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BH começa a reabrir, mas prefeito alerta para risco de dar ‘passo atrás’

Alexandre Kalil (PSD) flexibiliza quarentena na capital mineira, a primeira a adotar a medida, mas afirma que pode recuar se população não seguir as regras

Por Roberta Paduan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 Maio 2020, 11h27 - Publicado em 25 Maio 2020, 09h57

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), começa nesta segunda-feira, 25, a começar a tirar a cidade da quarentena. Ele, no entanto, afirma que não dá para baixar a guarda: “Se todo mundo for para a rua, sem cuidado, a explosão de contaminação ocorre em duas semanas. Quem achou que estava tudo bem foi o prefeito de Milão, que abriu antes da hora e, depois, viu 14.000 caixões saindo da cidade”, afirmou o prefeito a VEJA.

Belo Horizonte foi a primeira capital brasileira a decretar isolamento social como forma de combate à pandemia do novo coronavírus. Desde 18 de março, apenas atividades essenciais têm permissão para funcionar, o que incluiu a indústria de transformação, além de supermercados, farmácias, hospitais, serviços de transportes e entrega de comida.

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O distanciamento precoce é considerada a principal razão do baixo número de mortes contabilizado na capital mineira até agora: 39. O recolhimento da população em casa, antes de o vírus circular livremente em um território, foi o que permitiu o chamado “achatamento da curva”, ou seja, a redução da velocidade de propagação do vírus, explicam os infectologistas. Foi o que aconteceu em Belo Horizonte, pelo menos por enquanto, que tem uma das menores taxas de letalidade do país.

A reabertura do comércio, a partir desta segunda, ocorrerá sob uma série de regras de horários de funcionamento e de distanciamento entre funcionários e clientes, além do uso obrigatório de máscaras e protocolos de higienização. A flexibilização ainda impede que pessoas que pertençam ao grupo de risco para Covid-19 voltem ao trabalho. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, sem uma vacina ou tratamento para a doença, é possível que a cidade tenha de conviver com alguma restrição pelos próximos dois anos.

Leia os principais trechos da entrevista:

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O que o senhor achou da declaração do governador Romeu Zema (Novo), que afirmou na rádio Jovem Pan que o senhor é um prefeito “fora da curva” e que toma “medidas extremas para chamar atenção”? Considerei uma agressão gratuita. Parafraseando o Winston Churchill, em um livro atual para o momento que vivemos, o Memórias da Segunda Guerra Mundial, digo que o governador vai em um estranho paradoxo, decidido só a não decidir; resolvido só a não resolver; firme na deriva, sólido na fluidez, onipotente na impotência.

O governador também disse que a prefeitura de Belo Horizonte fez pouco em relação à pandemia. Eu posso dizer que Belo Horizonte criou três centros para tratamento da Covid-19 para atender quem precisar de atendimento e todo mundo que precisou teve atendimento até agora. A taxa de letalidade da cidade esta em 2,81% de óbitos, enquanto o resto do estado está em 3,41%, e isso porque os números da capital estão ajudando a derrubar a letalidade do estado. Nós distribuímos 628 mil cestas básicas nesses dois meses, uma para cada aluno da rede municipal de ensino. A gente sabia que as pessoas iam ficar sem dinheiro para ir ao mercado. A nossa secretaria de Ação Social distribuiu tudo sem filas, porque nós temos o cadastro das pessoas das vilas, das favelas e fizemos a distribuição pelo CPF das pessoas, que retiraram as cestas nos mercados dos seus bairros. Nós compramos 2 milhões de máscaras laváveis para distribuir para as pessoas que mais precisam.

Belo Horizonte foi a primeira capital a decretar quarentena no país e agora está iniciando a abertura. Como foram essas tomadas de decisão? A gente teve o primeiro caso confirmado em 16 março. Eu liguei para o meu secretário de Saúde, o Jackson Machado, que é médico, e pedi uma reunião com os melhores infectologistas que ele pudesse chamar. Fizemos a reunião no dia seguinte, ouvi tudo o que eles tinham a dizer e assinei o decreto de quarentena em 24 horas. Quem decidiu isso, portanto, foi meu secretário de Saúde, que entende do assunto, que está discutindo com infectologistas, epidemiologistas e, claro, todos nós da prefeitura. Eu não tenho capacidade para decidir e não vou fazer nada na base do achismo. Se fosse um caso de engenharia urbana, como aconteceu na tempestade que ocorreu aqui na cidade no início do ano, aí, sim, eu poderia decidir, porque sou engenheiro e conheço o assunto. Mas nessa pandemia a gente tem de ter juízo e tem de delegar para quem entende. A responsabilidade é minha, mas tenho de ouvir quem domina o assunto. Isso é ter autoridade. Isso é saber delegar. Quem sabe delegar não tem menos poder. Delega porque tem poder.

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Guarda municipal distribui máscaras de proteção contra a Covid-19 no bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte (MG), que começou nesta segunda a reabrir lojas (Rodrigo Clemente-PBH/Divulgação)
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A quarentena deu tempo de Belo Horizonte preparar a rede pública de saúde? Olha, não dá para achar que está tudo bem. Nós, em BH, até temos uma situação mais controlada de mortes, nossos leitos de UTI destinados a Covid-19 estão com 40% de ocupação, os de enfermaria estão com 34%, mas a explosão de contaminação ocorre em duas semanas, se todo mundo for para a rua, sem cuidado. Aí, não tem o que fazer. Quem achou que estava tudo bem foi o prefeito de Milão e depois viu 14.000 caixões saindo da cidade. Nós temos que estudar o que aconteceu em outros lugares para decidir como agir aqui. Temos essa sorte de estar atrás deles. Se não fizermos melhor, é burrice.

Como o senhor avalia a posição do presidente Jair Bolsonaro, que foi contra o distanciamento social desde o início? Não vai ter um CRM (médico com registro no Conselho Regional de Medicina) que assine isso (acabar com a quarentena)! O isolamento social é uma unanimidade não só brasileira, mas unanimidade planetária. Até agora não ouvi falar de nenhum outro remédio para essa pandemia, que não seja o isolamento social. Se tivesse uma banca médica de um lado, dizendo uma coisa, e grupos de cientistas de outro, defendendo uma posição diferente, aí seria um assunto a ser debatido. Aí, sim, o presidente poderia e deveria fazer o debate e depois tomar sua decisão. Mas não existem dois lados. São médicos ingleses, italianos, franceses, americanos, brasileiros, todo mundo dizendo a mesma coisa: se quiser ter menos mortes, tem de fazer isolamento social. É uma decisão unânime pela vida. Só conheço um médico contra o isolamento, que é o Osmar Terra. Não tenho nada contra ele, mas se só ele estiver certo, vai ser o próximo Prêmio Nobel da Medicina.

“Quem achou que estava tudo bem foi o prefeito de Milão e depois viu 14.000 caixões. Nós temos que estudar o que aconteceu em outros lugares para decidir como agir. Temos essa sorte de estar atrás deles. Se não fizermos melhor, é burrice”

O senhor discorda, então, da postura do presidente? Olha, nós temos de ter juízo. Ninguém é culpado do que está acontecendo. A economia já foi embora, e foi no mundo inteiro, não só no Brasil. Se o Bolsonaro entendesse que ele não é culpado pela pandemia e que ninguém vai culpá-lo pela crise econômica, ele daria um grande passo e passaria a lidar melhor com a situação. O problema é que a gente só ouve que é preciso abrir, abrir, mas não tem um caminho, uma metodologia criada pelas autoridades federais de como essa abertura pode ser feita com segurança. A gente só vê a guerra de que tem que abrir porque a economia está acabando. Todo mundo sabe disso. Agora o que eu não quero é levar para o caixão a culpa de ter deixado uma pessoa morrer porque não fiz o que sabia que precisava ser feito.

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O senhor que dizer que não poderia ter deixado de decretar o distanciamento social, é isso? Isso é uma questão matemática. O único problema da Covid-19 é que eu preciso ter leito de hospital para atender os que que tiveram as formas mais graves da doença, porque os graves precisam de tratamento específico e ficam muito tempo na UTI. Se eu tivesse leito para atender todo mundo que se infectasse de uma vez, não teria problema. Mas isso é impossível, por isso que fazemos isolamento: para diminuir a velocidade de infecção e dar conta de ir atendendo quem ficar grave. Se BH tem 2,6 milhões de pessoas e só 1% dos infectados precisassem ir para a UTI, eu precisaria ter 26.000 leitos. Se isso acontecer ao mesmo tempo, vai morrer um monte de gente que não morreria se tivesse atendimento adequado. E ter leito não é só ter equipamento, não. Inclui ter profissional preparado, porque para entubar um paciente, o médico precisa ter prática. Meu filho, que é médico, me contou como foi quando ele entubou uma pessoa pela primeira vez: passou o resto do dia no banheiro. E a gente já sabe que a qualidade do atendimento conta muito para salvar um paciente dessa doença.

O senhor que foi dirigente de futebol, presidente do Atlético-MG, é a favor da volta dos campeonatos? Em Belo Horizonte, não volta. Não dá para pensar nisso agora. O futebol vai voltar quando o cinema, quando teatro puderem voltar. Essa frase é batida, mas vou dizer: futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes do mundo. Vai voltar com protocolo, com tudo certinho. Mas temos de preparar protocolo para tudo, para todas as áreas, para o comércio, para a escola, para tudo. Estamos fazendo isso por parte, com participação dos empresários da indústria, do comércio, com a área de saúde. Agora é hora de pensar em leito de hospital, em cesta básica, em máscara, em respirador, em equipamento de proteção individual para o médico, o enfermeiro, o técnico de enfermagem, o fisioterapeuta. Não é hora de pensar em futebol.

O senhor sofreu muitas críticas por causa do isolamento por algum setor da sociedade? No começo, vinha gente buzinar todo dia na porta da minha casa. Passaram duas semanas buzinando sem parar. Mas eu já disse que não tenho medo de buzina. Quem tem medo de buzina é cachorro distraído atravessando a rua.

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O secretário de Saúde disse que a flexibilização será feita em etapas e pode ser interrompida se a pandemia se agravar. Quais são as condições para que a abertura ocorra? A abertura vai depender do comportamento da população. Se o número de casos subir muito e a disponibilidade de leitos cair, vamos ter de dar um passo atrás ou mesmo fechar mais ainda, até o lockdown. Aqui nós olhamos indicadores, não tem nada na base do achismo. A equipe da vigilância sanitária fez um trabalho grande para que a gente permita que os estabelecimentos voltem a funcionar, mas tudo tem de ser seguido. Lá atrás, quando começamos as restrições, a vigilância inspecionou gôndolas de supermercados e identificou a presença do vírus. Depois, estabeleceram protocolo de higienização e testou novamente. Aí, já não encontrou mais o vírus. Ou seja, a gente tenta sempre aplicar conhecimento técnico para padronizar as ações.

“A abertura vai depender do comportamento da população. Se o número de casos subir muito e a disponibilidade de leitos cair, vamos ter de dar um passo atrás ou mesmo fechar mais ainda, até o lockdown”

O presidente Bolsonaro já disse que teme que a economia piore ao ponto de haver saques em mercados e lojas. O senhor também teme isso? Acho que se a população tiver comida em casa e segurança de que estamos trabalhando com seriedade em uma situação que não é culpa de ninguém e que pode custar a vida de qualquer um de nós, não vai ter convulsão, nada disso. Mas nós precisamos estar lutando pela mesma causa, precisamos ter um norte.

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