Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Azarão em 2016, Alexandre Kalil é o maior favorito nas capitais em 2020

No caminho para ser reeleito no 1° turno em BH, o outsider do PSD virou político profissional com aprovação recorde e parcerias que vão do PT ao PSDB

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h39 - Publicado em 30 out 2020, 06h00

Em 2016, em meio ao descrédito dos políticos tradicionais, uma leva de “outsiders” venceu as eleições municipais. Filiado a um partido minúsculo que depois desapareceu, o PHS, com 20 segundos de tempo de televisão e o slogan “Chega de políticos”, Alexandre Kalil era um dos expoentes desse movimento. Enquanto outros que lucraram posteriormente com a onda do “sou-contra-tudo-o-que-está-aí” caíram em desgraça (Wilson Witzel, do Rio, é o exemplo mais eloquente), Kalil trocou o figurino de forasteiro por estratégias de político profissional — e vem se dando muito bem com isso. Se há quatro anos ele entrou na disputa da prefeitura de Belo Horizonte como um azarão, agora virou a barbada do páreo. Segundo o Datafolha, com 60% das intenções de voto, tem grandes chances de ser reeleito no primeiro turno.

Do Kalil de 2016, ficou apenas o estilo espontâneo, durão e falastrão, que não foge de polêmicas. Assim que se sentou na cadeira de prefeito, ele montou um governo com gente ligada ao PT (política social) e PSDB (gestão e finanças), se filiou ao PSD (quinto maior partido da Câmara e integrante do Centrão), ganhou o apoio de caciques de peso (como Antonio Anastasia) e construiu uma coligação que inclui sete partidos, entre eles MDB, PP e PDT. De quebra, arrebanhou do fundo eleitoral do seu partido 4,8 milhões de reais — há quatro anos, quem financiou a maior parte da campanha foi ele mesmo (2,2 milhões de reais). Apesar das evidências de que agora integra o establishment político, Kalil é categórico: “Não negociei e não entreguei nada a nenhum partido em troca de apoio político”, disse a VEJA.

arte-pesquisa-kalil-iPhone

Não é o que pensam os rivais. “Ele falou que ia governar longe da política e dos políticos”, critica o adversário João Vítor Xavier (Cidadania). Outra tentativa da oposição é explorar o fato de Kalil dever ao município que comanda 243 000 reais de IPTU. Com um patrimônio declarado de 3,6 milhões de reais, é constrangido por desafetos por ainda não ter pago a despesa que prometeu quitar em 2016. Quando questionado, o prefeito costuma dizer que é um cidadão comum, que não tem dinheiro para regularizar o débito e que os imóveis não estão só no seu nome (ele tem partes de cada bem, a maioria herdada).

Continua após a publicidade

Até agora, as críticas e acusações não fizeram grandes estragos na imagem de Kalil. “Ele conseguiu construir na cabeça do eleitorado que é o único governante que não o engana”, diz o professor de ciência política da UFMG Felipe Nunes. Para fazer frente ao coronavírus, impôs medidas duras de restrição. Comprou briga com o empresariado local, foi chamado de “tirano” por um juiz e levou buzinadas na porta de casa. Ainda assim, 70% da população aprova hoje a sua gestão na pandemia. Belo Horizonte teve a menor taxa de mortes por Covid-19 entre as cidades com mais de 2 milhões de habitantes.

Romeu Zema, governador de Minas Gerais
FIASCO – Romeu Zema: candidato do governador tem menos de 2% dos votos – (Reprodução/Instagram)

Para além do coronavírus, a política no setor de transportes é uma das que mais lhe rendem votos, graças ao congelamento de tarifas dos ônibus e a renovação da frota. Além disso, investiu em programas sociais, como o pagamento de uma bolsa de 300 reais destinada à população em extrema pobreza. Não fez grandes obras, mas manteve os serviços funcionando e o pagamento do funcionalismo público em dia, diferentemente do governo do Estado, que precisou parcelar salários e pedir socorro ao governo federal. Uma das proezas mais lembradas de sua gestão foi a rápida reação aos problemas decorrentes das chuvas intensas que atingiram BH no início deste ano.

A ascensão de Kalil coincidiu com o momento da derrocada de políticos que dividiram o poder no estado, como os ex-governadores Aécio Neves (PSDB) e Fernando Pimentel (PT). Na campanha atual, enfrenta catorze postulantes. O nome indicado pelo governador Romeu Zema, Rodrigo Paiva (Novo), não tem nem 2%. Nesse cenário de pulverização, Kalil reina absoluto. Ao assumir, disse que havia acabado a disputa entre “coxinhas e mortadelas”. “O papo agora é quibe”, afirmou, em referência à ascendência síria. Ex-presidente do Atlético-MG, também declarou que política “não é igual a Atlético e Cruzeiro”. Conseguiu obter o apoio de segmentos como o público LGBT (marcou presença na parada gay da cidade) e evangélico (passou a receber os pastores em reuniões em sua casa). Grandes mineiros como Tancredo Neves e Juscelino Kubitschek sempre fizeram questão de cultivar a conciliação e o diálogo. Ao seu estilo turrão e mal-humorado, o outsider Kalil mostra-se cada vez mais um profissional da política ao seguir a escola da conciliação.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 4 de novembro de 2020, edição nº 2711

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

a partir de 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.