O Brasil chegou com duas boas cartas na manga para a maior mesa de apostas climáticas, a 28ª Conferência Climática das Nações Unidas, em Dubai, que tem como objetivo encontrar saídas para limitar a elevação da temperatura global. O presidente Lula conseguiu atrair a simpatia de representantes de órgãos importantes de proteção ambiental ao mostrar esforços positivos na diminuição da devastação da Amazônia e propor a criação do fundo de proteção às florestas do mundo. Em um ano em que o clima deu mostras do que pode fazer caso as temperaturas passem dos dois graus, os posicionamentos tiveram um peso maior que nos anos anteriores.
A credibilidade de Lula, no entanto, ficou abalada no momento em que o presidente anunciou a decisão contraditória de ingressar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+), compactuando com o contínuo desenvolvimento dos combustíveis fósseis, o maior vilão do aquecimento, responsável por 75% das emissões de gás do efeito estufa.
O novo alinhamento do país soou contraditório, principalmente durante o evento mais importante do clima. “Os combustíveis fósseis são o principal problema”, diz Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa. Lula sabe disso. Também sabe que o Brasil ainda nem determinou quando e como será a transição para uma energia mais sustentável, mas tenta se alçar a líder do movimento climático para deter o aquecimento acima do 1,5 grau. “Como gerenciar essa liderança entre os maiores produtores de petróleo do mundo?”, questiona Natalie. Mesmo sem deixar qualquer pista de qual seria a resposta para essa charada, Lula deixou claro que o país está mais comprometido com as questões ambientais.
Isso se revela na prática, com a diminuição do desmatamento da Amazônia em 22,3%. Enfim, trata-se do primeiro avanço registrado nos últimos cinco anos, período que o Brasil bateu sucessivos recordes de desmatamento, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas. O anúncio deu respaldo para que o presidente Lula colocasse na mesa a proposta da criação do fundo de preservação florestal do planeta, que beneficia 80 nações. A ideia foi bem-recebida pela maioria dos ambientalistas, pois o principal ativo é a floresta em pé. A proposta remunera e beneficia quem conserva e faz com que o preço do desmatamento fique mais alto. “Sem natureza, não vamos vencer o desafio”, lembra Marcelo Furtado, membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil e diretor da Nature Finance.
Outros pontos positivos podem nascer da proposta do fundo, como “direcionar importantes recursos aos países de florestas tropicais, em especial aos povos indígenas e comunidades locais, grandes guardiões destas florestas”, diz Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil. Ao financiar a floresta em pé – e não por cálculos de créditos de carbono, por exemplo –, o fundo dificulta o desvio de verbas e até mesmo a lavagem de dinheiro. Vale ressaltar que a destruição planetária desse bioma é mundial. Nos trópicos, a perda de florestas primárias, em 2022, foi 10% superior ao registrado no ano anterior, época da assinatura da Declaração Global de Florestas na COP de Glasgow, na Escócia. Apesar da entrada na OPEP, o Brasil deixa o recado que dá, sim, para mudar esse panorama.