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O Brasil afunda, Bolsonaro nada

Fiel a seu estilo, o presidente culpa os outros por sua inoperância

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 jan 2021, 08h54 - Publicado em 8 jan 2021, 06h00

Mais de quarenta países estão vacinando, mais de 15 milhões de pessoas já foram imunizadas. Enquanto isso, no Brasil, onde já morreram 200 000 e não há data para o início da imunização, Jair Bolsonaro bota a culpa da falta de vacina nos laboratórios — sem nem por isso parar de fazer campanha contra ela.

Não é só vacina que falta. Depois de cinco meses sem se mexer, o governo promoveu um leilão para comprar 331 milhões de seringas e agulhas: ofereceu metade do preço de mercado e conseguiu 2,3% do que buscava. Fiel ao estilo Bolsonaro (“governar é botar a culpa nos outros”), o secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronel Elcio Franco, “explicou” o retumbante fracasso: “Os licitantes não aceitaram reduzir os valores de seus lances aos preços estimados”. Ah, bom.

Espinafrado por todo mundo, o Ministério da Saúde acertou com três fabricantes para receber 30 milhões de seringas (quanto aos restantes 390 milhões, só Deus sabe). Foi a primeira boa notícia no calvário que é a luta pela vacina, mas o governo logo voltou à normalidade: o presidente achou a seringa cara, desautorizou Pazuello e mandou suspender a compra. A vida dos brasileiros, evidentemente, Bolsonaro acha barata. Não que já não soubéssemos.

“É reconfortante saber que Bolsonaro já admite perder em 2022”

Como o barco faz água por todos os lados, cada um busca sua tábua de salvação. O governador de São Paulo, realista em relação à capacidade de entrega do governo, fechou com antecedência com a Sinovac. Os outros governadores conversam com a Pfizer — Carlos Lula, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), explicou: “A gente não vai ficar só olhando para o alento”. Clínicas particulares negociam a compra da vacina indiana Covaxin.

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Como o governo não fornece bote salva-vidas, há quem ache, curiosamente, que o melhor é obrigar todo mundo a morrer afogado. O deputado Marcelo Freixo declarou que “não permitiremos” que as clínicas particulares cobrem para vacinar seus clientes — apesar de o governo não ter nenhum interesse pela Covaxin. O Ministério da Saúde, em vez de negociar com as clínicas para chegar a um desenho bom para todos, embarcou na canoa furada e alertou para o fato de que as clínicas devem seguir seu “plano” — ora, se houvesse um plano minimamente crível, ninguém estaria desesperado procurando tábua de salvação.

Enquanto os brasileiros se afogam, Jair “eu-não-sou-coveiro” Bolsonaro pesca, nada, faz aglomeração terrestre e aquática (com uma claque que manda João Doria “tomar caracu”), anuncia que “o Brasil está quebrado, não consigo fazer nada”, bota a culpa da pandemia na imprensa. Em dois anos de governo, Bolsonaro nada fez — ou tentou — além de jogar a culpa nos outros, mas tripudia: “Vão ter que me aguentar até o final de 2022, podem ter certeza”.

Faltam mais de 700 dias para o pior governo da história chegar ao fim, mas é reconfortante saber que Bolsonaro já admite perder em 2022. Quanto à “certeza” de que completa o mandato, bem, aí depende, inclusive de o Brasil não estar quebrado. Recomenda-se a Jair que pergunte a Dilma o que acontece quando o país se torna financeiramente insustentável.

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