Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Aproximação de Bolsonaro com o Centrão traz problemas para Maia e Guedes

Embora ajude a governabilidade, a estratégia exige equilíbrio delicado: pode tirar totalmente o rumo de um governo

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h37 - Publicado em 15 Maio 2020, 06h00

Governar um país como o Brasil não é fácil. Exige liderança, capacidade de execução e também de negociação, habilidade vital para a construção de uma maioria parlamentar. Ao investir sobre o Centrão, o célebre grupo de partidos versados no fisiologismo político, o governo de Jair Bolsonaro procura, pela primeira vez desde a posse, dar um mínimo de consistência a sua base no Congresso e, de quebra, evitar que prospere alguma tentativa de cassar seu mandato. Embora o movimento seja correto do ponto de vista da governabilidade, algo vital neste momento tão conturbado, a estratégia traz riscos e alguns efeitos colaterais perigosos. Um deles é acuar o presidente da Casa, Rodrigo Maia, que vê na movimentação uma ameaça à ideia de reeleição (detalhe: cabe a ele decidir se dará ou não andamento aos mais de trinta pedidos de impeachment que já estão em sua mesa). Outro potencial revés é bombardear a agenda do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao abrir espaço para a aprovação de pautas que vão ampliar a gastança pública e enterrar qualquer política liberal e de austeridade fiscal.

Agradar ao Centrão é uma atividade que exige um equilíbrio delicado. Ao mesmo tempo que ela proporciona conforto, pode tirar totalmente o rumo de um governo. Um exemplo do que faz brilhar os olhos de alguns integrantes do Centrão é o Plano Pró-­Brasil, articulado à revelia de Guedes pelos ministros Walter Braga Netto, da Casa Civil, e Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, para reativar a economia com uma combinação de expansão do gasto público e investimentos privados (será que eles virão?) em obras de infraestrutura. Outra medida de interesse do bloco com potencial para deixar o titular da Economia com os cabelos em desalinho é tornar permanente o auxílio emergencial de 600 reais pago durante a crise do coronavírus, cuja previsão estimada de gastos é de 124 bilhões de reais em três meses. Parlamentares do bloco também dão de barato a derrubada do veto anunciado pelo Executivo ao reajuste salarial para servidores públicos, aprovado após orientação do próprio presidente, como revelou o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO) — o que irritou profundamente Guedes e forçou Bolsonaro a dizer que vetaria a ideia.

rossi
CORTEJADO - Baleia Rossi, do MDB: por enquanto, discurso de independência (Cristiano Mariz/VEJA)

Além de precisar refrear os interesses dos novos aliados de forma a não melindrar o seu “Posto Ipiranga”, o presidente terá de administrar a reacomodação das placas tectônicas na Câmara provocadas por seu movimento rumo ao Centrão. A investida pode afastar, por exemplo, aliados como o Novo (a sigla vota a favor de propostas do Executivo). Em contrapartida, rachou o grupo de deputados que se aglutinavam em torno de Maia, uma boa notícia para Bolsonaro. Alijado pelo governo da função de intermediador de cargos e emendas, Maia já não controla a maioria dos expoentes do Centrão, que hoje negociam diretamente com o Planalto e se articulam para ocupar sua cadeira em 2021, especialmente os deputados Arthur Lira (Progressistas-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP) — ambos ambicionam o apoio do governo.

Maia, de fato, foi eleito o grande inimigo de Bolsonaro. Com a meta de ampliar seu isolamento, o presidente se reuniu até com os presidentes do MDB, o deputado Baleia Rossi (SP), e do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, no fim de abril. A investida não obteve muito sucesso. O MDB tem os líderes do governo no Congresso e no Senado, e o DEM, os ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Tereza Cristina (Agricultura), mas as duas legendas avaliam as indicações como pessoais do presidente e não demonstram interesse numa composição agora. Para o cientista político Fernando Schüler, do Insper, talvez Bolsonaro tenha de se conformar com uma base mais sólida, mas não exatamente com uma maioria. “Não parece que o governo vá buscar formar uma coalizão, e sim um meio-termo, que lhe dê alguma segurança no Congresso e, quem sabe, possa influir na eleição da mesa diretora da Câmara. Mais que isso, não.”

Continua após a publicidade

É difícil fazer qualquer prognóstico sobre o sucesso do “bolsocentrão” a médio prazo. Por mais que alguns cargos tenham sido liberados para o grupo fisiológico, como a direção do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) e a Secretaria Nacional de Mobilidade, as nomeações ainda estão longe de atender ao apetite da turma, acostumada a emplacar ministros e ter à disposição polpudos orçamentos. “Distribuir posições só de segundo e de terceiro escalão pode não ser a melhor indicação do governo aos partidos”, diz um deputado do bloco. “O nível de desconfiança é muito grande e a avaliação não é positiva. Se o governo entrega rápido (os cargos), é porque sua disposição é plena. Se começa a demorar, é porque não quer entregar. São sinais muito importantes na política”, afirma um político do PP. E pode piorar. Além de considerar seu instinto de sobrevivência, o Centrão cobra de acordo com o fardo que terá de carregar. E a evolução da crise do governo na última semana mostra que o equilíbrio ainda é um sonho distante.

Publicado em VEJA de 20 de maio de 2020, edição nº 2687

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.