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Alexandre Padilha volta à Saúde com velhas fórmulas e desafios complicados

Patrono de marcas petistas como Mais Médicos e Farmácia Popular tem a missão mostrar resultados após gestão decepcionante de Nísia Trindade

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 mar 2025, 08h00

A queda era mais do que anunciada e foi concretizada na última terça-feira, 25. Após um longo processo de fritura em fogo alto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializou a saída de Nísia Trindade do Ministério da Saúde. Se a demissão não surpreendeu ninguém, o nome do seu sucessor, muito menos. O médico Alexandre Padilha, que estava na pasta de Relações Institucionais, volta ao cargo que ocupou entre 2011 e 2014, sob Dilma Rousseff, e de onde saiu após ter deixado duas grandes marcas das gestões petistas: liderou a criação do programa Mais Médicos e alavancou o Farmácia Popular, que saiu de algo em torno de 1 milhão de beneficiários para quase 20 milhões ao final da sua gestão. Padilha foi escolhido no contexto de um governo acuado pela perda abrupta de popularidade, que precisa ser revertida antes da eleição de 2026. O objetivo, nada simples, é fazer com que um dos ministérios mais importantes da Esplanada tenha alguma iniciativa importante para exibir à população, o que Nísia não conseguiu.

A primeira missão foi dada diretamente por Lula e resume o que se espera de Padilha: diminuir as filas por uma consulta. Na campanha de 2022, Lula vendeu com entusiasmo o futuro programa Mais Acesso a Especialistas — no entanto, ele só começou a sair do papel dois anos depois. Em dezembro, finalmente, a gestão Nísia anunciou um investimento de 2,4 bilhões de reais em áreas como cardiologia, oncologia e oftalmologia, a fim de diminuir o tempo de espera para consultas, exames e resultados nessas especialidades. Em seu primeiro post nas redes sociais após a escolha, Padilha disse que dará “atenção especial para a redução do tempo de espera de quem busca cuidado na rede de saúde”. “Esse é o comando que recebi do presidente Lula e ao qual vou me dedicar integralmente”, escreveu.

MISSÃO - Com Dilma e médico cubano em 2013: tarefa agora é acabar com filas
MISSÃO - Com Dilma e médico cubano em 2013: tarefa agora é acabar com filas (Roberto Stuckert Filho/PR)

A fama de “tocador de programas de sucesso” pode ajudar Padilha em uma área em que o governo cambaleia. A nova pesquisa Genial/Quaest divulgada mostra o tamanho da insatisfação da população. Nos oito estados que são os maiores colégios eleitorais do país, a saúde foi apontada como o principal problema (em quatro) ou o segundo pior (em outros quatro, onde ficou atrás de violência). A ausência de uma grande vitrine justamente em um ministério que tem um dos maiores orçamentos da Esplanada, atrás apenas do Desenvolvimento Social e da Previdência, é tida como o principal motivo da queda de Nísia. A avaliação de auxiliares de Lula era de que uma pasta com tamanho calibre tinha a obrigação de ser uma das mais positivas do governo.

arte padilha

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Nísia, pelo contrário, enfileirou problemas. Um dos mais graves foi o aumento vertiginoso da dengue, que matou 6 230 pessoas em 2024, quase seis vezes o registrado no ano anterior (1 179). Por ironia, o último evento do qual ela participou, na terça 25, foi o lançamento da primeira vacina 100% nacional e de dose única contra a doença, o que vai permitir distribuir 60 milhões de doses a partir de 2026. A vacinação, aliás, uma área onde o governo Lula deveria brilhar, rendeu munição para a artilharia pesada da oposição. Pesquisa feita pela Confederação Nacional de Municípios no final do ano passado mostrou que duas em cada três cidades (64%) relataram falta de algum tipo de vacina, inclusive contra a covid-19. Esperava-se que com Nísia, uma socióloga, pesquisadora e ex-presidente da Fiocruz, o desempenho fosse o oposto do registrado no governo Jair Bolsonaro, quando o negacionismo científico e a demora para investir na imunização, entre outros fatores, ajudaram o país a atingir a triste marca de 700 000 mortes.

Deputado por dois mandatos e responsável pela articulação do governo no Congresso até a última semana, Padilha terá um outro desafio: o alto interesse político pela pasta. A carbonização de Nísia se deu, em grande parte, pela disputa em torno das emendas parlamentares: a Saúde pagou no ano passado 22,9 bilhões de reais em indicações de deputados e senadores, nada menos que 57% do total quitado pelo governo (veja o quadro). A demora em liberar os pagamentos foi alvo de críticas de políticos importantes, a começar do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que chegou a capitanear um documento com a adesão de cinco líderes partidários cobrando esclarecimentos a respeito de valores que estariam sendo represados. Embora houvesse ressalvas do Centrão em relação à figura de Padilha — até com trocas de farpas públicas entre ele e Lira —, a chegada do petista foi recebida com algum otimismo. A leitura é de que ele tem mais traquejo político, é mais “cascudo”, com mais capacidade para entender as demandas do Congresso, e não deve suscitar problemas no que diz respeito à liberação das emendas.

CONSTRANGIMENTO - Lula e Nísia em evento que antecedeu demissão: ministra caiu após um longo período de fritura
CONSTRANGIMENTO - Lula e Nísia em evento que antecedeu demissão: ministra caiu após um longo período de fritura (Ton Molina/Fotoarena/.)
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Outro tema que Padilha deve contornar para evitar desgaste político é a questão da agenda de costumes. Uma resolução sobre aborto na rede pública, aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde logo no início da gestão — e que nem era iniciativa direta de Nísia —, é utilizada até hoje para criticar o governo. Na última quarta, 26, em entrevista ao programa Ponto de Vista, de VEJA, o então presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Silas Câmara (Republicanos-AM), citou essa resolução e outras portarias e normas internas adotadas para garantir ações de diversidade na saúde que não ajudaram a diminuir a desconfiança da bancada em relação ao governo. Também é citado o esforço da ex-ministra pela obrigatoriedade de vacinação contra a covid-19 em crianças, outro assunto que mobiliza negativamente a oposição. “Na busca por uma marca, acabaram criando factoides. Em vez de agendas de mudança, optaram pela agenda identitária, de divisão”, diz Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde de Bolsonaro na pandemia.

AGONIA - Pacientes em hospital: saúde está no topo das aflições dos eleitores
AGONIA - Pacientes em hospital: saúde está no topo das aflições dos eleitores (Ronny Santos/Folhapress/.)

Por ser “não médica”, como dizem os seus críticos, Nísia também teve dificuldade para entender o gigantesco sistema de saúde do Brasil, coisa que não se espera de Padilha. Epidemiologista formado pela USP e ph.D. em saúde pública pela Unicamp, além de ter atuado em um programa de doenças tropicais da Organização Mundial da Saúde (OMS), Padilha conta com o aval do setor. “Nísia tem uma excelente formação, mas não tem conhecimento da atuação de profissionais da saúde básica na ponta, na atenção primária e especializada”, diz um aliado de Lula. No dia seguinte à saída dela, o Conselho Federal de Medicina disse em nota que tanto o órgão quanto a categoria haviam tido “grande dificuldade para manter diálogo efetivo” com a gestão da ministra e comemorou a chegada do novo titular.

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TROCA - Com Motta, Lula e Alcolumbre: governo terá novo articulador político
TROCA - Com Motta, Lula e Alcolumbre: governo terá novo articulador político (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Padilha já tem ao menos dois nomes escolhidos para ajudá-lo em suas missões. O primeiro é Mozart Sales, médico que atuou com o ministro em sua primeira gestão na Saúde e que é considerado o “cérebro” por trás do programa Mais Médicos. Mozart era assessor especial de Padilha na Secretaria de Relações Institucionais e deve seguir com ele para a Saúde. O segundo nome é Sidônio Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social. Segundo aliados, Padilha e Sidônio são próximos e já têm conversado sobre estratégias relativas às ações da pasta. No caso do Mais Médicos, um dos primeiros passos será tentar expurgar a pecha negativa que o programa carrega por conta da contratação de cubanos, algo que foi feito apenas no início da sua implantação. Outra parte do desafio é explicar à população o que tem sido feito no Mais Médicos. Esvaziado por Bolsonaro, o programa dobrou o número de médicos nos últimos dois anos — tem 27 000 profissionais —, ampliou as vagas na Amazônia e já tem novo edital de contratação previsto para este ano.

O trabalho de Padilha tende a ser facilitado no início por ele não ser um “estranho no ninho” na pasta nesta gestão. Foi o padrinho político de Nísia e é próximo de secretários responsáveis por áreas estratégicas, relacionadas diretamente aos programas a que deseja dar tração, como Alexandre Massuda (Atenção Especializada), Felipe Proenço (Atenção Primária, que abarca o Mais Médicos) e Carlos Gadelha (Ciência, Tecnologia e Inovação, que inclui o Farmácia Popular). O ministro também é próximo da ala paulista do PT, principalmente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

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CAÇA AO MOSQUITO - Ação contra a dengue: mais de 6 000 mortos em 2024
CAÇA AO MOSQUITO - Ação contra a dengue: mais de 6 000 mortos em 2024 (Andressa Anholete/Getty Images)

A troca na Saúde foi o pontapé inicial da esperada reforma ministerial, cuja necessidade se insinua desde o ano passado. Na vaga deixada por Padilha, a articulação política deve passar para um nome do Centrão, no que seria uma forma de garantir mais governabilidade na segunda metade da sua gestão. O nome mais cotado é o de Silvio Costa Filho (Republicanos), ministro de Portos e Aeroportos. Elogiado nas últimas semanas por Lula, ele tem a confiança do presidente e boa interlocução com nomes do Centrão, como o presidente da Câmara, Hugo Motta, que é do seu partido. Na quarta, Lula disse que já tinha o nome para o posto, mas não o revelou porque o escolhido ainda não havia sido convidado. A opção por Padilha na Saúde não só deve fazer girar a roda da reorganização da Esplanada, mas é ainda uma aposta numa espécie de refundação do governo na reta final do mandato. O “paciente” demanda um tratamento intensivo — a ver se velhas receitas, como as representadas pelo ministro, serão a terapia adequada.

Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2025, edição nº 2933

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