Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Alvo de investigação de propina, Crivella ainda faz tudo para se reeleger

O pecado da corrupção acontece justamente quando o prefeito prepara o terreno de mais uma campanha eleitoral

Por Sofia Cerqueira e Leandro Resende
Atualizado em 4 jun 2024, 14h55 - Publicado em 6 dez 2019, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Eleito com a promessa de “cuidar das pessoas”, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), anda precisando muito dar um trato na própria imagem. À frente de uma gestão altamente impopular, Crivella agora está envolvido em investigação do Ministério Público fluminense sobre a existência de um “Q.G. da propina” dentro da prefeitura. A revelação de mais um rolo na sua avantajada lista, em que constam dois pedidos de impeachment, ruas abandonadas, caos nos hospitais e obras paralisadas, cola no bispo licenciado da Igreja Universal o pecado da corrupção que ele sempre disse abominar e acontece justamente quando Crivella prepara o terreno para tentar a reeleição no ano que vem.

    A apuração do MP gira em torno de um suposto esquema de suborno para beneficiar empresas interessadas na liberação de pagamentos atrasados. A troca de favores apareceu na delação premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela Lava-Jato do Rio em 2018. Segundo ele, o operador do “negócio” na administração carioca seria o empresário Rafael Alves, homem de confiança de Crivella desde a campanha eleitoral de 2016, quando atuou como captador de doações. O irmão dele, Marcelo Alves, foi nomeado pelo prefeito para a presidência da Riotur. Os procuradores confirmam que Crivella é um dos alvos da investigação, ao que tudo indica por causa de sua proximidade com o operador.

    Ao saber que a denúncia seria publicada pelo jornal O Globo, Crivella se antecipou e divulgou nas redes sociais da prefeitura um vídeo em que acusa o jornal de ser um “panfleto político”. Depois da publicação, postou novo vídeo com ofensas aos autores da reportagem. O destempero verbal do ex-bispo, conhecido pelo tom pausado e didático, faz parte de uma das táticas que ele pretende usar para se reeleger: segundo aliados e adversários do prefeito ouvidos por VEJA, a imprensa sempre será seu alvo preferencial quando aparecerem denúncias desabonadoras. Outras estratégias compõem seu arsenal. Uma delas é buscar escancaradamente ligar seu nome ao de Jair Bolsonaro, aproveitando a brecha aberta pelas desavenças do presidente com o governador do Rio, Wilson Witzel — na trilha desse objetivo, Crivella marca presença em toda e qualquer passagem de Bolsonaro pela cidade e anda insistindo para que ele indique o vice de sua chapa em 2020.

    Para dar asas à sua candidatura, uma linha de ação do prefeito é pisar no acelerador nos gastos com publicidade. De acordo com um levantamento obtido por VEJA, em três anos foram desembolsados 145 milhões de reais para lustrar a imagem do governo, sendo 59 milhões só em 2019 (19 milhões a mais do que em 2018). O valor total é 24% mais alto do que a verba destinada à contenção de encostas, um constante ponto de atrito entre a prefeitura e a população. A Avenida Niemeyer, cartão-postal da cidade, está interditada há seis meses em decorrência de deslizamentos, e até hoje só metade das obras foi concluída. Quase todos os dias, o trânsito entre a Barra e a Zona Sul fica um caos em decorrência disso. Às sextas, ainda pior, o inferno se instala. “Ele abandonou o Rio”, acusa a vereadora Teresa Bergher (PSDB). “Crivella desistiu de ter um projeto para a cidade e só pensa em se perpetuar no poder”, completa o vereador Paulo Messina (PSD), ex-secretário e eminência parda do governo, hoje desafeto de Crivella. Em nota, a prefeitura diz que os gastos mencionados incluem pagamentos de salários e que é “obrigação dar publicidade aos atos da administração pública”.

    AV. NIEMEYER-INTERDICAO-2019-22.jpg
    DESCASO - Avenida Niemeyer: trânsito interditado há seis meses (Fabiano Rocha/Agência O Globo)
    Continua após a publicidade

    No contato mais direto com potenciais eleitores, a prefeitura vem orientando administradores de bairros a mostrar a grupos escolhidos um vídeo de dezesseis minutos, intitulado Você Sabia?, de pura exaltação a feitos de sua gestão. Na abertura, Crivella aparece dizendo: “Olha, você já deve ter ouvido que o prefeito não está fazendo nada”. E tome bondades, mais ou menos fundamentadas. Dois assessores, Marcos Luciano e Margareth Cabral, são os responsáveis, em um grupo de mensagens a que VEJA teve acesso, por instruções bastante específicas aos administradores sobre como exibir o vídeo: além de projetá-­lo em telões instalados em praças e salas de órgãos públicos, eles precisam gravar depoimentos de quem assistiu a ele, com um roteiro preestabelecido. Pergunta: “Você sabia dessas coisas?”. Resposta ensaiada previamente: “Não”. Pergunta: “Por quê?”. Resposta decoradinha: “Porque a Globo não mostra”. Com 72% de desaprovação, segundo uma sondagem da Paraná Pesquisas feita no mês passado, Crivella não mede esforços para tentar reverter o quadro. É a prefeitura cuidando do que, na verdade, importa para ela: a reeleição do prefeito.

    Publicado em VEJA de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.