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Torres diz à CPMI que não sabe de quem recebeu minuta do golpe

Ex-ministro chamou documento de 'apócrifo' e 'imprestável', disse que nunca questionou resultado eleitoral e que deixou 'plano' antes de viajar aos EUA

Por Da Redação Atualizado em 8 ago 2023, 17h57 - Publicado em 8 ago 2023, 09h17
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  • A CPMI do 8 de Janeiro ouviu nesta terça-feira, 8, o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça Anderson Torres. O ex-auxiliar de Jair Bolsonaro tinha o direito, concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, de ficar em silêncio diante de perguntas que poderiam “resultar em seu prejuízo ou em sua incriminação”.

    Em sua fala inicial, Torres afirmou que tem “interesse em esclarecer os lamentáveis fatos” do dia 8 de janeiro e que, “em todos os depoimentos” que prestou, sempre se “pautou na verdade” e “se colocou à disposição das autoridades para cooperar com aquilo que estivesse ao meu alcance para elucidação dos fatos”. “Sempre tive atuação técnica e profissional nos cargos que ocupei. Meu trabalho sempre foi técnico (tanto na secretaria do DF quando no ministério), focado no interesse público e sem qualquer pretensão política”, disse.

    O ex-ministro salientou que retornou ao Brasil após os atos golpistas, “logo que foi possível”, para se apresentar à Justiça. Sobre a chamada minuta golpista encontrada em sua casa, Torres disse se tratar de um “documento apócrifo, sem data, uma fantasiosa minuta”. Chamou ainda o texto de “imprestável para qualquer fim” e de “aberração jurídica”. Segundo ele, a minuta não foi jogada no lixo por “mero descuido”. “Não sei quem entregou e desconheço as circunstâncias em que foi produzido. Sequer cogitei encaminhar ou mostrar pra alguém”, afirmou.

    Torres também falou sobre a operação da Polícia Rodoviária Federal que supostamente teria bloqueado estradas no dia 30 de outubro de 2022, data do segundo turno das eleições, e afirmou que “não houve interferência do Ministério da Justiça no planejamento operacional da PRF” e que “o planejamento no segundo turno foi semelhante ao do primeiro turno e foi executado sem alterações”. Segundo ele, ninguém deixou de votar e o próprio TSE reconheceu isso. “Eu não tinha atribuição de vetar o planejamento operacional de qualquer instituição”, ressaltou.

    O depoente também disse que nunca “questionou o resultado das eleições” e que foi “o primeiro ministro a receber a equipe de transição”. “No meu caso, Flávio Dino, que seria meu sucessor”, lembrou. “Entreguei relatórios, agi de forma transparente e sempre no sentido de facilitar. Durante a transição, não foi registrado qualquer contratempo e tudo correu dentro da normalidade”, afirmou.

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    Torres contou ainda que colocou a Polícia Federal à disposição da Secretaria de Segurança do DF para prestar todo o apoio necessário após a tentativa de atentado a bomba no aeroporto de Brasília. Sobre os acampamentos de bolsonaristas em frente aos quartéis, disse que, enquanto esteve no Ministério da Justiça, “a PF teve total liberdade para monitorar os locais”.

    “Nunca houve omissão ou leniência de minha parte enquanto ministro sobre esses acampamentos. Quando reassumi a secretaria do DF, minha primeira ação foi tratar do desmonte do acampamento em frente ao QG do Exército (de Brasília). Em uma reunião no dia 6, nós tratamos da retirada total do acampamento, que ocorreria a partir do dia 10 de janeiro”, revelou.

    Segundo o depoente, a subsecretaria do DF se reuniu no dia 6 de janeiro com diversos órgãos para tratar das medidas de segurança, mas a Secretaria de Segurança do DF não tem atribuição operacional. “Nesta reunião, todos os presentes assinaram o documento se comprometendo a cumprirem as diretrizes do planejamento”, revelou. “Até a noite do dia 6 eu não tive qualquer informação oficial indicando que haveria ações radicais no dia 8. Se o protocolo de ações integradas (PAI) fosse seguido à risca, seríamos poupados dos lamentáveis atos do dia 8 de janeiro. Houve falha grave na execução do PAI”, acrescentou.

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    “Viajei de férias com minha família no dia 6 à noite, após aprovar o PAI e enviar para todos os envolvidos. Não recebi qualquer informação sobre a possibilidade de atos violentos no dia 8. A viagem foi programada com antecedência e as passagens, compradas em novembro. Se eu tivesse recebido qualquer alerta ou informe de inteligência indicando risco iminente de violência ou vandalismo, não teria viajado. Acompanhei a distância os tumultos e fiquei muito preocupado com os atos sendo praticados e o protocolo sendo descumprido”, completou Torres.

    REQUERIMENTOS

    O depoimento de Torres foi objeto de dezessete requerimentos. Entre os autores, estão a própria relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), e os senadores Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), Eduardo Girão (Novo-CE), Rogério Carvalho (PT-SE), Fabiano Contarato (PT-ES), Marcos do Val (Podemos-ES) e Izalci Lucas (PSDB-DF). Na ocasião dos ataques aos palácios dos Três Poderes, Anderson Torres era secretário de Segurança Pública do DF e viajou para os Estados Unidos de férias.

    Com base no plano de trabalho, Eliziane Gama classifica como importante a colaboração de Torres, que ficou preso por quatro meses e está em uso de tornozeleira eletrônica, como testemunha para esclarecer fatos relacionados ao 8 de Janeiro. Além de informações sobre o período em que esteve à frente da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, no início de janeiro, a relatora considerou importante colher detalhes sobre as operações de segurança na véspera do segundo turno das eleições presidenciais, além dos ataques à sede da Polícia Federal, em Brasília, em 12 de dezembro, e da tentativa de explosão de uma bomba em um caminhão-tanque nas imediações do aeroporto de Brasília.

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    A comissão também aprovou a quebra de sigilo telefônico de Anderson Torres. Entre outros dados, os parlamentares requerem informações sobre uma minuta golpista encontrada pela Polícia Federal na casa do ex-ministro de Bolsonaro após operação de busca e apreensão. Torres teve prisão decretada em 14 de janeiro em razão de indícios de omissão nos ataques de 8 de janeiro, em Brasília. Ele permaneceu preso por quatro meses e sua soltura foi autorizada no dia 11 de maio por Alexandre de Moraes, que determinou medidas cautelares, entre as quais o uso da tornozeleira eletrônica.

    (com Agência Senado)

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