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Raphael Montes

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Bucaneiros modernos

A naturalização da prática da pirataria on-line é assustadora

Por Raphael Montes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h11 - Publicado em 27 nov 2020, 06h00

Nesta semana, recebi cinco e-mails de leitores pedindo o “PDF gratuito” de um dos meus romances. Com toda a paciência, respondi que escrever livros é meu trabalho e, por isso, eu não enviava o material de graça. Se desejasse, o leitor deveria comprar o título. Para minha surpresa, recebi a seguinte resposta: “Não precisa mais. Consegui por esse link”. Sem resistir, cliquei no link. Ali, meu romance Dias Perfeitos estava disponível de graça, e um contador mostrava mais de 100 000 downloads. Ou seja, mais pessoas haviam baixado o livro pirata do que comprado nas livrarias. Fiquei pasmo.

Já há alguns anos, baixar filmes, séries e músicas se tornou algo tão comum que pouca gente tem vergonha de esconder. Com a popularização do livro digital, o hábito chegou à literatura. O assunto me incomoda desde a época da faculdade de direito na UERJ. Para mim, parecia um contrassenso que, após aulas sobre justiça e moralidade, o professor indicasse aos alunos que, em uma pasta com seu nome na xerox, havia textos e capítulos inteiros de livros para ser fotocopiados.

A naturalização dessa prática é assustadora. Tenho vários amigos que vivem de direitos autorais e que assumem consumir pirataria, principalmente para encontrar filmes, músicas e livros na web. Com certo orgulho, esses “piratas modernos” se gabam de conseguir um link com algum filme raro ou de encontrar de graça algum livro em inglês que custaria uma fortuna para comprar. Em geral, o argumento usado para piratear é a disseminação do conteúdo. Segundo essa lógica, a pirataria contribui para que o conteúdo seja mais consumido. No caso dos livros, ainda dizem em tom de consolo que certos leitores poderão comprar em seguida, caso gostem. Para mim, funciona como alguém que rouba chocolates numa loja de departamentos. É crime, mesmo que o ladrão aprove o chocolate e passe a comprá-lo depois.

Não sou contra autores que autorizam a publicação gratuita do seu trabalho — enquanto detentores dos direitos autorais, eles têm o direito de fazer o que bem entenderem. Por vezes, nos departamentos de marketing, as editoras oferecem trechos e capítulos do livro para down­load gratuito e legal, mas a obra completa de um autor não é (nem pode ser) amostra grátis de seu trabalho. Claro que não acredito que a arte atenda somente a fins econômicos — em alguns casos, já doei meus livros a bibliotecas de escolas públicas e a jovens carentes. Mas, em geral, fazer literatura, cinema e música é trabalho e deve ser remunerado como tal.

Sei que tentar impedir a pirataria é uma guerra inútil, principalmente porque travada no território traiçoeiro do mundo digital. Ao mesmo tempo, é importante dar nome às coisas e, pouco a pouco, ir mudando a mentalidade das pessoas. Da próxima vez que alguém (ou você mesmo) baixar algo ilegalmente na internet, não custa sublinhar que isso é pirataria e que prejudica o trabalho de toda uma cadeia de profissionais.

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Publicado em VEJA de 2 de dezembro de 2020, edição nº 2715

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