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Ativista preso em Israel é acusado de calote por agricultores ligados ao MST

O caso ganhou repercussão internacional porque entre os detidos estava a ativista sueca Greta Thunberg

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 jun 2025, 10h04 - Publicado em 20 jun 2025, 06h00

O ativista Thiago Ávila foi recebido com festa ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, na sexta-feira 13, depois de passar cinco dias detido em Israel. Ele fazia parte de um grupo de onze manifestantes que haviam sido presos quando tentavam chegar à Faixa de Gaza a bordo de um veleiro da Coalizão Flotilha da Liberdade, um movimento internacional de solidariedade aos palestinos. O objetivo da incursão era chamar a atenção do mundo para o massacre que está acontecendo na região. Levado a Tel Aviv, o ativista contou que foi submetido a maus-tratos, chegou a ser colocado numa solitária, fez greve de fome como protesto e acabou deportado. O governo israelense acusou os militantes de encenarem uma situação com objetivos meramente políticos e midiáticos. “Tudo que a gente sonha é um planeta onde todas as pessoas possam viver em paz, com dignidade, sem exploração, opressão”, prega o ativista, ao anunciar que já se prepara para uma nova tentativa de chegar à zona do conflito. O caso ganhou repercussão internacional porque entre os detidos estava a ativista sueca Greta Thunberg.

De volta ao Brasil, Thiago Ávila vai enfrentar um embate bem menos glamouroso. Ele é acusado de dar calote em um grupo de assentados ligados ao Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Há seis processos contra o ativista tramitando na Justiça — todos reclamando a mesma coisa. Ávila é fundador do Movimento Bem Viver, entidade que se propõe, entre outras coisas, a incentivar a agroecologia. O grupo fez uma parceria com pequenos produtores do assentamento Canaã, a 40 quilômetros de Brasília. Entre 2019 e 2023, comprou a produção dos agricultores para revendê-las em feiras e exposições. “Hoje meu olho encheu de água mais de uma vez junto com as famílias agricultoras militantes do movimento que estão na linha de frente contra a emergência climática, regenerando as florestas, capturando carbono, salvando os biomas e promovendo soberania alimentar e sonhos de emancipação”, comemorou o ativista.

O texto publicado no Instagram para comemorar a parceria é ilustrado com uma foto dele com um dos sem-terra. Joel Silva Souza, 60 anos, o homem que aparece na imagem, planta alface, couve, tomate e banana — sua única fonte de renda para manter a mulher e oito filhos. O agricultor conta que, durante quatro anos, entregava todas as semanas ao ativista quinze caixas de sua produção. Foi combinado que Thiago lhe repassaria 2 300 reais por mês depois de vender a mercadoria. O acordo, segundo ele, nunca foi cumprido. “Cansei de entregar as verduras e voltar para casa com fome, porque não tinha condições de comprar nem um café”, lembra o sem-terra. Além disso, ainda de acordo com o militante do MST, Thiago teria prometido assinar a carteira de trabalho dos fornecedores, o que também não aconteceu. Joel ingressou com um processo contra o ativista. Ele reclama um prejuízo superior a 86 000 reais.

PARCERIA - Thiago e Joel: “Cansei de entregar as verduras e voltar para casa com fome”
PARCERIA – Thiago e Joel: “Cansei de entregar as verduras e voltar para casa com fome” (@thiagoavilabrasil/Instagram;/VEJA)

Os relatos das supostas vítimas do ativista em Canaã são muito parecidos. Vagno Ribeiro de Almeida, 43 anos, tem cinco filhos e mora numa casa simples, de paredes de barro. Ele recebeu a mesma proposta de pagamento mensal do ativista, que define como “um amigo”. “Eu não tenho nada contra o Thiago, mas ele não cumpriu o que prometeu. Trabalhamos juntos por quatro anos. Eu entregava de catorze a quinze caixas de verduras por semana. Ele me enganou, e enganar é o mesmo que dar calote”, diz o agricultor, que também está processando Ávila. O problema dos assentados são as provas. Existe apenas um termo de compromisso assinado pelos agricultores em abril de 2023 e anexado ao processo pela defesa de Thiago Ávila. O texto proíbe “falar negativamente ou agir para prejudicar o projeto Bem Viver e seus integrantes”. A defesa dos agricultores conta que Ávila ameaçou excluir do projeto quem se recusasse a referendar o documento. Com medo de eventuais consequências, como não receber os pagamentos em atraso, os agricultores teriam cedido à pressão.

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Filiado ao PSOL, Thiago Ávila, 38 anos, também é influenciador digital. Antes da prisão em Israel, ele tinha 350 000 seguidores em suas redes sociais. Em duas semanas, esse número saltou para 920 000. As postagens do ativista incluem desde imagens dele participando de um evento no Irã sobre a Faixa de Gaza até a presença no velório de um líder do grupo terrorista libanês Hezbollah. O advogado do ativista, Ailton Feitosa, se recusou a falar sobre os processos. “Não vou falar sobre isso, não. Isso é uma coisa da intimidade do Thiago”, disse. Afirmou que o cliente pode confirmar os pagamentos: “Ele tem os recibos. A gente tem todos os comprovantes”. No processo, a defesa de Thiago alega que não houve promessa de salário de 2 300 reais. Procurado por VEJA, Thiago rebateu as acusações dos agricultores. “Isso tudo é falso”, afirmou. Em 2023, surgiram rumores de que o Movimento Bem Viver estava devendo dinheiro aos agricultores de Canaã. Por precaução, pediu aos assentados que assinassem o termo de compromisso, mas garante que não houve coação. “Qualquer um pode processar, mas depois tem de provar”, disse, ressaltando que já obteve vitória em primeira instância em algumas ações. A defesa recorreu. A batalha em Canaã ainda vai longe.

Publicado em VEJA de 20 de junho de 2025, edição nº 2949

Nota: O PSOL informou que Thiago não é mais filiado ao partido desde março.

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