O novo depoimento do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, marcado para a próxima terça-feira, 19, em Brasília, é cercado de grande expectativa. A convocação ocorreu após a Polícia Federal (PF) ter recuperado dados que haviam sido apagados de equipamentos eletrônicos (celular e computador) do militar. Cid fechou acordo de delação premiada com a PF, em setembro de 2023, após ter sido preso no âmbito do inquérito que apura fraudes em certificados de vacinação contra a Covid-19, que envolvem também o ex-presidente Bolsonaro.
Em sua delação, ficou acordado que o ex-ajudante de ordens, que está em liberdade provisória desde maio passado, cooperaria também com a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, em 8 de janeiro de 2023. A partir da recuperação de dados apagados em aparelhos de Cid, acessados por meio de um software israelense, de acordo com fontes da PF, surgiram indícios contra pessoas próximas ao ex-presidente. Cid também está envolvido no esquema de venda de jóias e presentes entregues ao ex-presidente por autoridades estrangeiras.
No novo depoimento, marcado para às 14h de terça, na sede da PF em Brasília, a expectativa é que Cid seja questionado sobre eventuais omissões de sua colaboração premiada, que estaria sendo reanalisada pelos investigadores. Caso a Polícia Federal conclua que o ex-ajudante de ordens não cumpriu as obrigações do acordo, ele poderá ser alvo de um pedido de rescisão da colaboração. A medida não anularia a delação, no entanto, mas cancelaria os benefícios, entre eles, o direito de permanecer em liberdade.
A defesa do ex-ajudante de Ordens de Bolsonaro já declarou que não há nenhum temor de que a delação de Cid seja reavaliada, que é comum que surjam novas informações durante o inquérito e as pessoas investigadas sejam novamente interrogadas. O tenente-coronel foi preso em 3 de maio de 2023, durante a Operação Venire, que investiga a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid no sistema do Ministério da Saúde. Depois de ficar preso até 9 de setembro do ano passado em um batalhão da Polícia do Exército em Brasília, ele firmou o acordo de delação e foi solto por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Investigações apontam que o ex-presidente e integrantes do seu governo redigiram uma minuta que previa uma série de medidas contra o Poder Judiciário, incluindo a prisão de ministros da Suprema Corte. Esse grupo também promoveu reuniões para impulsionar a divulgação de notícias falsas contra o sistema eleitoral brasileiro. Trocas de mensagens rastreadas no celular de Cid revelam que, mesmo que relatórios e reuniões garantindo que as urnas eletrônicas eram seguras, deu-se continuidade à elaboração da minuta do golpe.