CAOA comemora dez anos de sucesso da montadora
Presidente da CAOA desde dezembro do ano passado, Mauro Correia faz um balanço dos 10 anos da CAOA Montadora
“Você gosta de carro? Porque eu adoro!”
Foi com essa frase que Mauro Correia, presidente da CAOA, começou a conversa de quase duas horas na sede da empresa, em São Paulo. Engenheiro mecânico de produção, formado pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e com MBA em negócios pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, ele é, antes de mais nada, um homem fascinado por automóveis. Seu currículo inclui passagens pela Ford, onde trabalhou por 19 anos e foi o responsável pela implementação da fábrica de Camaçari (BA), e Volkswagen, além de empresas de eletrônicos e moda.
Com reflexões ágeis, é capaz de explicar sua visão do futuro da mobilidade com a autoridade de atual presidente da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), mostrando a mesma paixão e clareza com que fala dos planos para a próxima década da empresa que comanda desde dezembro de 2016, quando substituiu Antonio Maciel.
Mas o principal assunto em pauta foi o aniversário de 10 anos da CAOA Montadora. A fábrica instalada em Anápolis (GO), inaugurada em 2007, produz modelos da Hyundai (os utilitários-esportivos Tucson, ix35 e New Tucson, além de dois veículos comerciais, o HR e o HD80) e manteve-se firme diante da queda nas vendas de carros nos últimos anos no Brasil. “Fomos uma das únicas montadoras que não demitiram durante esse período de crise”, orgulha-se. E não poderia faltar uma curiosa história do fundador e atual presidente do Conselho, Carlos Alberto de Oliveira Andrade. Confira a seguir:
O senhor entrou na CAOA em 2014, como vice-presidente, e assumiu a presidência em dezembro de 2016. Como foi essa transição?
Ao ingressar na CAOA, pela primeira vez trabalhei com toda a cadeia de valor de uma montadora e isso foi fundamental para uma transição muito natural e tranquila. Além disso, a CAOA é uma empresa de tomada de decisão rápida, com um ambiente muito bom e um acionista bem participativo, o que torna as coisas mais fáceis.
Essa seria, então, a principal diferença de trabalhar na CAOA?
Numa multinacional, a cadeia de decisão é mais longa. O poder de decisão final sempre está mais distante, dependendo da origem da empresa. Estar no centro da decisão me dá mais tempo para olhar a parte de vendas e engenharia da montadora, por exemplo.
A CAOA Montadora faz 10 anos, um marco importante na indústria automobilística do Brasil. Que balanço o senhor faz desse período?
A CAOA é uma empresa muito sólida, bem estruturada e atua com excelentes marcas. Temos uma fábrica de primeira linha que produz veículos Premium: Tucson, ix35, New Tucson, todos eles com tecnologia embarcada, alta qualidade e grande aceitação no mercado. Produzimos também o comercial HR, líder de vendas há dez anos em seu segmento e estamos lançando agora o novo HD80. Para quem começou do zero e, como se diz em Anápolis, precisou “amassar o barro”, foi um sucesso.
Além dos produtos, o que mais o senhor destacaria?
As pessoas. Por exemplo, o nosso funcionário número 1, atual gerente de engenharia de processos. Com pouco mais de 30 anos, ele se formou, fez inglês e cresceu trabalhando conosco. Todos lá têm orgulho do lugar em que trabalham. Temos também um novo Centro de Pesquisa e Eficiência Energética, o mais moderno da América Latina em termos de tecnologia.
Qual a receita do sucesso desses dez anos, marcados por altos e baixos na indústria automobilística?
Primeiro, o foco no consumidor. Estamos em segundo lugar nos dois estudos da JD Power [índice de satisfação geral com serviços de pós-venda na concessionária e índice de satisfação do comprador] e sempre na briga pela liderança. Além disso, é preciso ter a coragem de, mesmo na crise, manter os investimentos, de forma consciente, principalmente em treinamento e infraestrutura. E a CAOA consegue preservar todos esses pontos devido à robustez da empresa.
Qual é a visão para os próximos 10 anos do grupo CAOA?
Precisamos ter duas visões. Uma de montadora e outra do processo de comercialização do futuro. A indústria automotiva está mudando, com empresas fora do setor como Apple e Google fazendo carros autônomos e uma geração que não vê o carro como objeto de desejo, mas de locomoção. O jeito que se vende carro vai mudar nos próximos dez anos – hoje a procura já é maior na internet do que nas lojas físicas. E os serviços serão o ponto fundamental para fidelização aos produtos – felizmente, nós tivemos um desenvolvimento muito grande nessa área. Em termos de negócio, o desafio é levar a empresa para um novo patamar e, para isso, precisaremos crescer mais do que a média da indústria.
Como é a relação com a Hyundai? Temos aqui um cenário único no mundo, com uma subsidiária e um distribuidor local operando ao mesmo tempo.
Temos uma excelente parceria com a Hyundai e uma relação de complementaridade. A Hyundai foca um segmento de maior volume e nós complementamos a produção com carros Premium e também com a importação, fazendo com que a marca tenha um dos melhores portfólios da indústria no Brasil. Também comercializamos a linha HB20 e o SUV Creta. Nossa meta é continuar crescendo em conjunto com a Hyundai, ampliando os volumes de produtos e investimentos no Brasil.
Como foi a negociação para produzir o New Tucson?
Nós visualizamos a necessidade de trazer um carro com tecnologia elevada para uma certa faixa de mercado e mostramos para a Hyundai. Basicamente foi uma decisão de mercado, seguida por definições como o que seria trazido da Coreia, o que seria nacionalizado, com acompanhamento do que é desenvolvido pela nossa engenharia.
E a versão anterior da Tucson, continua firme e forte?
Essa velha senhora é um ícone. Um carro robusto, confortável, com bom espaço interno. O modelo possui a melhor relação custo/benefício do segmento em que atua e continua em produção porque muita gente ainda o quer e nós não deixaremos esses consumidores na mão. Ele não tem data para acabar – e, quando isso acontecer, vai deixar saudades.
Existe a possibilidade de a CAOA produzir veículos de outras marcas?
Com toda a tecnologia e os investimentos que a fábrica recebeu, podemos sim. Mas não buscamos ninguém pois estamos focados na produção de veículos da Hyundai. Nossos esforços estão concentrados na parceria e crescimento da marca no país.
Qual é o envolvimento do Carlos atualmente na empresa?
O Carlos é uma pessoa muito ativa, que tem muita experiência. Além de ter planejado a empresa como um todo, ele tem inteligência e senso de negócio privilegiados. Ele participa intensamente dos negócios, vem à empresa uma vez por semana – e nós gostaríamos que viesse mais vezes. Procuramos tê-lo sempre próximo. No decorrer desses 38 anos de CAOA, ele acumulou muitas histórias que mostram bem o valor que ele dá ao consumidor.
Conte uma dessas histórias, por favor…
Uma sui generis é de quando uma pessoa chegou à loja dizendo que conhecia o “Doutor Carlos” [o fundador da empresa é cirurgião gástrico e, por isso, conhecido na empresa como “doutor”] e que se o carro não fosse vendido por determinado preço, ligaria para ele… A questão é que ele, sem saber, estava falando com o próprio Carlos! Em vez de ficar bravo ou coisa parecida, o doutor disse: “Não precisa, eu mesmo ligo”. Saiu, voltou minutos depois e disse: “O Carlos disse que é para fazer esse preço para o senhor e lhe mandou um grande abraço”. E fechou negócio. Afinal, o importante é deixar o cliente satisfeito.