A tensão entre brasileiros e venezuelanos em Roraima registrou na noite de quinta-feira, 6, mais um episódio trágico. Um venezuelano foi assassinado a pedradas e pauladas depois de matar um brasileiro com uma facada.
O caso aconteceu após um suposto furto no bairro Jardim Floresta, localizado na vizinhança de um abrigo improvisado, onde estão mais de 300 venezuelanos, em Boa Vista.
Segundo a polícia, três venezuelanos tentaram furtar pães em um comércio e foram perseguidos por cerca de seis brasileiros. Um deles, o autônomo Manoel Siqueira de Sousa, de 35 anos, conseguiu alcançar um dos venezuelanos, que o esfaqueou na garganta. O autônomo foi socorrido e encaminhado ao hospital, mas não resistiu.
Logo após o crime, o venezuelano foi perseguido por moradores do bairro. Jose Rodrigues, de 21 anos, foi morto a pauladas e pedradas. Os golpes foram desferidos principalmente na cabeça da vítima.
À Polícia Militar, moradores da redondeza do abrigo contaram que os venezuelanos que vivem na região estariam cometendo pequenos furtos. Logo após os assassinatos, a segurança no local foi reforçada por agentes da Força Nacional de Segurança.
Segundo a ONU, cerca de 2,3 milhões de venezuelanos vivem no exterior, dos quais 1,6 milhão abandonou o país desde 2015, com a piora da escassez de medicamentos e alimentos em meio à hiperinflação que corrói os salários.
A maioria dos venezuelanos emigrou para os países vizinhos da América do Sul. A Colômbia abriga mais de 1 milhão, e o Equador recebeu cerca de 340.000. O Peru tornou-se destino de 414.000 venezuelanos. O Brasil acolheu cerca de 60.000.
Roraima tornou-se a principal porta de entrada de venezuelanos no Brasil. Com a ajuda da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o governo adotou um programa mais intenso para transferir venezuelanos para outras cidades e estados do país.
No final de agosto, o presidente Michel Temer assinou decreto que autoriza e facilita a ação do Exército no estado.
A decisão foi tomada pouco depois de cenas de violência na cidade fronteiriça de Pacaraima. Venezuelanos tiveram seus acampamentos e pertences queimados e destruídos por brasileiros revoltados com o assalto e a agressão a um comerciante local em 18 de agosto.
O Exército estima que 1.200 venezuelanos, em pânico, cruzaram a fronteira de volta a seu país.
A questão da imigração venezuelana tem gerado uma queda de braço entre a governadora de Roraima, Suely Campos, e o Palácio do Planalto. Em meio à campanha eleitoral, Suely responde ao desconforto popular com a presença dos venezuelanos com tentativas de bloquear a fronteira e de impor restrições ao ingresso.
O governo federal, ente responsável por definir essa questão, é contrário ao fechamento da fronteira.
(Com Estadão Conteúdo)