicidas, a editora fez minicadernos apenas com o prólogo para distribuição gratuita. Naquela época, voltando para casa, encontrei um morador de rua lendo o tal minicaderno. Não resisti e me aproximei. “Você gosta de ler?”, perguntei. Meio desconfiado, ele disse que gostava e reclamou: “Mas este aqui não vem completo. Já li e reli”. Minutos depois, voltei à esquina com um exemplar debaixo do braço, contei que era o autor e entreguei a ele. “Nunca havia ganho um livro de presente”, ele disse, emocionado. Na hora de fazer a dedicatória, perguntei seu nome. A resposta veio com orgulho: “Piolho. Coloca aí que é ‘pro’ Piolho”. Nunca me esqueci daquela noite.

Com frequência, eu me pego pensando na potência dos livros, das histórias que lemos e contamos uns aos outros. Mais um episódio me ocorre: em uma palestra para alunos de 7, 8 anos em uma escola pública, uma menina na última fileira ergueu a mão e me perguntou com desdém inocente: “Vem cá, deixa ver se eu entendi… Você ganha a vida inventando historinhas que saem da sua cabeça?”. Fiquei desarmado. Era simples, mas tão preciso!

Continua após a publicidade

É este o ofício do escritor: inventar histórias. Digo mais, é este o ofício do ser humano. Se pensarmos bem, todos nós contamos histórias. Reunimos amigos e contamos histórias. Da família, contamos histórias. Fazemos uma vida contando histórias. Inventamos a todo tempo nossa própria história. No ótimo livro A Louca da Casa, a autora Rosa Montero escreve: “Os seres humanos são, acima de tudo, romancistas, autores de um romance único cuja escrita dura toda a existência e no qual assumimos o papel de protagonistas”. Penso que é essa a resposta às perguntas lá de cima: cada um de nós é um livro. Um livro escrito em tempo real, em diálogo com outros. Quanto mais você lê, mais livre, criativo e dono de si você se torna. Aí está a potência que amedronta alguns. Seja um rebelde: dê livros de presente. E leia. Leia muito.

Publicado em VEJA de 11 de março de 2020, edição nº 2677

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.