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As ligações perigosas entre uma prefeitura do Rio e Marcinho VP, do Comando Vermelho

O traficante conseguiu construir uma sólida influência em São João de Meriti, município da Baixada Fluminense

Por Anita Prado Atualizado em 15 ago 2025, 15h40 - Publicado em 15 ago 2025, 06h00

Em uma cela do presídio federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, Marcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, 55 anos, um dos chefões do autodenominado Comando Vermelho (CV), aguarda o resultado de recursos interpostos na Justiça pedindo sua liberdade. Ele foi condenado a 47 anos no regime fechado — 29 já cumpridos — por um cipoal de crimes que vão de homicídio ao tráfico de drogas, motores da existência da facção fluminense que estende seus domínios a 25 estados brasileiros, a partir das comunidades que controla com violência extrema no Rio de Janeiro. Pelas leis brasileiras que regem o Código Penal, ele teria direito à progressão do regime, mas VP não é detento comum.

Diversas investigações mostram que as grades jamais o impediram de dar as cartas na organização. O traficante liderou rebeliões no sistema prisional e é acusado de montar um esquema de troca de informações por meio de advogados para que suas ordens cheguem aos subordinados de todo o país. Agora, com base em informações exclusivas, VEJA revela um novo passo do bandido: tentáculos que enlaçam o mundo da política que, se não chegam a ser surpreendentes, são assustadores e constrangedores.

ALIANÇA - Léo Vieira (à esq.) e Cristiano: votação garantida
ALIANÇA – Léo Vieira (à esq.) e Cristiano: votação garantida (Redes sociais/.)

Graças a articulações ainda sombrias, o traficante conseguiu construir uma sólida influência na prefeitura de São João de Meriti, município da Baixada Fluminense, onde a quadrilha domina diversos territórios. Ali, Cristiano dos Santos Hermogenes, o único irmão homem do chefão do crime, não tem nenhum cargo oficial, mas manda em quase tudo. Ele indicou Márcia Real para ocupar a Subsecretaria da Mulher, e Lorival Almeida de Oliveira, seu próprio advogado, para encabeçar a pasta do Idoso e da Pessoa com Deficiência. Outro integrante do governo que se identifica como pertencente à “equipe Cristiano Santos” é o subsecretário da mesma secretaria, Wagner Turques.

Com quadros de estrita confiança em posições estratégicas, a eminência parda abriu as portas da administração pública também a integrantes da família. Cristian Santos, de 21 anos, sobrinho de VP, está lotado na Secretaria de Governo, com salário de 8 000 reais. Thaís Terra, casada com outro sobrinho do líder da malta, foi nomeada como assessora de Segurança Institucional. Com ordenado de 13 000 reais, ela costuma compartilhar fotos nas redes sociais como vendedora de uma butique no Rio. Somados, os vencimentos atrelados ao guarda-chuva da família passam de 55 000 reais.

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Diversas fontes ouvidas por VEJA relatam que o ímpeto empregador do prefeito de São João de Meriti, Léo Vieira (Republicanos), em favor do clã Santos Nepomuceno tem claro objetivo. “O papel do Cristiano é articular a entrada nas comunidades controladas pelo CV durante as campanhas eleitorais”, revela uma pessoa que acompanha de perto a política local. “Em troca, ele recebe cargos no alto escalão das prefeituras.” A parceria, efusivamente comemorada nas redes pela dupla, tem dado resultado. Depois de intenso corpo a corpo em áreas controladas pelo tráfico, Vieira obteve votação expressiva em São Mateus (63%), Éden (64%) e Tomazinho (67%), bairros subjugados pelo CV. Pessoas próximas à dupla garantem que a aliança seguirá firme em 2026, quando o político pretende lançar o filho, Leozinho, para uma vaga na Assembleia Legislativa. Em nota enviada a VEJA, o prefeito informa que “não tem qualquer vínculo com facções criminosas e que sua administração é pautada pela moralidade e pelo respeito à legislação”, incluindo aí os parentes de Marcinho, que “têm plena capacidade técnica para exercer as funções a eles atribuídas”. Cristiano optou por não se manifestar.

CAUSA - Márcia, mulher de VP, faz campanha pelo marido, que leva no peito: “Liberdade para Marcinho”
CAUSA - Márcia, mulher de VP, faz campanha pelo marido, que leva no peito: “Liberdade para Marcinho” (Redes sociais/.)

Mesmo que não interfira nas decisões do Executivo, a amizade entre Cristiano e Vieira não deixa de causar estranheza. O irmão do traficante chegou a ser preso em uma blitz, em 2006, por estar de posse de uma agenda com uma lista de ações nas comunidades sob poder da organização. Solto por falta de provas, conseguiu se eleger como vereador em Belford Roxo, também na Baixada Fluminense, em 2017, pelo PTB. Sem mandato nas últimas eleições, acabou se aproximando do chefe do Executivo de Meriti. Enquanto ocupou uma vaga na Câmara Municipal, no entanto, pavimentou a entrada de sua cunhada — Márcia Gama, esposa de Marcinho — para um cargo no Legislativo, com salário de 4 200 reais. Ela pediu licença alegando problemas pessoais, após VEJA revelar que não aparecia para trabalhar há mais de cinco anos, mas recebeu 50 000 reais retroativos por serviços supostamente prestados. Outro integrante do clã que ocupou um cargo público na cidade é Mayara Martins, filha de Silva Santos, irmã de VP. Ela chegou a ser acusada, junto com outra irmã, Silvana, de tentar construir um túnel para que o traficante fugisse do presídio de Bangu 1, onde ficou detido.

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Unida, a família costuma bradar “liberdade para Marcinho”, lema que mais recentemente passou a incluir o nome do rapper Oruam, filho de VP, preso por associação ao tráfico e que escondia criminosos de alta periculosidade em sua mansão no Rio. “Com apoio político, o crime organizado influencia o poder público, corrompe agentes e garante sua impunidade”, diz Daniel Hirata, especialista em segurança pública da UFF. A infiltração das facções na esfera do Executivo é preocupante mesmo e o exemplo de São João do Meriti mostra a que ponto o problema começa a chegar ao país.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2025, edição nº 2957

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