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Assassinato de Marielle contou com ‘modus operandi’ sofisticado, diz juiz

Gustavo Gomes Kalil também destaca pesquisas feitas por Ronnie Lessa a respeito de políticos e partidos de esquerda

Por Da Redação 18 mar 2019, 13h06

O juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, aceitou denúncia do Ministério Público e colocou no banco dos réus os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Elcio Vieira de Queiroz, suspeitos de assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Em decisão, o magistrado considera o modus operandi da dupla como “sofisticado” e pensado para “garantir a impunidade” no crime.

Em relatório, Kalil descreve que as investigações sobre Lessa começaram após a Divisão de Homicídios da Polícia Civil receber uma denúncia anônima informando que o policial reformado era o autor dos disparos contra Marielle. O crime teria sido encomendado por 200 mil reais.

O magistrado também relata informações apresentadas pelo Ministério Público, nos quais constam pesquisas feitas por Lessa envolvendo políticos e partidos de esquerda. Os termos incluem “morte ao PSOL”, “Marcelo Freixo”, “morte de Marcelo Freixo”, “Lula enforcado” e “Dilma Rousseff morta”. Há também pesquisas por “ditadura militar” e “Estado Islâmico”.

Em fevereiro de 2018, Lessa teria pesquisado sobre parlamentares que votaram contra a intervenção militar decretada pelo então presidente Michel Temer no Rio de Janeiro. À época, Marielle Franco era relatora da comissão instalada na Câmara de Vereadores para acompanhar a ação das Forças Armadas. Ele teria pesquisado também sobre mulheres negras “com o similar engajamento político” da vereadora, incluindo “Kenia Maria” e “Iza Cantora”.

“De acordo com as autoridades de investigação, as pesquisas realizadas pelo acusado revelariam, pois, que ele, em tese, monitorava de perto a vítima Marielle”, afirma Kalil. “Além disso, segundo a autoridade policial e o MP, o acusado Ronnie, poucos meses antes do crime, teria realizado pesquisas ‘online’ acerca de acessórios para submetralhadora HK MP, especialmente ‘silenciadores’, entre os dias 10/11/2017 e 26/02/2018.”

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Após o dia 14 de março de 2018, data do assassinato de Marielle, Lessa parou de buscar sobre a vereadora na internet. Durante as investigações, policiais descobriram que câmeras de segurança e sinais de GPS no local do crime foram neutralizadas.

“O ‘modus operandi’, como informado pelo MP e indiciado nas investigações, revela sofisticação, devendo o Poder Judiciário agir com rigor a fim de garantir a ordem pública”, anotou Kalil. “O próprio planejamento do crime, conforme alegado pelas autoridades da persecução, revela que os acusados atuariam de forma a garantir a impunidade, neutralizando sinais de GPS, escondendo/destruindo elementos de convicção”

O juiz ressalta se tratar de “suposto cometimento de três crimes de natureza hedionda”, sendo dois homicídios triplamente qualificados contra Marielle e o motorista Anderson Gomes e um homicídio tentado duplamente qualificado contra a assessora Fernanda Chaves.

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Ao aceitar a denúncia, o magistrado destaca “ligações com suposta organização miliciana composta por policiais militares da ativa” para garantir a transferência de Lessa e Queiroz para unidade prisional federal de segurança máxima. O presídio deverá ser indicado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Kalil também determinou a perda de bens após constar que Lessa teria tentado ocultar o próprio patrimônio, incluindo diversas armas, dois automóveis, um deles no valor de 150 mil reais. “Seu local de residência,um condomínio luxuoso na Barra da Tijuca, seria incompatível com seus proventos de policial militar reformado”, afirma o juiz. Ele também destaca o relatório do Coaf que aponta movimentação financeira suspeita de 100 mil reais na conta de Lessa.

Outro lado

Os advogados de Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz negam o envolvimento de seus clientes no caso. Logo após a prisão, Lessa e Queiroz receberam a visita dos defensores, na Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. “O Élcio não estava nem nesse dia. Eu tenho certeza de que não tem foto dele no carro e muito menos gravação dele nesse dia lá. E tenho certeza de que a vítima que sobreviveu não vai reconhecer o meu cliente”, disse Luís Carlos Azenha, advogado do ex-policial militar.

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O advogado de Lessa, Fernando Santana, disse que só conversou com seu cliente rapidamente depois da prisão e que ele nega a participação no crime. “Ele nega de forma veemente que tenha feito qualquer tipo de assassinato. Ainda vou ter acesso ao inquérito, não tive oportunidade de ter. Primeiro estava em segredo de Justiça, agora que nos peticionamos, eu e minha equipe, para poder ter ideia de como chegou à prisão do Ronnie Lessa”.

(Com Estadão Conteúdo)

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