Alunos têm melhor desempenho quando professor trabalha em uma única escola
Percentual de docentes com dois ou mais empregos no Brasil é maior do que a média global, aponta estudo

Estudantes brasileiros apresentam melhores resultados quando matriculados em escolas em que mais de 80% dos professores possuem contrato em tempo integral. Estudo mostra que esses alunos têm um ganho de dez pontos em matemática, depois de considerado o perfil socioeconômico dos jovens e das unidades de ensino. A relação se baseia no último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e faz parte do relatório “Perspectivas internacionais para o fortalecimento dos Anos Finais do Ensino Fundamental: diálogos com foco em políticas para o Brasil”, organizado pelo Itaú Social em parceria com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A pesquisa revela que 20% dos professores brasileiros dos anos finais do fundamental (6º ao 9º ano) trabalham em duas ou mais escolas. Já a média global é de apenas 5%. “Cada escola e turma de alunos apresentam dinâmicas e culturas próprias. Portanto, quando um professor dedica tempo exclusivo a uma unidade, tem melhores condições para construir relações positivas com os estudantes, suas famílias e o território, contribuindo para o desenvolvimento de uma comunidade escolar mais coesa”, analisa a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes.
Há disparidade também no tempo dedicado à sala de aula pelos docentes: no Brasil, ele é de 67%, enquanto nos países da OCDE essa carga horária é de 46%. O estudo explica que a realização de avaliações e a manutenção da disciplina dos alunos estão entre os principais fatores de estresse. Na realidade dos professores brasileiros, sobre pouco tempo para formação, planejamento e fortalecimento entre escola e comunidade. “A defesa pela escola em tempo integral para o aluno precisa vir acompanhada do tempo integral para o professor também”, destaca Patricia.
Há exemplos positivos de políticas destinadas ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional nas escolas. O relatório cita experiências na Inglaterra e Colômbia. No Brasil, o Ministério da Educação lançou no ano passado o programa “Escolas das Adolescências”, voltado aos anos finais do fundamental. A iniciativa inclui ampliação das formações docentes, indicação de professores referência para a transição do 5º para o 6º ano e incentivo à integração entre turmas.