Carta ao Leitor: Corrida contra o tempo
Há tempo ainda para vencer os desafios da organização da COP30 e garantir a entrega desse precioso legado aos moradores de Belém

Desde seu retorno ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva já realizou mais de quarenta viagens internacionais, dentro de uma estratégia definida por ele da seguinte forma: “Devolver o Brasil ao mundo”. Um dos pilares desse plano é tornar o país uma potência verde e liderar globalmente as discussões sobre o futuro do planeta. Passados quase três anos de seu atual mandato, o presidente terá uma grande oportunidade para conferir quanto esse esforço resultou em ganhos efetivos. O palco para o importante teste será a Conferência do Clima de 2025, a ser realizada entre 10 e 21 de novembro em Belém, no Pará.
No discurso inaugural da Assembleia da ONU, na terça-feira 23, em Nova York, o petista repetiu que a COP30 será a “COP da verdade”, referindo-se à urgência em fazer com que das reuniões do evento brotem compromissos efetivos para desacelerar a marcha de destruição ambiental. Para o Brasil, em boa medida, será também a “COP da verdade”. A capacidade de colocar em pé a tempo toda a infraestrutura necessária para a realização de uma conferência desse porte na região da Amazônia será testada na prática diante de toda a comunidade internacional, assim como o poder diplomático de garantir a presença no evento dos atores mais relevantes. Por fim, a autoridade do país relacionada ao tema será inevitavelmente comparada ao que vem conseguindo efetivamente na preservação de seus próprios biomas e aos avanços obtidos até aqui na transição energética.
Não faltaram investimentos para a realização da cúpula em Belém. Serão 7 bilhões de reais gastos, entre aportes dos governos federal e estadual e da iniciativa privada. A menos de dois meses do evento, obras importantes já estão quase prontas, como as das melhorias e da ampliação do aeroporto de Belém. Ocorre agora uma corrida contra o tempo para preparar o principal espaço da conferência, o Parque da Cidade, orçado em quase 1 bilhão de reais. Segue em aberto também uma solução definitiva para os problemas da alta de preços das hospedagens e da garantia da presença das 198 delegações aguardadas (até agora, apenas 79 confirmaram comparecimento).
Superados esses problemas, espera-se que, ao final de tudo, a COP30 represente realmente um marco para o desenvolvimento de Belém. Estão prometidos a modernização do sistema de trens metropolitanos, a conexão de mais de 500 000 pessoas à rede de esgoto na cidade e projetos de macrodrenagem de bacias hidrográficas e canais, gerando menor risco de alagamentos e inundações. Há tempo ainda para vencer os desafios restantes da organização e garantir a entrega desse precioso legado aos moradores da capital paraense.
Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2025, edição nº 2963