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Beto Richa: Propina pagou hotel e até comida da campanha, diz delator

Ex-diretor do DER apontou que cerca de 220.000 reais da Econorte foram repassados para a campanha do ex-governador do Paraná (PSDB)

Por Estadão Conteúdo
17 fev 2019, 12h53

Em depoimento complementar à Operação Lava Jato, o ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná (DER-PR) Nelson Leal Júnior descreveu três pedidos de propinas, em 2014 e 2015, ao então presidente da Econorte, Helio Ogama, também delator. O ex-dirigente do DER apontou que cerca de 220.000 reais da Econorte foram repassados para a campanha de Beto Richa (PSDB), para o deputado Guto Silva (PSD), hoje chefe da Casa Civil do governo do Paraná, e para um congresso em Foz do Iguaçu.

Nelson Leal Júnior declarou que a ‘primeira solicitação’ envolvendo a Econorte ocorreu em 2014. O delator contou que José Richa Filho, o Pepe Richa, irmão do ex-governador, e Mounir Chaowiche, ex-secretário de Habitação, ambos coordenadores da campanha de Beto Richa ao Governo do Estado, o enviaram aos municípios de Paranavaí e Umuarama, no interior do Estado por quarenta dias, para fazer campanha pelo tucano.

“José Richa Filho orientou o colaborador a procurar alguma empresa que tivesse contrato com o DER para que ela arcasse com as despesas inerentes ao deslocamento e realização da campanha”, relatou Nelson leal Júnior. “O colaborador procurou o então presidente da Econorte, Helio Ogama, e solicitou a este o valor de 80.000 reais.”

Segundo o ex-diretor do DER, o pedido foi aceito. Nelson Leal Júnior declarou que, “em junho ou julho de 2014, logo no início da campanha para o Governo do Estado do Paraná, o valor foi entregue por Helio Ogama na sala do colaborador no DER”.

O segundo pedido de valores envolveu o deputado Guto Silva, segundo o depoimento complementar de Leal Júnior. O delator disse ter repassado R$ 100 mil, em mãos, ao deputado em 2014. Desde janeiro deste ano, o parlamentar é secretário-chefe da Casa Civil do governador Ratinho Júnior (PSD), no Paraná.

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A terceira solicitação, contou o delator, ocorreu em 2015. Nelson Leal Júnior narrou que a Associação Brasileira dos Departamentos de Estradas de Rodagem (Abder) fez um congresso na cidade de Foz do Iguaçu. “Para custear as despesas do evento, o colaborador solicitou o valor de 100.000 reais para Helio Ogama, então presidente da Econorte; que Helio Ogama disse que iria ver como poderia ‘ajuda’ o colaborador”, afirmou.

“Em razão da solicitação, no mês de março de 2015, o colaborador recebeu de João Marafon, advogado da Econorte, o montante de 40.000 ou 50.000 reais; que a entrega foi realizada no hotel Four Points by Sheraton em Curitiba/PR, no qual João Marafon estava hospedado.”

O que diz Helio Ogama

Em janeiro, Helio Ogama foi interrogado em ação penal na 23ª Vara Federal de Curitiba. O juiz Paulo Sergio Ribeiro perguntou ao delator se ele havia levado “dinheiro para algum agente público seja vinculado ao DER, seja vinculado ao governo”.

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O ex-presidente da Econorte mencionou uma “boa vontade”. “O dinheiro foi para o Nelson Leal Júnior, tá certo, entreguei uma vez no início, a pedido dele”, afirmou. “Ele (Nelson Leal Júnior) estava falando, que como o governo não estava repassando dinheiro para as obras todas, estava com dificuldade interna, ele precisaria resolver um problema interno dele. Foi nisso, demorou um pouco conseguiu 80.000 reais, entreguei para ele, na sala dele.”

Na ocasião, o ex-presidente da Econorte citou também uma “ajuda política” de 100.000 reais a um “deputado ou candidato”, sem tocar no nome de Guto Silva. “Eu dificultei um pouco, mas devido à várias insistências, eu arrumei para ele cem mil reais, entreguei na sala dele”, contou.

À Justiça, Helio Ogama falou ainda sobre uma entrega de dinheiro em 2017. O delator disse que Nelson Leal Júnior foi de carro pegar o dinheiro.

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“Foi acho que 2017, teve mais uma, que houve até um pedido de 100.000 reais, que o senhor Nelson Leal pediu para mim, tá certo. Aí eu falei que estava muito difícil, porque ele já estava em um momento muito perigoso, devido às investigações todas”, afirmou. “Aí ele ficou me insistindo, insistindo, aí eu consegui arrumar 60.000, foi entregue através de João Marafon, no Hotel Four Point.”

O que dizem as defesas

A reportagem não localizou João Marafon. Walter Bittar, que defende Beto Richa, “esclarece que não apenas esse fato como outros relatados pelo réu confesso Nelson Leal Júnior são inverídicos e só se justificam como um ato para tentar se livrar das penas de sua conduta. Reiteramos a confiança no poder judiciário e na sentença absolutória ao final do processo.”

A defesa de Pepe Richa também afirma que os fatos não são verdadeiros e “lamenta a credibilidade dada ao criminoso confesso que busca, a todo custo, benesses indevidas. Pepe Richa confia na aplicação da Justiça e continua à disposição para esclarecer os fatos.”

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Já o advogado de Helio Ogama reforça que ele “já se manifestou sobre este mesmo assunto tanto no acordo de colaboração quanto no interrogatório recentemente realizado.”

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Guto Silva confirma que conhece Nelson Leal Júnior desde que ele assumiu seu cargo no DER, que não são amigos pessoais, que não pegou 100.000 reais com ele. Segundo Silva, não há provas do fato delatado e que não tem  “nenhum receio ou problema de confrontar essa delação porque é uma declaração mentirosa e caluniosa”.

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