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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O corredor de escape do Exército

Com a impopularidade de Bolsonaro, militares sentem o ônus de ser governo

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 jul 2021, 16h05

Em janeiro de 2019, quando os ministros de Bolsonaro ainda desencaixavam suas mudanças para Brasília, o vice-presidente general Hamilton Mourão divagou sobre uma possível deposição do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Ao jornalista Roberto D´Ávila, da Globonews, Mourão disse que era necessário permitir um “corredor de escape para o Maduro e seu pessoal deixarem a Venezuela”.

“Eu até citei outro dia que na batalha de Lomas Valentinas (em 1868, na Guerra do Paraguai) (o líder das tropas da Tríplice Aliança, o então marques de) Caxias deixou um lugar para o (presidente paraguaio) Solano López escapar. Então nós temos que deixar um lugar para o Maduro e sua turma escaparem e o país se reconstruir a partir daí”, afirmou Mourão.

Mourão sabia do que falava. Nove semanas depois da entrevista, o líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, tentou derrubar Nicolás Maduro acreditando ter apoio de parte dos generais. Não tinha. O presidente Jair Bolsonaro, o vice Mourão, os ministros do GSI, Defesa e Relações Exteriores, além dos comandantes do Exército, Aeronáutica e Marinha sabiam com antecedência da tentativa de golpe na Venezuela e, embora torcessem pelo sucesso de Guaidó, não autorizaram o uso do território brasileiro para operações militares contra o governo Maduro.

Mais de dois anos depois, Maduro continua no poder e quem precisa de um corredor de escape é o Exército brasileiro. Liderados pelos generais Luiz Ramos e Braga Neto, o Exército ocupou metade dos ministérios e entrelaçou seu destino ao de Bolsonaro de maneira que não se sabe mais onde começa um e termina outro. Colheram o bônus de mais de 6 mil cargos em comissão, o controle da Petrobras e dos Correios e uma reforma de pensões que aumentou os ganhos, ao invés de reduzi-los como aconteceu com os civis. Com a negligência que matou mais de 543 mil e a corrupção que atrasou a encomenda de vacinas que poderia ter salvado milhares de vidas, os militares agora enxergam o ônus de ser governo.

A popularidade de Bolsonaro está em seu pior momento e as condições materiais para uma melhora (novo Bolsa Família, efeitos econômicos do ciclo de commodities, geração de empregos com a retoma) só devem aparecer em 2022. Em termos frios, hoje é mais provável que Bolsonaro perca do que vença a eleição, causando um rombo no plano dos generais Ramos e Braga Neto de criar uma segunda versão do Regime Militar, agora eleito. Se Bolsonaro perder em outubro de 2022, restam duas alternativas às Forças Armadas: embarcar com o presidente em uma quartelada para impedir a posse do vencedor das eleições, com os riscos decorrentes de o golpe fracassar, ou encontrar um corredor de escape.

Esse corredor está aberto hoje. Os ex-ministro da Defesa Nelson Jobim (a pedido de Lula) e Raul Jungmann (em nome da tal Terceira Via) estão procurando generais, almirantes e brigadeiros da ativa e da reserva para ensaiar uma transição pacífica para os quarteis no caso de derrota de Bolsonaro. A transição imaginada pelos ex-ministros da Defesa seria como uma operação militar de desocupação, com os oficiais retornando à caserna como se o governo Bolsonaro houvesse sido uma missão, como foi a ação brasileira no Haiti ou as dezenas de operações de Garantia da Lei e da Ordem. As Forças Armadas podem negociar essa retirada na pré-campanha, ainda com poder efetivo sobre a máquina federal, ou depois de uma possível derrota bolsonarista, quando os ânimos naturalmente estarão mais exaltados.

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