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Buscas em Brumadinho entram em fase ‘mais mecanizada’

Capitão do Corpo de Bombeiros relata maior dificuldade para encontrar corpos com pouco mais de duas semanas da tragédia

Por Estadão Conteúdo 11 fev 2019, 01h52

Passadas pouco mais de duas semanas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que já contabiliza 165 mortos, o perfil das buscas pelos desaparecidos começa a mudar, ficando mais dependente de máquinas pesadas para escavar em áreas muito profundas.

Segundo o último balanço da Defesa Civil, divulgado neste domingo, 10, 160 pessoas ainda estão desaparecidas. Mas agora encontrar corpos ou segmentos vai ficando mais difícil. O capitão do Corpo de Bombeiros de Minas Leonard de Castro Farah explica que os primeiros corpos a serem achados estavam mais na superfície, o que permitia encontrá-los visualmente, “mas agora é preciso escavar, tirar tudo o que tem embaixo e procurar”, diz.

A área da mancha inundada tem cerca de 3,96 km² e 10 km lineares, mas alguns corpos foram achados além da mancha, no Rio Paraopeba. Segundo Farah, os trabalhos foram divididos em diversos quadrantes de 40 mil m², o equivalente a quatro campos de futebol. E cada quadrante foi dividido por quatro, ou seja, as buscas de cada equipe se concentram de cada vez em uma área de um campo de futebol.

“Na primeira fase as buscas foram mais superficiais, de pessoas e corpos resgatados que estavam na superfície. A nova fase agora é de fazer escavação, levando em conta várias questões: onde será colocado o rejeito retirado, se ele está fluidificado (com água) ou não. Se está, não dá para tirar com máquina”, explica.

A atuação das máquinas está concentrada no local onde ficava a usina intensiva de tratamento de minério (ITM), nos setores próximos ao refeitório e ao clube e nos remansos que se formaram com a passagem da onda de rejeitos. “Mas na área da comunidade Parque da Cachoeira ainda está com muita água no terreno, e no leito do rio de lama que foi criado. Por isso ainda não estamos entrando lá. Estamos drenando essa água para que fique mais fácil fazer buscar”, diz.

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Um dos objetivos da nova fase é restabelecer os acessos da cidade, retirando a lama para a mineradora destiná-la em outro lugar. “Isso exige um plano de manejo de rejeito, que envolve várias etapas: fazemos a escavação, um militar confere o local para ver se não tem nenhum corpo ali, um caminhão basculante leva para outro lugar, espalha todo o rejeito, militares novamente conferem se não ficou nada ali, levam os cães para certificarem. A mineradora só vai destinar esse material a partir do momento que for descartada a possibilidade de haver corpos ali”, explica.

O trabalho, porém, está longe de ser todo mecanizado. “Quando encontramos alguma máquina sob a lama, por exemplo, é preciso parar. Porque se tem máquina, a chance de encontrar um corpo dentro é grande. Então deixamos de usar maquinário porque não queremos danificar um possível corpo e o trabalho volta a ser manual”, afirma.

Segundo ele, é feito um trabalho investigativo antes do uso dos equipamentos, mas como alguns pontos têm dez metros de lama, fica mais difícil ter certeza. “Através da dinâmica do fluxo a gente vai entendendo algumas coisas. Por exemplo, no refeitório havia uma escada gigante, eu sei onde ela foi parar, então a tendência é que tudo o que estava no refeitório pare aqui, a tendência dos carros no estacionamento é parar ali”, explica, mostrando o mapa com a mancha da lama.

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O trabalho de investigação em campo é manual, com a ajuda de um “bastão de tato” – uma barra de cobre ou de madeira usada para perfurar o solo em 2 metros a 2,5 metros. “A gente consegue sentir se bateu num metal ou num sofá. E isso também ajuda os cães, porque cria um ‘cone de odor'”, diz.

Farah não se arrisca a dizer quanto tempo isso tudo vai levar nem se há alguma previsão de fim de buscas. “O que queremos é dar conforto para todas as famílias”, afirma.

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