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Após Covid-19, Fernando de Noronha tem protestos por reabertura mais ampla

Empresários e trabalhadores do arquipélago, que ficou cinco meses sem turismo, promovem atos na ilha e em Recife para pedir flexibilização do protocolo

Por Kleber Nunes, de Recife
Atualizado em 8 dez 2020, 16h55 - Publicado em 8 set 2020, 20h17
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  • Uma semana após a reabertura oficial do turismo em Fernando de Noronha, depois de mais de cinco meses fechado em razão da pandemia do novo coronavírus, empresários e trabalhadores do setor foram às ruas nesta terça-feira, 8, no arquipélago e em Recife para exigir do governo estadual a flexibilização do protocolo de entrada de visitantes. Donos, funcionários e ex-funcionários de pousadas, hotéis, bares, restaurantes e empresas de receptivo se dizem indignados com o “tratamento desigual” que o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), estaria dando ao setor na ilha em relação ao do continente.

    Desde o dia 1º de setembro, apenas pessoas que já contraíram e estão recuperadas da Covid-19 podem desembarcar em Noronha. No sábado, 4, o primeiro voo a aterrissar na ilha depois da autorização desembarcou apenas quatro turistas. Por outro lado, nas praias da região metropolitana de Recife, o fim de semana, considerado a abertura não-oficial do verão, o que se viu foi faixa de areia e os hotéis lotados. Em Porto de Galinhas, outro destino bastante procurado, a prefeitura estima que 90 mil pessoas tenham visitado a praia, quase 30% a mais do que no mesmo período do ano passado.

    “Há seis meses tive que fechar meu restaurante e vir com meu pai para o Recife. Estamos nos virando vendendo água mineral no centro [comercial] para ajudar minha mãe, irmã e meu sobrinho de 5 anos que ficaram em Noronha. Por que lá liberam o acesso só para quem teve Covid-19 e aqui liberam para todo mundo sem nenhum controle?”, questiona Janaína de Morais, 31 anos, dona do restaurante Barraca das Gêmeas, que existe há 25 anos, na praia Cacimba do Padre, no arquipélago. Com cerca de cinquenta pessoas, que vivem e trabalham em Noronha, ela participou de uma carreata que foi da praia de Boa Viagem, na zona sul de Recife, até o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo. Puxados por um pequeno trio elétrico, os manifestantes retardaram o trânsito e exibiram faixas pedindo uma “verdadeira reabertura” de Noronha. Simultaneamente, ilhéus realizavam outra carreata no arquipélago.

    Basicamente, o setor turístico da ilha quer que a exigência seja apenas da realização de um exame RT-PCR feito 72 horas antes do embarque e um outro teste rápido para detectar o novo coronavírus no dia da partida para a ilha. “O que as entidades que representam os trabalhadores de Noronha propõem é que todos que não estejam infectados possam visitar a ilha, e não esse protocolo esdrúxulo e desrespeitoso do governo”, disse José Maria Coelho Sultanum, 64, dono da Pousada Zé Maria, a mais famosa de Fernando de Noronha.

    Cerca de uma hora depois da manifestação na frente do palácio, uma pequena comissão de empresários e funcionários foi recebida pelo governo. Em nota, a gestão estadual informou que ouviu as reivindicações e preparou um documento que “será encaminhado ao Comitê Socioeconômico de Enfrentamento ao Coronavírus para avaliação e eventual deliberação”. A expectativa é a de que um posicionamento seja dado até quinta-feira, 10.

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    Retomada

    “Tudo estava praticamente vazio, com apenas ilhéus circulando e, muitas vezes, para pedir ajuda porque estavam passando necessidade. Agora esses mesmos moradores estão indo para rua, mas, desta vez, felizes fazendo faxina nas casas e arrumando os estabelecimentos”. Os cenários descritos pelo chefe de salão Marcus Vinícius Heleno da Silva, 31 anos, resumem o que foram os últimos meses em Fernando de Noronha desde o registro do primeiro caso de Sars-Cov-2 e o início das medidas de isolamento no arquipélago em março, até a reabertura para os turistas no dia 1º deste mês.

    Marcus Vinícius estava há nove meses trabalhando no primeiro emprego em Noronha, já “acostumado à badalação e ao fluxo intenso de brasileiros e estrangeiros”, quando foi surpreendido pela pandemia da Covid-19. Ele foi um dos três funcionários do restaurante onde trabalha que tiveram o contrato rescindido sob à condição de ficar com alojamento, alimentação e ajuda de custo garantidos pelos patrões. Mesmo assim, também precisou do apoio de terceiros, que doaram alimentos para ajudar a atravessar o período mais agudo da crise.

    O chef de cozinha Thiago Silva, 37, há 14 anos morando em Fernando de Noronha, também compartilha agora do mesmo clima de otimismo. Embora tenha conseguido manter o emprego, ele precisou retornar a Natal, no Rio Grande do Norte, para implantar no continente o serviço delivery do restaurante onde trabalha há uma década. “A vida está começando a voltar ao normal e isso cria uma expectativa muito grande e nos deixa bastante empolgados para recomeçar em Noronha”, disse.

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    A esperança de quem vive ou vivia em Fernando de Noronha não é para menos, 98% da economia da região depende do turismo. De 21 de março, quando entrou em vigor o fechamento da ilha para turistas até agosto, no lugar de salários, muitas vezes acrescidos de gorjetas, os trabalhadores receberam cestas básicas e um vale-gás de 200 reais fornecidos pelo governo de Pernambuco, além do auxílio-emergencial, do governo federal.

    Noronha – Soraia
    Soraia Ulisses, sócia do restaurante Varanda, que existe há onze anos em Fernando de Noronha e empregava diretamente 25 pessoas: tempo para adaptação (Gustavo Belarmino/Divulgação)

    “A flexibilização deveria ser maior e menos burocrática para o turista. É perfeitamente possível autorizar qualquer pessoa, seja ela já infectada ou não, desde que haja uma fiscalização intensa. Como Fernando de Noronha é pequena, daria para fazer o controle e o monitoramento”, sugeriu a empresária e sócia do restaurante Varanda, Soraia Ulisses. O estabelecimento dela funciona há onze anos na ilha e empregava diretamente 25 pessoas. Para o retorno, Soraia já deu início à recontratação de onze funcionários para o atendimento de no máximo sessenta clientes por vez, o que, segundo ela, é outro “problema”. “Foi muito curto o espaço de tempo entre o anúncio e o início oficial da reabertura. Para contratar, o empresário precisa seguir uma série de protocolos necessários à entrada de novos moradores na ilha, isso leva em média quatorze dias, ou seja, não vamos reabrir agora. Ao mesmo tempo precisamos adaptar o restaurante a todas as novas normas de segurança”, afirmou.

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    O presidente da Associação dos Condutores e Divulgadores de Informações Turísticas de Fernando de Noronha (Acitur-FN), Ailton Flor, concorda que a retomada do turismo poderia ser mais célere. “Finalizamos a implantação do protocolo, que já vínhamos estudando a partir das diretrizes do Ministério do Turismo e da Secretaria de Turismo de Pernambuco. Também realizamos simulações de passeios tomando todos os cuidados e vimos que é possível receber qualquer pessoa. Restringir a quem já foi infectado torna mais lento o processo”, disse.

    Noronha – Ailton Flor
    O presidente da Associação dos Condutores e Divulgadores de Informações Turísticas de Fernando de Noronha (Acitur-FN), Ailton Flor: mais celeridade (Arquivo pessoal/Divulgação)

    A Administração-Geral de Fernando de Noronha diz que o arquipélago não registra contaminação comunitária desde o dia 8 de maio – até este primeiro fim de semana de reabertura para os turistas, o distrito tinha confirmado 95 casos sendo 93 já recuperados e nenhum óbito. Além do hospital São Lucas, com doze leitos de enfermaria e duas salas semi-intensivas, o local conta com mais seis leitos de enfermaria exclusivos para Covid-19 em um hospital de campanha.

    “Entendemos a ansiedade de todos. Também queremos voltar ao normal, mas não estamos na época do querer, temos que lidar com a ciência e não com achismos. Vamos respeitar todos os cuidados recomendados pelas autoridades médicas e sanitárias preservando vidas até atingir a plenitude das atividades na ilha”, declarou o administrador-geral do arquipélago, Guilherme Rocha.

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