O presidente Jair Bolsonaro afirmou, neste sábado, 15, que o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto no dia 9 de fevereiro durante uma operação policial, era um herói da Polícia Militar na época em que foi homenageado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro, hoje senador.
“Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando capitão Adriano por nada, sem querer defendê-lo. Naquele ano ele era um herói da Polícia Militar. Como qualquer Policial Militar em operação mata vagabundo, mata traficante e a imprensa em grande parte vai em defesa do marginal e condena o policial”, afirmou durante a coletiva com jornalistas. Bolsonaro cumpre agenda no Rio de Janeiro, onde participou da inauguração da alça de ligação da da ponte Rio-Niterói à Linha Vermelha. “Eu é que pedi para o meu filho condecorar para que não haja dúvida. Ele era um herói. O meu filho, recém-eleito, eu que determinei, pode trazer para cima de mim isso aí. O meu filho condecorou centenas de policiais”, acrescentou o presidente.
Ex-capitão do Bope, Adriano é investigado por chefiar um grupo de milicianos chamado de Escritório do Crime. Ele foi morto em ação conjunta da Secretaria de Segurança Pública da Bahia e do núcleo de inteligência da Polícia Civil do Rio.
Uma das homenagens de Flávio Bolsonaro a Adriano da Nóbrega ocorreu em 2005, quando Nóbrega foi condecorado com a Medalha Tiradentes, a maior honraria do Legislativo do Rio. Naquele mesmo ano, Jair Bolsonaro, então deputado do baixo clero, também ocupou a tribuna da Câmara para prestar solidariedade ao ex-capitão, que estava preso após acusação de homicídio — do qual foi inocentado e libertado da cadeia em 2006. Com o passar do tempo, os laços se estreitaram. Como deputado estadual, Flávio Bolsonaro contratou a mãe e a ex-mulher de Adriano para trabalhar em seu gabinete. Parte dos salários das duas irrigou o esquema de rachadinha operado por Fabrício Queiroz, o antigo parceiro de Nóbrega no 18º Batalhão da Polícia Militar.
Na mesma entrevista, Flávio disse que como deputado estadual homenageou “centenas e centenas” de Policiais Militares. “Não adianta querer me vincular à milicia, não tenho absolutamente nada com milícia. Eu condecorei o Adriano há mais de quinze anos”, disse. “Como eu posso adivinhar o que ele faz de certo e errado hoje, depois de quinze anos?”. Flávio Bolsonaro ainda comentou sobre a reportagem de capa de VEJA que trouxe imagens do corpo de Adriano da Nóbrega, que reforçam a tese de queima de arquivo. “Pelo que eu soube, o que está na revista, ele foi torturado. Para falar o que? Com certeza não era contra nós, porque não tem o que falar contra nós, não temos envolvimento nenhum com milícia”, afirmou o senador.
A última edição de VEJA trouxe fotos do corpo do ex-capitão que reforçam suspeitas de que ele foi morto com tiros disparados à curta distância – o que contraria a versão oficial da polícia da Bahia, responsáveis pela ação. As imagens também sugerem que, antes de morrer, Adriano da Nóbrega pode ter sofrido violência. Na sexta-feira, 14, a Secretaria da Segurança da Bahia divulgou uma nota sobre a reportagem. O comunicado reconhece que realmente havia lesões no corpo de Adriano da Nóbrega como mostram as fotos reveladas por VEJA. “Sobre a lesão arredondada na face anterior do corpo de Adriano, trata-se de equimose, não uma queimadura. É uma lesão contundente, obviamente feita com algo arredondado, que pode ter sido ativamente ou passivamente comprimido contra o corpo”, diz o comunicado, sem detalhar a causa do ferimento. Especialistas consultados por VEJA apontam que a marca cilíndrica cravada no peito do ex-capitão morto pode ter sido provocada por um cano de uma arma longa e de grosso calibre, logo após um disparo, enquanto a vítima ainda estava viva.